quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

CONFIRA OS DETALHES DA ENTREVISTA COM SUZANE VON RICHTHOFEN FEITA POR GUGU LIBERATO.


Entrevista feita por Gugu Liberato

 Após quase dez anos sem falar com a imprensa, Suzane Von Richthofen quebrou o silêncio durante o “Programa do Gugu”, da Record, na noite da quarta-feira (25).
A mulher, atualmente com 31 anos, abriu o jogo sobre o crime que confessou ter cometido - ela matou seus pais, Manfred e Marizia, em outubro de 2002, com a ajuda do namorado, Daniel Cravinhos e o irmão dele, Cristian.

Questionada sobre o que aconteceu no dia que os pais foram executados, Suzane disse: "Foi o dia que marcou a minha vida de um jeito que nada mais vai ser igual. Eu perdi minha mãe, meu pai, amigos, irmão. Aquela vida que eu tinha, sonhos... Eu perdi tudo. Depois que eu fui presa, a minha realidade é completamente diferente”.
Pela primeira vez, Suzane confessou publicamente ter planejado o crime e contou que ela e Daniel foram os grandes responsáveis pela ação.

"Muita gente me pergunta: 'A ideia foi sua?'. Todos dizem que eu sou a mentora, a cabeça de tudo? Não é verdade. Uma cabeça só não pensa em tudo. É uma junção de tudo, concorrência de ideias. Eu fiz parte, mas os três bolaram aquilo. Eu acho que o Cristian sabia menos da situação, mas infelizmente tanto o Daniel quanto eu temos culpa nessa parte. Isso é uma coisa que não tem como esquecer, não fazer parte. Faz parte da minha vida, da minha história e eu me arrependo. Como eu queria que tudo tivesse sido diferente, que eu não tivesse conhecido ele, namorado. Que eu pulasse essa parte e chegasse aos 18 de outra forma", lamentou.



Encarcerada, ela ainda falou sobre como foi amadurecer nos últimos anos: "Às vezes nem eu acredito que tenho 31 anos. Eu fui presa tinha acabado de fazer 19. Às vezes olho no espelho e nem acredito. Amadureci, aprendi muita coisa nesses anos, não é fácil estar presa e ainda mais quando não tem mais a família”.

Confira, a seguir, detalhes da entrevista de Suzane, em que ela fala sobre planos para o futuro, o casamento na prisão com Sandra, o que diria aos pais se os encontrasse atualmente e mais.

Em uma sala na penitenciária de Tremembé, em São Paulo, Suzane falou sobre o que diria aos pais atualmente se os encontrasse vivos.

"Perdão. Vocês sempre tiveram razão, quando a minha mãe me dizia que ele [Daniel Cravinhos] ia me levar para o buraco, eu não acreditava. Você tinha razão, me perdoa eu achava que sabia tudo e eu não sabia nada. Ela sempre esteve certa. Iria pedir que me perdoassem, abraçá-los, eles fazem falta, é muito difícil viver sabendo que não tenho essa parte por minha própria culpa, não é culpa de ninguém, é minha culpa."


Suzane, que estava inconsolável no dia do enterro dos pais, contou o que sentiu no dia: "Eu não conseguia pensar em nada, no depois. Eu acho que era inconsequente. Sabe quando você não acredita no que está acontecendo? Que parece que não é com você? Quando você vive uma coisa mas não está vivendo de verdade? Talvez um estado de choque. Ei, é minha vida, minha mãe meu pai, sou eu que estou aqui. Um turbilhão dentro de mim".



O relacionamento com Daniel Cravinho começou quando Suzane tinha 15 anos. Segundo a prisioneira, foi a mãe que os apresentou.

"Foi no parque do Ibirapuera. Ele fazia aeromodelismo lá e meu irmão ganhou um de presente. Minha mãe o levou para aprender com o Daniel, que era instrutor. Um dos melhores. Ele se prontificou a ensinar o meu irmão e minha mãe o levava. E eu não queria ir. E minha mãe pedia para eu ir fazer companhia. "Ele tem um amigo que chama Daniel," ela dizia. E eu fui para fazer companhia ao meu irmão. E eu conheci o Daniel. Fomos nos aproximando e começamos a namorar. Tinha acabado de completar 15 anos."

Gugu perguntou se a tragédia começou no dia que ela conheceu Daniel, e Suzane concordou.

"Minha mãe não gostava dele. No começo, sim, como amigo, instrutor, mas não como meu namorado, não como alguém para fazer parte da minha vida. Quando o relacionamento começou a ficar sério, ela passou a conhecê-lo. Quem era o Daniel, a vida dele em si. E ela passou a não gostar mais. Começou a cortar o relacionamento. Eu namorava escondido com ele”, começou a explicar.

E continuou: ”Minha casa era toda certinha, hora de almoçar, jantar, dormir, todo mundo junto, só podia sair sexta e sábado. Tudo certinho, toda regrada e ele me apresentou uma vida completamente diferente, não tinha hora para chegar, sair. Uma vida do 'tudo pode'. Que vida boa, pode tudo... qualquer coisa, livre, leve e solto. De repente conheci uma vida que era livre. Ao lado dele, me sentia livre”.

"Mas era mentira. Eu não era livre. E hoje eu sei que tenho que ter responsabilidade de acordo com a liberdade. Não queria saber das consequências. Queria viver com a liberdade”, completou.

No ano passado, Suzane recusou a herança de R$ 10 milhões dos pais e acabou deixando-a para o irmão mais novo.

"Não existe mais briga na justiça por herança, é toda dele. Não falo com ele. Até hoje não consegui nenhum contato”, contou.

"Não tenho ideia do valor disso. Esse dinheiro nunca foi meu, nunca tive direito. É dos meus pais e, agora, é do meu irmão. Não sei e não quero saber. Não sei de nada, nenhum conhecimento."


Suzane não vê o irmão desde 2006, quando aconteceu seu último julgamento.
"Há um tempo ele entrou em contato por telefone, com o advogado na época, e manifestou interesse de vir aqui. Agora não sei até que ponto é isso ou não é. Em relação a ele, Deus sabe do meu coração, o bem que desejo a ele”, revelou.

E contou sobre a conversa que teve com o irmão: ”Eu pedi perdão para ele. Eu contei tudo para ele, tudo o que tinha acontecido e sabe o que ele me falou? "Su, eu perdi meu pai, minha mãe, meu melhor amigo - porque ele tinha o Daniel como melhor amigo. Eu não quero perder minha irmã. Eu te perdoo, vou ficar com você".

Ainda sobre o irmão, Suzane relembrou: "Eu sei que o meu irmão sofreu para caramba. A única coisa que eu sei é que ele dá aula em uma universidade. Se aqui dentro eu sofri, imagina ele lá fora. Quando o nome é reconhecido. Eu sei que causei muito mal e queria que ele pudesse me perdoar e estar presente".

Gugu pediu que Suzane deixasse um recado ao irmão: "Eu te amo. Deus sabe o quanto eu te amo".

E completou: "Eu quero uma reaproximação, reconciliação. É um sonho estar de novo com meu irmão. Ele faz falta, sinto saudades. Mas eu não sei como ele é hoje, nem fisicamente. Quando o vi era um adolescente, ele tinha 15 anos e hoje tem 27. Ele já é um homem".


Em setembro de 2014, Suzane casou-se com Sandra Regina Gomes (foto), condenada a 27 anos de prisão pelo sequestro e morte de um adolescente em Mogi das Cruzes, São Paulo. O relacionamento também é apontado como motivo para o pedido de permanência no regime fechado.

Meses antes, no começo do ano passado, Sanda havia se casado com Elize Matsunaga, 32, presa pela morte e esquartejamento do marido e executivo da Yoki, Marcos Kitano Matsunaga, crime que também teve grande repercussão na imprensa.
Suzane contou ainda que sonha com a mãe.

"Sonho com minha mãe bastante. Mais com ela do que com o meu pai. Em lugares de campo, num sítio, no mato. Lugares tranquilos, ela sempre presente. Era como se ela estivesse me protegendo do meu lado, mas nunca falou (no sonho)", contou.

Considerada atraente, Suzane contou que há cinco anos um promotor de Justiça a chamou em seu escritório no Ministério Público e fez declarações de amor a ela.

"Ele disse que conheceu uma menina com a qual sonhava; e na vez seguinte, disse que eu era esta menina".

Após denúncia de Suzane, o promotor foi punido pelo Ministério Público por comportamento inadequado - ele nega o suposto assédio.

"Se eu falar que não estou sofrendo, estou mentindo, não é fácil estar aqui. Mas quero ter a chance de recomeçar. A Justiça me deu uma sentença e eu vou cumprir. Mas eu quero ter a chance de voltar a trabalhar”, lamentou Suzane.

"Ganho salário de R$ 600 e pouco. O dinheiro não vem para a minha mão. Materiais de higiene, necessidades, algumas coisas de comer, chocolate. Vem uma folha com todos os itens, o dinheiro vai pra um fundo e eu posso comprar as coisas par me manter aqui. Que não tem pelo sistema”, contou.

E continuou: "E nunca tinha trabalhado na minha vida e, na cadeia, aprendi a trabalhar. Eu nunca tive salário. E agora tenho responsabilidade com esse dinheiro. E com esse dinheiro tenho que me manter e guardar algo, porque eu não sei como vai ser o amanhã”.

Mesmo condenada a 39 anos de prisão, Suzane confessou que ainda tem sonhos.
"Acho que são mais sonhos do que planos, porque estou em regime fechado e tem todo um tramite para eu ir embora, mas tenho vontade de trabalhar, voltar a estudar, tenho sonhos sim, planos. Fazia faculdade de direito mas agora eu faria administração.”
"Na cadeia, aprendi a costurar, então eu tenho vontade de colocar isso em prática lá fora”, concluiu.


 Entrevista dada à Gugu Liberato - TV RECORD


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

NOVO "CANUDOS"

Em 1913, um artigo do renomado Natanael Cortez, foi publicado no jornal Norte Evangélico e depois reproduzido em 12 de fevereiro de 1914 em O Estandarte. 

Nesse artigo, Natanael Cortez, que foi presidente do Supremo Concílio da IPB (1946) e que conheceu o famigerado padre Cícero e que inclusive almoçou com ele na sua casa, conforme conta em seu livro Os dois Tributos (1965), e que conta o encontro à pag. 109.

No seu artigo, Natanael Cortez, menciona a obra de um padre, intitulada Juazeiro do Cariri, do padre Alencar Peixoto, em que mostra a crueldade, a maldade, do criminoso do nordeste, o padre Cícero, que deu a patente de Capitão ao assassino Lampião e que até hoje não é reconhecido pelo Vaticano como "santo", inclusive está excomungado.

Para uma legião de miseráveis de pelo menos 7 dos nove estados do nordeste, ficando de fora somente o Maranhão e o Piauí, o padre Cícero é um santo, e mesmo a igreja romana o excomungando, engana o povo e lucra milhares de Reais por ano com a sua festa no Juazeiro do Norte - CE.

Eis o artigo de Natanael Cortez:

NOVO CANUDOS

         Vai se realizando, a pretexto de política, o que era esperado havia muito no Ceará. Disse vezes diversas e ouvira outrem: O padre Cícero pretende imortalizar o seu nome no mesmo gênero de coisas que Antônio Conselheiro. Há mais de vinte anos que o astuto inaciano do Juazeiro prepara-se a fim de levar a efeito o seu ideal.

         Abalou as massas incultas e por isso mesmo de pendor acentuado às crendices e embustes grotescos, dos sertões baianos, alagoanos, rio-grandenses, pernambucanos, paraibanos e cearenses, ilaqueando a boa fé de todos com supostos e falsos milagres por si e pela demoníaca Maria de Araújo praticados.

         Acumulou grande fortuna, porque quem o procurava tinha de lhe oferecer a melhor parte de seus haveres, afim de ouvir um bem-vindo dos seus lábios enganadores de velho Jesuíta.

         O Juazeiro fez-se uma das cidades mais populosas das mais retrógradas do Ceará. Mais de vinte mil ignorantes, miseráveis e cegos são seus habitantes.

         Para ter-se uma “vaga ideia da realidade apontada em suas feições essenciais” referente ao antro do padre Cícero Romão Batista, basta ler o Juazeiro do Cariri, obra que ora sai à luz da publicidade, escrita por um que como o aludido caudilho, enverga a sotaina: o padre Alencar Peixoto.

Eis um trecho do apontado livro:

       “O padre Cícero, arvorado em capitão de infames, de bandidos e celerados, que lá os vi e lá os deixei, armados dos pés à cabeça, e pervertendo, e furtando, e roubando, e afinfando, e espancando, e esfolando, e assassinando, e matando, como um tal José Pinheiro, de senia com outros de sua catadura, em plenas ruas do povoado, e sem a menor repressão por parte das autoridades; o padre Cícero, arvorado em capitão de infames, de bandidos e celerados, iniciara o movimento (anormal) e dera à audácia nunca imaginadas proporções.
       As vítimas que fugiram aos vândalos que saquearam e devastaram a Aurora (então uma das vilas mais florescentes deste Estado) e que lhes levaram a morte pendente de quatrocentas forças de rifle, e porque clamavam umas, e, direito que lhes assistia, protestaram outras com a maior das violências que já se viu no foro do Cariri – a da demarcação, à força de armas, de área coxá, onde se acham encravadas as tais minas de cobre que tão somente para si ambiciona aquele padre; elas, as pobres vítimas indefesas, que o contem, que o digam, que não eu.”

- Tão grandes exemplos de maldade e banditismo, vindos de tão alto, de um anjo e mensageiro da paz como assim chamavam ao velho padre, não podiam deixar de, pela força de sua reflexão, influir, pois, desgraçadamente, nos destinos daquele povo.

         Enquanto as forças competentes dormiam o sono letárgico e maldito do indiferentismo, sorrateiramente o aludido fascinador construía uma fortaleza a que denominava de igreja, abria subterrâneos, arranjava trincheiras e por via diferentes se premunia de todo o material bélico, necessário à campanha dos anelos.

         O governo do Estado, longe de tomar as medidas necessárias para debelar o embusteiro, julgou indispensável a sua influência na política estadual e fez-se o padre Cícero terceiro vice-presidente do Ceará: estava conquistada a simpatia não só da plebe, senão também de vultos políticos a quem é justo regatear mérito.

         Ultimamente os ventos políticos tem se convertido em furacões raivosos e convulsivos da energia humana: era bastante asado o momento: o padre pôs nas mãos dos seus beatos o rifle e ameaça de deposição o atual governo deste Estado.
        
         É calamitosíssima a situação em que se acha a decantada terra de Iracema. A 12 do corrente mês seguiu com destino ao Juazeiro todo0 o batalhão militar.
                 
         Já tinham seguido oitenta praças a unir-se a duzentas que destacavam no Crato. Mais trezentos voluntários já seguiram e disciplina-se um novo batalhão patriótico de quatrocentos homens. Imenso terror assalta a família cearense. É mesmo um novo Canudos!

         Que Deus olhe para este estado de coisas, sejam as ferventes preces dos fieis crentes em jesus, que lerem estes rabiscos.

         Fortaleza, 17 de dezembro de 1913.

         Natanael Cortez

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