terça-feira, 19 de maio de 2015

MOVIMENTO DE IGREJAS EM CÉLULAS – MODELOS DE CRESCIMENTO DE IGREJAS OU PRAGMATISMO HUMANISTA

Por

Rev. João d'Eça

Tenho acompanhado o movimento de crescimento de igreja desde o ano de 1995 e participei de muitos congressos e encontros de várias vertentes desse movimento: Igreja em Células, Rede Ministerial, MCI, etc.

Nesse artigo pretendo mostrar algumas incoerências do movimento de crescimento de igreja ou movimento de igreja em célula, que no fim são os dois a mesma coisa, seja em que modelo for: dos 12, dos 10, dos 5, etc....

Já li praticamente todos os manuais de estratégias do movimento de crescimento de igrejas produzido nos últimos 30 anos, principalmente os de Cominskey e Neighbour, e uma coisa em comum que encontrei em todos eles, é que não há nenhuma fundamentação bíblica para as suas alegações. No máximo usam o texto de Atos 2.46 e 5.42 e nada mais. Aliás os proponentes do movimento igreja em células são declaradamente contra as doutrinas estabelecidas. Eu, por exemplo, já ouvi de um pastor, que ele não mais ensina doutrina em sua igreja, por ser muito difícil e que ele administra a igreja como se fora uma empresa. Lembro de ter dito a ele uma frase que eu já ouvira e que não sei quem é o seu autor, que diz: “O Evangelho te põe no caminho, mas a doutrina te mantêm nele”.

O movimento de igreja em célula começou a tomar corpo com as publicações de Paul Young Cho e depois com as várias viagens de todo o mundo para a Coreia do Sul, para se ver em loco o trabalho da igreja de Cho. Multidões de pastores saíram do Brasil e fizeram essa viagem em grandes caravanas. Eu posso dizer com toda a certeza de que o movimento de células, crescimento de igrejas visando alcançar a “Mega-Igreja” ou modelo dos 12, 10, 5 etc, nada mais é do que um movimento secular de gerenciamento de empresas (igrejas), para fazer o negócio prosperar.

Figuras Carismáticas

          O movimento gira em torno de uma figura carismática, líder e iniciador da novidade na igreja local, que mais tarde rompe com a denominação ou com o líder que estaria acima dele e dai, parte com o seu séquito para montar a sua própria igreja, onde esse líder será o dono do “negócio” e se acercará de outros líderes no convencimento das pessoas, através de gerenciamento empresarial, seguido de definição de “Missão” e “Visão” e outras estratégias necessárias para fazer o negócio prosperar.

         O interessante disso tudo é quem começou o movimento no Brasil foi a Assembléia de Deus, trazendo as ideias do Colombiano César Castellanos e o seu movimento G12. Ele diz que recebeu de Deus uma “revelação” de que ele iria pastorear um rebanho tão grande quanto as estrelas do céu. As Assembléias de Deus não deram continuidade e outras igrejas passaram a adotar o sistema mundano de igreja em célula.

         Esse sistema secular e mundano destruiu a unidade da igreja evangélica brasileira que vinha experimentando um início de avivamento desde os anos 70 e que foi barrado por essa novidade no começo dos anos 80. O movimento dividiu inúmeras denominações e igrejas desligaram-se de denominações históricas por causa da megalomania de alguns pastores que viam nesse movimento, uma oportunidade de dominação e enriquecimento.

A característica do movimento igreja em célula

         Claramente está explícito nos escritos dos fundadores do movimento, que suas características são pentecostais. Assim como César Castellanos, Comiskey também diz que Deus começou a falar com ele e lhe disse que ele teria também de começar o movimento “celular” em seu ministério.[1] A maioria dos líderes do movimento igreja em células, ou são pentecostais ou simpatizantes.

Habilidade Humana e pragmatismo

         O movimento de igreja em célula, ou “celular” está centrado na dicotomia “sucesso” e ou “fracasso”. Na mentalidade dos seus líderes, a habilidade humana de conduzir o processo é que vai definir o sucesso ou o fracasso naquela igreja local, ou seja, não depende da ação de Deus e do Seu Santo Espírito, mas da competência para o “sucesso” ou inabilidade do condutor para o “fracasso”.

         Pragmatismo pode ser definido como “fazer dar certo”, ou seja, usa-se determinada estratégia, geralmente inventada num outro contexto e trabalha-se para obter-se os resultados pré-definidos a serem alcançados, não importa como (os fins justificam os meios). Eles determinam o tempo de frutificação das pregações e ai estabelecem uma data para a multiplicação, fechamento ou reestruturação da célula.

Os líderes do movimento dizem que por experiência própria eles entenderam que o prazo de seis meses é o tempo para a célula estagnar, porque é nesse tempo que as pessoas conseguem se tolerar e é ai que o “pequeno grupo” deve se multiplicar (com 12, 10, 5 ou de outra forma), ou deve se reestruturar.[2] Com isso fica claro que o movimento de célula não passa de um método humano. Como bem disse Paul Washer: “São pessoas mundanas, pregando um evangelho mundano, para atrair outras pessoas mundanas”.

O Encontro foi “Tremendo”

         No início do movimento criaram uma estratégia de “encontros” de três dias onde usava-se técnicas psicológicas e até “terapia da regressão”, nos piores moldes espíritas, para fazer as pessoas confessarem os seus pecados ou a voltar muitas vezes até o ventre materno, para descobrir qual a razão do “fracasso” na vida espiritual. Paul Young Cho enviava os líderes de células que fracassavam, para um retiro na “Montanha de Oração”, para jejuar e orar em busca do sucesso, e os que obtinham esse “sucesso”, eram elogiados em público para servirem de exemplo.[3]

         A estratégia do encontro ainda continua na maioria das igrejas que adotaram o movimento, algumas com outros nomes, estrategicamente mudados para estarem de acordo com as pretensões de seus líderes. Na maioria das vezes, esses encontros começam numa sexta-feira e termina no domingo pela manhã, onde os “líderes” trazem os seus “discípulos” para o batismo. E há a competição entre os líderes para ver quem conseguiu mais “discípulos”. Já vi muitos jovens de outras igrejas serem levados por parentes ou amigos e de forma constrangedora, serem levados a esses batismos e nunca mais voltaram a essas igrejas novamente, mas fizeram parte da estatística dos líderes.

         Para os líderes do movimento de igreja em células, conversão e salvação são resultados de habilidades humanas e não da visitação especial de Deus. Para eles, os discipuladores precisam adaptar pessoas vindas do paganismo ao estilo de vida cristã através das estratégias e dos métodos por eles aplicados. Os livros publicados pelo movimento trazem centenas de estratégias de como multiplicar as células ou de como produzir “crentes” em série. Na Escritura Sagrada, conversão e salvação são obra da visitação especial de Deus. Não existe ninguém recebendo elogios pelos meses que passaram para “produzir” um novo crente. Na Bíblia essa tarefa é de Deus e do Seu Espírito Santo. “... Não é por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos” (Zacarias 4.6).

         Nas Sagradas Escrituras, a mensagem do Evangelho nunca foi camuflada na intenção de atrair pessoas e os apóstolos nunca montaram estratégias de fazer amizades para tentar atrair pecadores pela simpatia. O Evangelho sempre foi o Poder de Deus e sempre foi pregado não importando se iria ou não ofender o pecador. Jesus disse aos seus discípulos:

Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.[4]


Não havia “quebra-gelo” no tempo dos apóstolos, as pessoas não eram convencidas dos seus pecados por fazer “terapia de regressão”. Eles não obedeciam o Evangelho porque as suas necessidades haviam sido supridas, inclusive Jesus repreendeu os que assim faziam: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para avida eterna, a qual o filho do homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo”. (João 6.27). O Evangelho pregado por Jesus, por João Batista e pelos apóstolos, era ofensivo e chamava os pecadores ao arrependimento. A Nicodemos Jesus disse: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3.3).

A sobrevivência do movimento “celular”

         O movimento celular sobrevive por meio de suas estratégias humanistas, sem nenhuma ênfase nas Escrituras Sagradas. A Bíblia para o movimento está mais para um “manual de auto-ajuda”, do que Palavra de Deus. É certo que nunca poderíamos esperar que uma estratégia humanista viesse a enfatizar as Escrituras. Eles desprezam a Escola Dominical, desprezam o Dia do Senhor e desprezam todos os valores herdados da Reforma Protestante do século XVI. Eles dizem que doutrina e evangelização são duas coisas diferentes, devem permanecer separadas e uma não precisa da outra. O que vale é o pragmatismo. Isso é o resultado de um movimento que não nasceu das Escrituras. O “encontro” de células é um encontro puramente humano com uma roupagem de reunião em torno da Bíblia.



         No próximo post, vamos provar que a Bíblia não é central no encontro de célula do movimento “celular” humanista.




[1][1] Comiskey. Cresimento Explosivo. p. 12.
[2] NEIGHBOUR, Ralph. Manual do Líder de Célula, p. 113
[3] COMISKEY. Crescimento Explosivo. pgs. 25 e 97
[4] Mateus 10. 34-36

Um comentário:

Unknown disse...

Gost i muito do texto, esclarecedor.
Concordo pois a obra de Deus não é uma franquia onde se buscam alcançar metas a qualquer custo.
Que o Senhor o abençoe

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