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João d'Eça
Continuação do artigo anterior.
Deus perdoa os nossos pecados não por nós mesmos, mas
por causa do amor a Seu Filho Jesus Cristo. Em nós só existe razões e mais
razões para sermos condenados, mas Deus usa de misericórdia para conosco por
amor a Jesus Cristo. Nesse caso a graça de Deus nunca seria uma licença para a
prática do pecado, mas para nos tornar conscientes de que só em Cristo, e nele
exclusivamente é que somos perdoados.
Não há no ensino paulino a ideia de que a graça é
adquirida através do pecado, ou que o pecado produz graça; ele diz
exatamente o oposto: que “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade
e perversão dos homens...” (Rm. 1.18). A razão é que o pecado exerce um
poder tão grande de condenação na vida das pessoas, que somente um poder maior
pode neutralizar esse poder destruidor, e esse poder maior é a graça de Deus.
Onde há um fogo poderoso, é preciso correntes
poderosas de água para extingui-lo. Em casos de doenças graves, um remédio
forte é essencial para a cura. Não há a menor chance de entendermos que é
preciso multiplicar os pecados com o propósito de receber uma graça mais
abundante. A graça se opõe ao pecado e o destrói, como o pecador poderia
pensar em pecar mais, deliberadamente, para que a graça fosse mais abundante?
Usando a figura do batismo Lutero nos diz que Paulo
nos mostra que a morte, o sepultamento e a ressurreição de Cristo, é a
significação de que fomos sepultados com ele. Em primeiro lugar, Cristo foi
sepultado para que perdoasse e destruísse os nossos pecados, não só os que
cometemos deliberadamente, mas aquilo que é inerente a nós.
Jesus Cristo morreu e foi sepultado para que, através
do Espírito Santo, mortificar a carne e o sangue com suas inerentes paixões
pecaminosas; eles não devem mais ter domínio sobre nós, mas devem estar
sujeitos ao Espírito até que nos libertemos totalmente deles.
Lutero, no sermão, critica a prática anabatista
dizendo que o batismo não deve ser considerado um mero sinal, como os
anabatistas erroneamente pensam. Para ele o sinal está incorporado no poder da
morte e ressurreição de Cristo. Por isso, Paulo diz: “somos sepultados
juntamente com Cristo”, enxertados nele como um membro de seu corpo, de modo
que ele é o poder em nós e sua morte opera em nós. Através do batismo ele
nos dedica a si mesmo e transmite-nos o poder de sua morte e ressurreição, até
o fim, de modo que tanto a morte como a vida possam seguir em nós.
Crescimento Cristão
Paulo dá a razão para um novo crescimento. Ele
diz: “Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o
corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos;” (v, 6).
Assim, Cristo, sofrendo a crucificação pelos nossos
pecados, suportou a penalidade da morte e a ira de Deus. Cristo, inocente
e sem pecado, sendo crucificado pelos nossos pecados, assim o pecado deve ser
crucificado em nosso corpo; deve ser totalmente condenado e destruído,
tornado sem vida e sem poder. Devemos considerar o pecado como o mal que
condena, e com o poder de Cristo em nós, devemos resistir a ele, subjugá-lo e
matá-lo.
Paulo chama a vida de pecado de “velho homem”, no
sentido de apodrecido, de morto em delitos, cadavérico. O pecado é chamado de
“velho homem” porque não é convertido, é inalterado de sua condição original
como um descendente pecaminoso de Adão.
O “novo homem” é aquele que se converteu a Deus em
arrependimento, alguém que tem um novo coração e entendimento, que mudou sua
crença e, através do poder do Espírito Santo, vive de acordo com a Palavra e a
vontade de Deus. Esse “novo homem” deve ser encontrado em todos os
cristãos; começa no arrependimento e conversão. Paulo declara: “os
que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências”.
(Gl. 5.24).
O pecador com Cristo está duplamente morto.
Espiritualmente falando, eles estão mortos para o pecado. É
bem-aventurado, um confortável e feliz morrer, pois produz uma vida celestial,
pura e perfeita. Estão também fisicamente mortos - o corpo morre. Em
Cristo, você já escapou da morte morrendo para o pecado; essa morte você
não precisará morrer mais. A primeira morte, que você herdou de Adão
através do pecado, já foi tirada de você. Sendo essa a morte real, amarga
e eterna. O crente é consequentemente liberto da necessidade de morrer. Ao
mesmo tempo, há uma morte, ou melhor, apenas a semelhança da morte, que o
crente deverá sofrer porque ainda está na terra e é descendente de Adão.
Morte e Ressurreição
A primeira morte, herdada de Adão, é eliminada:
transformada em morte espiritual para o pecado. A alma do crente convertido não
mais consente em pecar e o corpo não mais a comete. Assim, no lugar da
morte que o pecado trouxe sobre nós, a vida eterna já começou no crente. Os
crentes estão agora livres da terrível morte condenatória.
A morte física exterior, é imposta à carne porque,
enquanto vivermos na terra, a carne nunca deixa de pecar. “Porque a carne
milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre
si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” (Gl. 5.17).
Assim faz a carne continuamente, enquanto vive
aqui; atrai e arrasta o pecado atrás de si; é rebelde e se recusa a
morrer. Portanto, Deus finalmente faz morrer o pecado para que morramos
para o pecado.
A Escritura fala também da segunda morte, que é a
morte depois da morte, a morte espiritual. Os que não estão em Jesus Cristo a
experimentarão, mas os que estão em Cristo não passarão por ela. O crente
experimentará a morte física, nessa o cristão morre segundo a carne; isto
é, ele passa da descrença para a fé, do pecado para a justiça eterna, das
aflições e tristezas e tribulações para a perfeita alegria eterna.
Conclusão:
A morte pode despertar raiva, melancolia, medo e
terror em nossa pobre carne fraca, mas não tem mais domínio sobre
Cristo. Pelo contrário, a morte deve se submeter ao domínio de Cristo em
nós.
Nós morremos para o pecado; isto é, nós fomos
redimidos do aguilhão e poder, o controle da morte. Cristo realizou
plenamente o trabalho de poder sobre a morte e conferiu esse poder a nós, que
nele devemos reinar sobre a morte. Então, Paulo conclui: “Assim também vós
considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (v,
11).