Rev. João d'Eça
No reinado de
Frederico[1],
o Grande havia um moinho perto de Pastdam que impedia a bela visão das terras,
à partir das janelas de Sans-Souci, residência real. Incomodado com a situação,
o rei mandou perguntar ao proprietário por quanto venderia sua propriedade. O
dono do lugar respondeu aos emissários do rei, que não venderia por dinheiro
nenhum. O rei enfurecido ameaçou mandar demolir o moinho.
- O rei pode fazer isso se quiser, respondeu o proprietário;
mas saiba o rei que na Prússia existem leis e eu recorrerei à justiça contra o
monarca, se este persistir na sua intenção.
O rei constrangido teve a sabedoria e a coragem de dizer aos
seus cortesãos:
- Muito me alegro de saber que em meu reino há leis sábias e
juízes retos nos quais o povo pode confiar.
Passaram-se os anos, e tanto o rei como o proprietário
daquelas terras foram sucedidos por seus herdeiros. Um dos herdeiros do
moleiro, dono daquele moinho, conhecedor do que havia acontecido com os seus
antepassados, achando-se agora em crise financeira por causa de perdas que
havia sofrido com a guerra, escreveu ao novo rei que estava no trono, herdeiro
do antigo do tempo daquele moleiro, lembrando-lhe da questão e dizendo-se
disposto e vender as terras com o moinho para esse novo rei, dizendo ainda que
aguardava a resposta com a oferta.
- “Meu querido vizinho”, disse o rei – “Não posso permitir
que você venda o moinho, ele deve continuar na posse de sua família enquanto
existir um membro dela, porque esse patrimônio pertence à história da Prussia. Lamento
no entanto que você esteja passando por dificuldades financeiras, e portanto
estou lhe enviando uma considerável quantia para que você acerte os seus
negócios e pague as suas despesas, esperando que a quantia enviada seja o
suficiente. Considere-me o seu afetuoso vizinho: Frederico Guilherme.”[2]
No Brasil as coisas não passariam assim. Seria outra a
narrativa a fazer e os fatos a serem registrados seriam completamente
diferentes.
Se o caso não acontecesse com a presidente da República ou
com o Governador, ou ainda com o Prefeito da cidade, mas simplesmente com um juiz,
com um deputado, ou com um grande empresário, o proprietário seria despejado de
sua propriedade e, se se desse ao luxo de protestar e entrasse com uma ação na
justiça, arriscava-se a ser assassinado por emboscada, ou ainda a ter o seu
processo alongado em tempo que talvez os seus bisnetos obtivessem a sentença,
ou como é mais plausível, o poder financeiro compraria a sentença de juízes
corruptos e inescrupulosos, que para agradar à autoridade ou ao empresário,
venderia a sentença sem dor na consciência.
Será que estamos sendo pessimistas, ou tratando o nome do nosso
país com desamor? Ao contrário, eu amo o meu país e tenho desejo de vê-lo
regenerado e debaixo da obediência às leis por parte de todos os seus cidadãos,
indistintamente. Os fatos, porém, nos autorizam a falar assim.
Uma presidente que governa o país, que comete crimes para
enriquecimento de seus apoiadores (e é claro, dela própria!), onde a justiça
não faz justiça, onde o corporativismo e a venda de sentenças são a praxe, onde
as negociatas visando livrar o pescoço dos criminosos envolvidos, é tão comum
quanto tomar um cafezinho às tardes.
Não somos pessimistas. Hoje, em todos os recantos do Brasil,
prega-se o Evangelho do Salvador Jesus Cristo, e nós cremos em seu poder
regenerador. Oramos e trabalhamos pela regeneração de nossos costumes, e
estamos certos, não será em vão o nosso trabalho.
[1]
Frederico Guilherme (Nasceu em Berlim,
24 de janeiro
de 1712
– Morreu em Potsdam,
17 de agosto
de 1786),
também chamado de Frederico, o Grande,
foi o Rei da Prússia de 1740 até sua morte. Ele
é mais conhecido por suas vitórias militares, sua reorganização do exército
prussiano, patronagem das artes e o iluminismo na Prússia.
[2]
Frederico Guilherme II (nasceu em Berlim,
25 de
setembro de 1744
– morreu em Potsdam,
16 de
novembro de 1797)
foi o Rei da Prússia de 1786 até sua morte. Por união pessoal,
também era Eleitor de Brandemburgo e
o príncipe soberano de Neuchâtel. A Prússia enfraqueceu durante seu reinado e ele
não conseguiu lidar com os desafios criados com a Revolução Francesa. As políticas religiosas de
Frederico Guilherme iam diretamente contra o iluminismo
e tinham a intenção de restaurar o protestantismo
tradicional. Entretanto, foi patrono das artes e responsável pela construção de
importantes edifícios, dentre eles o Portão de Brandemburgo.