segunda-feira, 31 de março de 2014

SERMÃO MONÓLOGO - UMA FERRAMENTA DE PREGAÇÃO.

Postado inicialmente em 1º de setembro de 2006.

Dentre as várias formas de sermão, existe um tipo, não muito usado, mas que se aproveitado da forma adequada, pode ser muito instrutivo e esclarecedor, é o Sermão Monólogo, onde o pregador, como um ator de teatro, representa através de um monólogo um texto bíblico, geralmente relacionado à vida de um personagem bíblico.

O sermão monólogo abaixo, foi um trabalho que fiz para a matéria Homilética, do prof.: Jilton Morais, quando estava no mestrado em teologia no Seminário Batista Equatorial, na cidade de Belém-PA.

Postei-o inicialmente no dia 1º de setembro de 2006, e agora o reproduzo. Leia atentamente, esse método de pregação tem um grande poder de ajudar o pregador a memorizar e a conhecer a vida dos personagens.


A LUZ BRILHOU EM MINHA VIDA

Monólogo da Conversão de Saulo – Atos 9. 

By Rev. João d’Eça. 


Sai para executar uma missão que para mim era de suma importância: prender e trazer para Jerusalém, cristãos que estavam divulgando a mensagem que eu considerava heresia, a mensagem do rabino de Nazaré, que foi crucificado pelos líderes judeus sob a acusação mentirosa – hoje sei – de se levantar contra o império e ter cometido blasfêmia. Desde criança, mais ou menos aos treze anos, fui enviado por meu pai para estudar na cidade de Jerusalém, aos pés do grande mestre Gamaliel. Aliás eu fui instruído nos rigores da religião judaica, e sempre me orgulhei da minha raça, apesar de ser romano de nascimento. Sabia, no íntimo, que mais cedo ou mais tarde, o jugo romano passaria, assim como passaram os impérios que de um modo ou de outro escravizaram o meu povo. Sempre me interessei pelas genealogias, a minha em particular, descendia do primeiro rei de Israel, Saul, e isso me enchia de orgulho. 

Meu pai era um judeu da Dispersão e também era cidadão romano. Há cerca de uns duzentos anos atrás “era possível para alguns poucos judeus tornarem-se cidadãos romanos se, se arrolassem numa tribo determinada para eles, onde poderiam controlar os ritos religiosos e identifica-los com o serviço da sinagoga”[1] Desde bem cedo na minha vida, assim como os meus antepassados, minha mãe ensinou-me os primeiros passos na nossa tradição religiosa ( II Tm. 1:3 ). Ela era uma mulher maravilhosa, era também disciplinadora, correta e digna. O que eu aprendi das Escrituras Sagradas do meu povo, aprendi primeiramente em casa com a minha mãe ( II Tm. 1: 5 ). Ela ensinou-me a amar e respeitar a religião do meu povo, principalmente a tradição oral, que para o judeu é algo de valor inestimável. 

Eu, durante o tempo de minha ignorância, persegui e prendi muitos judeus cristãos. Eu tinha autorização dos principais sacerdotes e por isso, quando os matavam eu apoiava. Quando lembro que obriguei muitos a blasfemarem de Cristo e que castiguei a muitos outros, choro de vergonha. Quantos eu persegui até em cidades estranhas (Atos 26: 10,11). Não muito tempo atrás quando estava com mais ou menos trinta anos de idade, fui derrotado na Sinagoga pelo discurso de um jovem chamado Estevão, e isto muito me enfureceu. Quem era aquele homem para se desfazer assim da minha religião? Eu não admitia que ninguém questionasse a minha religião. Este jovem quando abria a boca, os seus discursos eram todos anti-farisaicos. Era demais para eu agüentar. Ele menosprezava o valor do templo, dizia que a Revelação de Deus não foi exclusiva para o nosso povo de Israel na pessoa de nosso Pai Abraão. Ele afirmou: “Varões, irmãos, e pais ouvi. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã” (At. 7:2 ). Quão louco eu fui. Quão cego eu andei por muito tempo em minha vida, até agora. Fui como um homem insaqno achando que estava certo. O Pior não é estarmos errados, mas sim, estarmos errados e acharmos que estamos certos. 

Durante muito tempo cometi essas barbaridades porque julguei-me certo no estava fazendo. Eu assolava a igreja e invadia as casas. Minha atividade perseguidora em Jerusalém só parou quando não havia mais ninguém para ser perseguido ali naquela cidade. Preparei um programa completo e definido de extermínio dos cristãos, estava quase conseguindo o meu intento, não fosse Deus intervir de forma espetacular em minha vida. Lá estava eu a caminho de Damasco, grande e histórica cidade, levava autorização dos principais sacerdotes para prender e trazer os cristãos que por lá encontrasse. Era meio dia, o sol estava brilhando intensamente, mas a luz que eu vi, em muito excedia o brilho do sol. Ouvi então uma voz que saia do meio da luz e dizia: - Saulo, Saulo, por que me persegues? Eu respondi então. - Quem és, Senhor? E a voz disse: - Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. Eu então indaguei: - O Senhor disse então: Senhor o que devo fazer? - Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que deves fazer. Os homens que iam comigo, não sei se ouviram a voz e não viram a luz, ou, se viram a luz e não ouviram a voz; só sei que todos caímos ao chão e eu em particular, fiquei cego e tive de ser conduzido até a cidade como uma pessoa inválida. Não conseguia entender. Como um homem cego estava sendo chamado para dar luz aos cegos? Eu fui preparado para ser rabino, meu professor Gamaliel, era diferente, ele deixava seus alunos estudarem as grandes obras dos gregos e eu fui também educado segundo a visão helênica dos filósofos. Agora sei como Moisés deve ter se sentido. Ele que foi educado na coorte egípcia, a maior civilização do seu tempo, aprendeu de tudo o que os egípcios sabiam de melhor: Astronomia, Matemática, Medicina, Engenharia, Arquitetura e várias outras ciências. Depois de aprender tudi isso por quarenta anos, Deus o envia para o deserto de Mídia para cuidar de ovelhas, para aprender humildade, para ouvir a voz de Deus. Eu fui escravo da letra que mata (II Cor. 3:6 ), e por esta razão, entendia que devia praticar males contra os servos de Jesus, mesmo entendendo que não eram males, mas zelo (At. 26 : 9 ). 

Penso que se eu tivesse me encontrado com Jesus antes, em Jerusalém, talvez tivesse me juntado aos principais sacerdotes para mata-lo, porque ele representava tudo o que eu repugnava. Ele se opunha a teologia do meu mestre Gamaliel, e, isto eu não admitia. Hoje eu posso concluir o seguinte: Se Cristo pôde salvar um homem como eu, ninguém mais deve se desesperar, Ele pode salvar a todos que ouvirem a sua voz e se renderem a Ele. É certo que muitos não passarão por experiências iguais as minhas, mas sei que como ele me chamou de forma espetacular, outros virão também da mesma forma. A maioria porém não precisará passar pelo que eu passei, bastando tão somente que se arrependam dos seus erros e pecados e ouçam o chamado de Deus. Refletindo no modo como eu vivia, reconheço que eu sou o menos digno de todos os homens, porque eu persegui a igreja de Deus, porém eu me consolo, por ter feito isso tudo no tempo da ignorância e na incredulidade. O mundo está diante de mim, terei de enfrenta-lo. Estou no momento carregando uma marca, um rótulo de perseguidor dos cristãos, de inimigo dos servos de Cristo, de inimigo de Deus. Pessoas irão pensar que se trata de uma estratégia minha e se afastarão de mim. Estou preparado para todo tipo de reação das pessoas, sei que muito vou sofrer, do mesmo modo como fiz muitos sofrerem. Não considero essa atitude como auto-punição, mas como uma situação pela qual terei de passar, e, só posso dizer que estou pronto. 

Por muito tempo considerei o cristianismo como falso, afinal eu nunca tive tempo de estuda-lo. Uma coisa era certa para mim, se o cristianismo se opunha ao farisaísmo, só podia ser falso. Hoje sei que a religião do Cristo é a verdade, que Jesus é a verdade, que este é o caminho; eu o encontrei; já estou trilhando por ele e tenho uma profunda esperança de que Deus irá me usar para levar salvação a muitos. Que gloriosa esperança! Um homem bom chamado Ananias, me acolheu em sua casa e cuidou de mim, informou-me acerca dos acontecimentos, confiou em mim por amor a Cristo, e, por fim fui curado. Eu voltei a ver e agora a minha visão é diferente. Já não vejo o mundo como antes, a luz tem um novo brilho, o canto dos pássaros tem um novo som, há paz no meu íntimo, tudo se fez novo para mim (II Cor. 5: 17). Como é bom ser acolhido na casa de um homem bom. Devo a minha vida a Ananias. Através da sua instrumentalidade fui cheio do Espírito Santo, recebi um novo vigor, fui batizado e passei a fazer parte como membro do corpo do Senhor. Já preguei em algumas Sinagogas e testemunhei, que, quem me salvou foi Jesus Cristo. Muitos admiraram-se, mas Deus fortalece-me a cada dia e tenho tido vitória. Não vou permanecer aqui, estou preparando-me para o serviço do Mestre. Já abdiquei de todo o meu passado, toda educação, toda instrução, os amigos, as influências, nada disso me valeu. Somente Jesus Cristo foi quem mudou a minha vuda. Se você se parece comigo, reflita agora e receba Cristo em sua vida como Salvador e Senhor e assim como eu, Ele mudará você. 

Amém. 


*Trabalho realizado por R.João M. d’Eça em cumprimento parcial da Disciplina “Variedade no Ministério da Pregação”, do prof. Jilton Moraes, do curso de Mestrado em Teologia do Seminário Teológico Batista Equatorial em Belém – PA.

 [1] ªT. Robertson, citando Ramsay em épocas na vida de Paulo, pg. 21.


sexta-feira, 14 de março de 2014

O CRENTE E MÚSICA SECULAR

By 

Rev. João d’Eça, MD


PARTE I



Introdução:
Crentes devem ouvir música secular? Esta é provavelmente uma das questões mais controversas que existe entre os cristãos. Entendo que a maneira correta de se tratar esse tema é fazendo-se uma abordagem bíblica e não uma análise pessoal ou cultural. A verdadeira questão não é sobre se você pode ou não ouvir música secular, mas sim o que deve orientar e direcionar o seu consumo de qualquer tipo de música.

Toda música tem um propósito, algumas são feitas exclusivamente para adoração, outras para vender (É a dita música comercial), outras para passar uma mensagem política (não necessariamente partidária), outras para divulgar ideologias e outras para mero entretenimento. A música tem o poder de alterar o humor de uma pessoa e pode ser um incentivo até mesmo para a prática de crimes ou para impedi-los.

A Bíblia nos mostra o rei Davi tocando a sua harpa e o humor do rei Saul sendo mudado e sua ira sendo aplacada ao ouvir o som do instrumento dedilhado pelo futuro rei de Israel. No entanto, o propósito primeiro de Davi, era usar a música para adorar a Deus. Vemos em muitos dos seus salmos, ele falando em adoração com o uso de instrumentos musicais de toda sorte, até mesmo adoração com aplausos e com danças.

LUTERO, PAULO E A MÚSICA

“Martinho Lutero foi, dentre os reformadores do seu tempo, o único a reconhecer o valor inestimável da Música e de recebê-la de braços abertos. Lutero pensou, trabalhou e utilizou a Música de modo singular na sua época, dispensando especial atenção para o uso e a função que a mesma passaria a ter na Igreja.” Um clérigo católico romano, falando sobre a música de Lutero disse certa vez: “As músicas de Lutero fizeram mais pela Reforma do que todos os seus escritos.”

No N.T., Paulo incentiva os crentes a usarem a música na adoração (Ef. 5.19). Na Escritura Sagrada vemos a música sendo usada na maioria das vezes, para o culto a Deus, apesar de reconhecermos era usada também para outros fins, como por exemplo, avisar do perigo iminente, da chegada do inimigo ou para surpreender o inimigo na guerra.

A música possui pelo menos três elementos essenciais, quais sejam: harmonia, melodia e ritmo, todos esses elementos distribuídos de forma equilibrada, cada um apelando para uma faceta da vida humana, corpo, alma (sentimentos e emoções) e espírito. Quando a música tem a sua ênfase no ritmo por exemplo, ela irá apelar somente para o corpo, deixando a alma e o espirito, tornando a pessoa, seca, vazia.

Existem pessoas e grupos dentro do ambiente cristão que podem ser mencionados de acordo com a sua preferência musical. Existem aqueles que rejeitam toda e qualquer música que não seja distintamente cristã. Existem os que apreciam tanto as músicas distintivamente cristãs, como também as que são abertamente não cristãs, para esse grupo basta que a música seja boa, e por música boa, aceita-se aquelas que geralmente tem uma boa melodia e uma boa letra. Esse mesmo grupo rejeita musicas com conteúdo impróprio, com conotações sexuais, de preconceitos ou violência. Por fim, há o grupo que mesmo alegando ser Jesus Cristo o seu Senhor, consome música secular, mesmo as de conteúdo duvidoso, geralmente o repertório que ouvem não encontra eco num conteúdo redentivo. Para esse grupo, ouvir música cristã é a exceção e não a regra.


A INDÚSTRIA DA MÚSICA NO BRASIL

         Em nosso país, até a década de 1980 a música tanto secular quanto religiosa estava já começando o processo de decadência. Nos anos 80, a música brasileira pode-se dizer, estava em alta e tinha qualidade tanto melódica quanto de letras. Assim também era a música religiosa, cujos letristas e músicos presavam por conteúdo bíblico e até musicavam salmos e trechos das Escrituras. Desse período e do período anterior podemos citar: Grupo Elo, Grupo Logos, Vencedores por Cristo, Raízes, Asaph Borba, Luis de Carvalho, Denise, João Alexandre, Álvaro Tito, Armando Filho, (podemos por nessa lista Arautos do Rei e Prisma Brasil), e tantos outros cantores e compositores que dava prazer de se ouvir. Eram os compositores desses cantores e grupos citados, teologicamente fortes, cujas letras eram centradas no Evangelho.

         Depois dos acima citados, começou a surgir no Brasil, um grupo de cantores e compositores evangélicos com características muito mais popular, cujo objetivo era fazer um contraponto à música secular e atrair os que detestavam o estilo da música religiosa tradicional, oferecendo um estilo parecido com o secular, mas com letras evangélicas, de fraco ou nenhum conteúdo bíblico. Falavam de paixão, amor e romance. Dai surgiram bandas como Katsbarneia, Novo Som, Resgate, Oficina G3, Banda e Voz e outras, além de cantores como Brother Simion, Carlinhos Felix, Cristina Mel, Aline Barros, etc.

         Na sequência vieram as músicas de caráter beligerante, era o movimento de batalha espiritual, cujas letras “amarravam o diabo” e declaravam guerra contra as trevas. Depois surgiram as igrejas que formaram grupos musicais onde algumas delas tentaram trazer o conteúdo bíblico para as composições e músicas, e viu-se conotações religiosas sutis, mas o que mais se destacou foram as músicas intimistas. Nesse grupo estavam, Diante do Trono, Comunidade Internacional da Zona Sul, Comunidade Evangélica de Vila da Penha, Comunidade de Nilopes, Ministério Apascentar de Nova Iguaçu, Kleber Lucas, dentre outros.

         Do lado do pentecostalismo, pouca coisa se aproveitou e podemos constatar que continua a mesma coisa.

A MÚSCIA PODE ENFRAQUECER A FÉ DE UM CRENTE?

         Minha resposta a essa pergunta é: Sim, pode! Se o coração não estiver no lugar certo, é claro que pode. E eu estou falando da música dita religiosa e não da secular. Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou que o que contamina o homem é o que sai da sua boca (Mt. 15.11). Mas muitas vezes, o que sai da boca é aquilo que entra pelos ouvidos, saindo em forma de conversas e decisões diárias.

Me respondam sinceramente: Um crente pode permanecer fiel a Cristo, aos seus princípios e valores e ao seu evangelho, se alimentando constantemente de música secular? Talvez. Eu particularmente duvido! O conteúdo dos temas das músicas dos artistas seculares, fatalmente deixará a sua marca na vida do indivíduo crente. Quando eu escolho uma música pra ouvir, meu pensamento primeiramente vai ao texto de Filipenses 4.8: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.”

Você conhece alguma música secular que inclua todos esses elementos mencionados pelo apóstolo Paulo? Com aquilo com que eu encho a minha mente, será aquilo que irá determinar as minhas ações, palavras e escolhas. Fidel Castro, ditador cubano disse: “Dá-me uma criança de quatro anos e eu te dou um comunista pra toda vida.” Quando Paulo em Romanos 12. 1,2, fala de “renovação da vossa mente”, ele está falando que uma mente renovada, passa pela atitude de abolir aquilo que é contrário aos valores do reino de Deus na mente do crente. Uma nova forma de pensar, que passa pela meditação naquilo que tem conteúdo bíblico, naquilo que está recheado de princípios e valores do reino de Deus.

O PERIGO DA MÚSICA SECULAR.

Paulo escrevendo aos coríntios, 15.33, diz: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.” Podemos incluir aqui, sem sombra de dúvidas, as influências corruptoras de músicas e compositores seculares, nos valores e princípios dos crentes.

Quero concluir essa primeira parte apelando ao apóstolo Paulo para nos orientar. Ele diz em I Co. 6.12: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.” O crente pode ouvir de tudo em termos de música, mas com certeza quase nada, será útil para a sua vida.

Minha conclusão pessoal no que se refere a dar valor ou apreciar simplesmente a música secular, passa pelo crivo de Nosso Senhor Jesus Cristo em Mateus 12.30:

Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha.”



Soli Deo Gloria!!!

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