OS ÚLTIMOS DIAS DE VIDA
E
A MORTE DE MARTINHO LUTERO
Por
causa das ricas minas de ferro e prata, nasceram em Mansfeld, entre os condes,
escandalosas questões de família. Por fim combinaram-se em mandar decidir estas
questões, que duravam anos, por homens bem intencionados. Então os condes
pediram ao eleitor da Saxônia que enviasse Lutero a Eisleben.
Lutero.
Apesar de estar muito fraco, atendeu ao chamado com alegria, porque dizia:
Eu me deitarei
com satisfação no meu ataúde, se viver até que os meus queridos soberanos se
reconciliem e vivam outra vez em boa concórdia e de coração unânime.
Quanto
ao seu débil corpo ficaria fatigado da viagem, ele o sabia de antemão, porque,
pouco antes da sua viagem, escrevera numa carta:
Esperava que
agora depois de velho, decrépito e cego de um olho (pois ultimamente sofria de
uma vista), me devessem dar descanso, no entanto me sobrecarregam de tal modo
com escrever, falar, fazer e tratar como se nunca tivesse tratado, escrito,
dito ou feito alguma coisa.
Quando
Lutero se despediu dos membros de sua igreja, depois do sermão do dia 17 de
janeiro de 1546, disse “que quando soubessem que ele se achava doente, não
pedissem vida prolongada, mas somente uma boa morte.”
No
dia 23 de janeiro de 1546, no inverno, num dia de muito frio, Lutero seguiu de
Wittenberg, acompanhado de seus três filhos: João Martin e Paulo, e de seu
velho e fiel criado, chamado Ambrósio Rutfeld. No dia 24 chegaram ao Portal,
onde ficaram na casa de seu amigo, o superintendente Dr. Jonas.
Por
causa do degelo que sobreveio de repente, as águas do Sala (rio da Alemanha)
cresceram tanto, que passaram das margens, de sorte que Lutero teve de ficar no
Portal até o dia 28. Neste dia ele deixou a cidade, acompanhado do Dr. Jonas e
atravessou o rio numa canoa com grande risco de vida. Quando o barco vacilante
ameaçou de afundar, Lutero pôs-se em pé, impávido, animando os seus
companheiros.
Infelizmente
Lutero pegou uma gripe terrível que ficou com muita dor no peito. Ainda chegou
no mesmo dia à cidade onde nasceu, porém, muito cansado. Foi muito bem recebido
pelos condes, cidadãos e mais cento e treze pessoas que lhe foram ao encontro à
cavalo.
A
sua principal ocupação referia-se naturalmente à acomodação das questões de
famílias dos condes; por isso ele assistia a todas as sessões, sem exceção.
Para o seu extremo prazer, as tristes questões tiveram afinal um termo pacífico.
No dia 14 de fevereiro ele escreveu à sua esposa dizendo que, “graças a Deus,
os homens se reconciliaram quase em tudo, e que também ele ficara livre das
opressões que sentiu primeiro e que ainda nessa semana voltaria para casa.”
Porém em poucos dias, a sua esposa tinha de saber de uma outra volta à casa
muito diferente.
A morte de
Lutero
Até
o dia 16 de fevereiro, Lutero sentia-se bem melhor de saúde e, como sempre, em
Eisleben mostrava bom humor, que fazia com que o trato com ele fosse bem
agradável; porém no dia seguinte tornaram a aparecer as dores e os primeiros incômodos
de um modo perigoso. Os condes com o Dr. Jonas e o pregador Collius, lhe
pediram que descansasse, e não fosse até a sala grande, para os autos, antes do
meio dia. Lutero obedeceu ao conselho que lhe deram. Deitava-se de vez em
quando em sua cama, passeava na sala, orava e dizia várias vezes: Dr. Jonas e
sr. Collius, em Eisleben fui batizado.” Como se devesse ai ficar.
Apesar
de sua fraqueza, tomou parte na ceia, pois dizia: “Estar só não traz alegria.”
Na mesa falou muito da morte e da vida futura. Logo Lutero se recolheu ao seu
aposento e orou em voz alta. Depois queixou-se: “Está me oprimindo e doendo o
peito como antes.” Com tudo isso, rejeitou o oferecimento de se mandar vir os
dois médicos da cidade.
Quando
o conde Alberto pessoalmente se informou de seu estado, ele lhe deu a resposta:
“não tem perigo senhor, estou começando a melhorar.”
As
nove horas deitou-se dizendo: “Se eu pudesse dormir uma meia hora, esperava que
pudesse melhorar tudo.” De fato dormiu suavemente até as dez horas, e quando
enxergou o Dr. Jonas e os outros disse: “Ainda estão acordados? Não querem
dormir?” Ao que responderam: “Não doutor Lutero, agora queremos velar e cuidar
do senhor.” Então Lutero levantou-se, passeou no quarto, não se queixou de dor
nenhuma, e, deitando-se na cama outra vez, disse: “Nas tuas mãos encomendo a
minha alma; tu me salvaste, Senhor, Deus fiel.”
Depois
que o cobriram bem, ele deu a mão aos que o rodeavam, desejando-lhes boa noite,
e disse: “Dr. Jonas e vós outros que aqui estão comigo, orem pelo evangelho,
para que prospere.”
Pela
1 hora da madrugada, Lutero acordou dizendo: “Ah meu Deus, quanta dor! Acho que
ficarei aqui em Eisleben, onde nasci e fui batizado.”
O
Dr. Jonas respondeu: “Ah, reverendo, Deus nosso pai celestial, velará por
Cristo, a quem, vós pregastes.”
Depois
disso, Lutero tornou a se levantar, passeou na sala e orou: “Nas tuas mãos
encomendo o meu espírito; tu me salvaste, Senhor, Deus fiel.” Deitando-se de
novo, tornou a se queixar de que se lhe oprimia o peito mas que era poupado o
coração.
Enquanto
chamavam o dono da casa e dois médicos, esfregavam o paciente e esquentavam o
seu leito.
Logo depois chegaram também o conde Alberto e
sua esposa, e lhe deram alívio, mas o incomodo parecia crescer e Lutero falou: “Meu
Deus, estou oprimido de angústia e dor; passo para outra vida, aqui em
Eisleben.” Em seguida o doente orou com mais fervor:
Ó meu pai
celestial, meu Deus, pai de nosso Senhor Jesus Cristo, ó Deus de toda a
consolação, agradeço-te por me teres revelado o teu filho Jesus Cristo, no qual
eu creio, o qual tenho amado e louvado, confessado e pregado, o qual todos os
ímpios perseguem e contra o qual blasfemam. Rogo-te receba a minha alma senhor
Jesus Cristo. Ó pai celeste, ainda que tenha de deixar este corpo e ser levado
para longe desta vida, sei com certeza que tenho de ficar contigo eternamente,
e que das tuas mãos ninguém me pode arrancar.
Disse
mais ainda Lutero em sua oração:
Deus amou de tal
maneira o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que todos os que nele creem,
não pereçam, mas tenham a vida eterna. Nós temos um Deus e Senhor dos senhores,
que livra e salva da morte e conduz o fiel à vida eterna.”
Depois
da oração Lutero ficou quieto. Sacudiram-no, esfregaram-no e o chamaram, mas
ele fechou os olhos e não respondeu. Então o Dr. Jonas falou em voz alta: “Reverendo,
quereis morrer perseverando em Cristo e na doutrina que pregastes?” O moribundo
respondeu, de modo que todos ouviram claramente: “Sim”.
Dito
isto, virou-se do lado direito, e dormiu por vinte e cinco minutos sossegadamente,
de sorte que até esperaram a sua melhora. Nesse momento chegou também o conde
de Schwarzburgo. Pouco a pouco as faces de Lutero empalideceram, e a testa e os
pés esfriaram ainda mais; e quando o sacudiram e chamaram pelo seu nome, ele
não respondeu mais. Com as mãos juntas, tomou profundo fôlego e expirou suave e
pacificamente no Senhor.
Isso
tudo aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1546, entre duas e três horas da
madrugada. Ele tinha 62 anos, 3 meses e oito dias.
Depois
que Lutero faleceu, os condes que estavam presentes, ordenaram que continuassem
a esfregar, esperando que assim tornasse a viver; porém seu corpo esfriava cada
vez mais, e assim tiveram de perder toda a esperança de revificação.
As
4 horas mudaram o cadáver para outra cama, onde ficou até as nove horas. Ainda
antes de clarear o dia, chegaram o príncipe de Anhalt, cinco condes de Mansfeld
e muitos fidalgos para darem a conhecer a sua participação no doloroso
sentimento pela morte que lhe sobreveio.
A
notícia da morte de Martinho Lutero cobriu de pesar e de luto toda a cidade de
Eisleben, e pessoas de todas as idades foram à casa onde estava o corpo do
defunto, afim de manifestar o seu profundo pesar.
As
9 horas da manhã, envolveram o cadáver numa toalha branca e o puseram na sala;
de tarde mudaram para um caixão de estanho, e o guardaram na mesma casa durante
a noite.
Depois
do falecimento de Lutero, o Dr. Jonas avisou imediatamente o eleitor Frederico,
o sábio, e pediu-lhe que desse as providências necessárias para o enterro.
Ainda na mesa tarde estas chegaram a Eisleben.
O
eleitor escreveu aos condes dizendo que desejava que eles tivessem poupado o
homem de idade avançada de viagem tão difícil. A respeito do enterro ele
desejava que levassem o cadáver para Wittenberg e o depositassem na igreja do
palácio.
No
dia 19 de fevereiro, ás duas horas da tarde, em procissão fúnebre formada dos
condes de Mansfeld e uma grande multidão de povo, levaram Lutero, com toda a
solenidade, à principal igreja de Eisleben, onde o Dr. Jonas pregou um sermão
fúnebre baseado na primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses 4. 13-18.
Durante a noite, o ataúde ficou na igreja, guardado por dez cidadãos.
No
dia seguinte o supracitado Collius pregou outro sermão sobre Isaias 51.1, e ao
meio, tiraram o cadáver para fora da cidade, sendo acompanhado por 45 pessoas a
cavalo.
Em
todas as aldeias por onde passava a procissão fúnebre, ajuntavam-se homens,
mulheres e crianças para dar os seus pêsames. Às 5 horas da tarde chegou ao
Portal. Na porta da cidade receberam-no o magistrado, os eclesiásticos e os
professores com os alunos. O choro e o pranto era tão grandes, que até se
ouviam na última carruagem que acompanhava.
Por
causa da grande afluência de gente, as ruas ficaram repletas, de maneira que
tiveram de parar continuamente, e levaram duas horas para chegar à igreja
principal. Ali choraram mais do que cantaram um hino, como diz uma testemunha.
No
dia 22 de fevereiro, chegaram a Wittenberg, na mesma porta da cidade, onde
Lutero em 1520 queimara a carta de excomunhão papal, esperavam o seu cadáver os
professores da Universidade, o conselho, a câmara municipal, o clero, os
mestres com os alunos e uma multidão incalculável de gente. A procissão se pôs
em movimento, passando a porta para a igreja do paço. Adiante do cadáver, iam à
cavalo os deputados do eleitor, alguns condes de Mansfeld, ao todo 65 homens.
Após
o carro do cadáver, seguiam imediatamente a viúva e os filhos de Lutero, o seu
irmão Jacob e outros parentes; depois os professores, o conselho, os cidadãos
do povo. Chegados a igreja do palácio, puseram o caixão em frente do púlpito,
cantaram alguns hinos apropriados e o Dr. Bugenhagen, ou Pomeranos, pregador de
Wittenberg, fez um sermão fúnebre sobre I Tess. 4. 13-14. O choro e o soluço
abafavam, às vezes, a voz do pregador; mesmo o Dr. Bugenhagen não podia quase
falar de sentimento, e parava algum tempo. Depois da pregação, fizeram oração
num tom melancólico e profundamente comovidos.
Em
seguida baixaram o caixão à sepultura, perto do púlpito em que o adormecido
pregara muitas vezes o Evangelho de Cristo, com veemência e fervor.
Uma
enorme chapa de metal fechou a sepultura e uma chapa de latão traz até agora a
simples inscrição: “Aqui jaz o cadáver de Martinho Lutero, doutor em santa
teologia, falecido no dia 18 de fevereiro de 1546, na sua cidade natal –
Eisleben, na idade de 62 anos, 3 meses e 8 dias.” E mais abaixo: “O nosso fim
seja como o fim desse homem de bem!”
Um
ano depois do enterro de Lutero, viu-se ao lado da sepultara, pensativo, o poderoso
imperador Carlos V, submerso em imaginação, contemplava silencioso o jazigo
deste grande amigo da verdade, do qual já se tinha admirado em Worms, em 1501.
Um dos que acompanhavam o imperador (não se sabe certamente se foi o cruel
duque de Alba ou o cardeal Granvella), disse-lhe que mandasse desenterrar e queimar
os ossos desse perigoso herege; porém Carlos replicou: “Deixai-o jazer, ele
achou o seu juiz; não faço guerra aos mortos, mas aos vivos!”
Conclusão:
Que
a recordação do justo Lutero, nos inspire a continuar na fé que ele pregou. No próximo
dia 31 de outubro de 2013, comemoraremos 496 anos da Reforma protestante, evento
que trouxe a Bíblia para o povo e trouxe de volta a doutrina bíblica para
sociedade.
Não
fosse Lutero e os reformadores, ainda hoje estaríamos escravos do analfabetismo
bíblico e nada conheceríamos de Deus.
A
igreja católica romana deturpou as verdades da Escritura Sagrada, corrompeu o
ensino dos apóstolos e nessa corrupção doutrinária vive montada.
Aprouve
a Deus, no momento certo da história, levantar homens como John Knox, Zwilglio, Hus, Melanchton,
Lutero e Calvino. Graças a eles, hoje temos uma igreja que mantém a doutrina
bíblica intacta e que caminha combatendo o erro dos que se dizem cristãos fora
da Escritura.
Sigamos
o exemplo de fé e amor desses abnegados servos de Deus.