24 de setembro de 1903
Prologômenos
Há
exatos, 110 anos, nascia em São Luís, a Igreja presbiteriana Independente,
dissidência da Igreja presbiteriana do Brasil, que, em 31 de julho de 1903,
numa reunião conturbada na cidade de São Paulo, mas precisamente no templo da
Igreja Presbiteriana Unida, os partidários do Rev. Eduardo Carlos Pereira, que
juntamente com seis outros pastores e com 12 presbíteros saíram da reunião
dizendo palavras de ordem e o lema: “Pela Coroa Real do Salvador”, que veio a
ser o lema do jornal O Estandarte, à
partir dessa data.
Em
São Luís, os acontecimentos tiveram lugar no templo da Igreja Presbiteriana de
São Luís quando era pastor da mesma o Rev. Belmiro de Araújo César e tinha como
presbíteros dessa igreja, os seguintes irmãos:
José Maria de
Lima,
Felix Emiliano do Nascimento Abreu e Sólon
Protásio Coelho de Sousa, que era o secretário do conselho da igreja.
Os fatos
As
notícias da divisão nacional ocorrida na cidade de São Paulo em 31 de julho de
1903 espalharam-se em todo o país rapidamente através do jornal O Estandarte, que circulava semanalmente
e tinha como editor chefe o Rev. Eduardo Carlos Pereira.
Toda
questão que acabou gerando a divisão da igreja, tinha com o pano de fundo a
Escola Americana, futuro Mackenzie. Os missionários queriam uma escola mista, que
educasse os filhos dos crentes e pessoas da sociedade paulistana. Os pastores
nacionais, partidários do Rev. Eduardo Carlos Pereira, queriam uma escola que
se preocupasse em ensinar somente os crentes. Houve também divergências quanto
ao local de instalação de um seminário para educação teológica e formação dos futuros
ministros para servir a igreja.
A divisão
Como
os pastores nacionais, partidários do Rev. Eduardo Carlos Pereira, perceberam,
que não iriam vencer a luta, encontraram na questão maçônica aquilo que eles
mesmos denominaram de “pulo do gato”, ou seja, usaram a questão maçônica para
promover a divisão, o que de fato aconteceu naquele 31 de julho de 1903, há 110
anos atrás.
O que São Luís
tinha a ver com isso?
A
resposta para essa pergunta é que não tinha absolutamente nada a ver. Os
presbíteros da igreja maranhense não conheciam os protagonistas de São Paulo,
não havia maçons na igreja de São Luís (pelo menos não há notícia de que tenha
havido um movimento maçônico na igreja), e eles foram convencidos pelas
notícias dos jornais que circulavam na época.
Os antecedentes
da divisão em São Luís
Munidos
das notícias que lhes chegavam às mãos, principalmente pelo O Estandarte, os presbíteros Lima, Felix
e Solon, reuniram-se sem a presença do pastor Belmiro Cesar, e planejaram os
próximos passos. Depois de planejarem sozinhos, eles resolveram conversar com o
pastor e exigir que ele tomasse uma posição quanto a uma “Pastoral” publicada
em O Estandarte e pressionaram o
pastor para que fizesse a igreja tomar conhecimento da referida “pastoral”. O
presbítero Lima bateu de frente com o pastor Belmiro e este o ameaçou de
disciplina por estar querendo promover a discórdia. Depois desse momento os ânimos
se acirraram e os presbíteros se fecharam na ideia de levar o caso ao
conhecimento da igreja.
Numa
reunião marcada para o dia 24 de setembro de 1903, presidida pelo Rev. Belmiro
de Araújo César, os presbíteros acusaram o pastor de não querer informar a
igreja sobre os acontecimentos de São Paulo e de estar ele querendo protelar a
decisão sobre se ficava ao lado dos independentes ou se permanecia fiel aos
sinodais, que segundo eles, eram partidários da maçonaria.
De
forma lúcida e prudente, o Rev. Belmiro César resolveu aguardar os
acontecimentos e esperar uma resposta oficial do Sínodo do Brasil e do
Presbitério de Pernambuco sobre o assunto e propôs esperar-se até o mês de
janeiro de 1904 para se posicionar.
Essa
proposta não foi aceita pelos três presbíteros insurgentes, que levaram a
igreja a apoiá-los e a votar uma proposta de adesão aos Independentes de São
Paulo. Posta a votos a proposta, mesmo com a contrariedade do pastor que pedia
que se esperasse mais um pouco. Os presbíteros se insurgiram contra o pastor e
praticamente o depuseram de seu cargo. 15 membros, mais o Rev. Belmiro se
abstiveram de votar e 28 membros ficaram ao lado dos insurgentes, que após a
votação, assumiram a cadeira do presidente, sentando-se na mesma o presb. José
Lima, que declarou que à partir daquela data, 24 de setembro de 1903, a igreja presbiteriana do Maranhão,
passaria agora a ser denominada Igreja Presbiteriana Independente do Maranhão.
A questão do
Templo
O
Rev. Belmiro César, deixou a cadeira de presidente e perguntou com quem ficaria
o templo? Obtendo a resposta do presb. Lima, de que, se a igreja, por maioria
de votos, decidiu aderir ao movimento de independência à partir daquela data, o
patrimônio seria deles. O pastor Belmiro disse então que o templo estava em
nome do Rev. Dr. George Butler e de sua esposa D. Hena, recebendo como resposta
do presbítero Lima, de que ele tinha o Dr. Butler em alta conta, querendo dizer
com isso, que ele não se oporia a eles.
Depois
desses episódios, o Rev. Belmiro César com o grupo que se absteve na votação de
24 de setembro, resolveram realizar os cultos na residência do próprio pastor e
comunicaram a situação ao Dr. Butler que estava na cidade de Canhotinho, PE. O
Dr. Butler enviou correspondência aos insurgentes, dizendo-lhes que eles
deveriam devolver a chave do templo para o Rev. Belmiro realizar ali os cultos
da igreja, e que o patrimônio da igreja presbiteriana de São Luís pertencia ao
Sinodo do Brasil e que, portanto, eles deveriam deixar as dependências do
templo e procurar um local para se reunir.
Eles
devolveram, então, a chave ao Rev. Belmiro e foram se reunir na residência do presbítero
José Lima até que adquiriram um terreno à rua Grande onde começaram a construir
um templo para a realização dos cultos.
Rev. Vicente
Themudo Lessa
Em
1907 o Rev. Vicente Themudo Lessa veio para São Luís para pastorear a Igreja
Presbiteriana Independente e ficou no seu pastoreio efetivo até 1912. Sua área
de atuação era a parte norte do Brasil, indo do Maranhão até o estado do
Amazonas. Trabalhou também na cidade de Belém – PA e no interior do Maranhão,
nas cidades de São Vicente de Ferrer, Viana e São Bento.
Aqui
em São Luís nasceram dois dos seus filhos e a sua primeira esposa morreu e foi enterrada.
O Rev. Themudo Lessa teve na cidade de São Luís um ministério abençoado e a sua
última visita à cidade ocorreu em 1939, depois da qual ele faleceu na cidade de
São Paulo, em novembro daquele ano.
Fontes:
d'EÇA. João. História da Igreja Presbiteriana do Maranhão. São Luís. 2012.
_____ Livro de Atas da Assembléia Extraordinária da Igreja Presbiteriana de São Luís, 1903 - 1931.