quarta-feira, 23 de outubro de 2013

31 DE OUTUBRO, DIA DA REFORMA PROTESTANTE

LUTERO E A DIETA DE WORMS

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Rev. João d’Eça

O Imperador Carlos V convocou uma dieta do império para o ano de 1521, e pediu ao eleitor do império germânico da Saxônia, Frederico, o sábio que também trouxesse Lutero, afim de que fosse decidida a sua causa. Frederico respondeu que o dispensassem, porque não esperava nada de bom para Lutero.

Mas este declarou:

- “Sendo convocado, quero até ser conduzido doente, caso não possa ir em estado de saúde; pois não há dúvida que convocando-me o Imperador, seja convocado por Deus. Não se pode reparar nem em perigo, nem em bem estar.”

Logo depois, recebeu com muito gosto do Imperador a intimação de aparecer em Worms no prazo de 21 dias, e, ao mesmo tempo, a promessa duma escolta livre. O magistrado de Wittenberg deu-lhe uma carruagem para a viagem, e o eleitor Frederico arranjou-lhe para guarda um arauto especial. Acompanhado de quatro amigos e o arauto, Lutero seguiu animado a sua viagem de Wittemberg. Em toda parte, ajuntava gente para ver o homem ilustre do qual se falava tanto.

De Erfurt vieram-lhe ao encontro, de uma distância de duas léguas, quarenta cavaleiros e muitas pessoas a pé, afim de o acompanhar honrosamente à cidade. E nas mesmas estradas, onde ele tinha passado antes como monge, com o alforje, a multidão o recebeu com júbilo. Insistiram tanto que ele pregou para uma enorme multidão.

Quando o aconselharam a não ir a Worms, porque lá seria reduzido a pó, respondeu:

- “Ainda que façam uma foqueira de Wittenberg a Worms até o céu, em nome do senhor quero aparecer.”

Em Oppenhein ele recebeu uma carta de Spalatin (o qual acompanhara o seu amo à dieta) com a advertência de não se expor a tal perigo, em Worms; mas o brioso Lutero mandou lhe dizer:

- “Ainda que houvesse tantos demônios em Worms, como telhas nas casas, lá queria entrar.”

No dia 16 de abril ele chegou. Uma grande multidão foi-lhe ao encontro, Uns a pé, outros à cavalo e outros a carroça. Na cidade apertavam-se ao redor de sua carruagem, mais de dois mil homens.

Já no dia seguinte, as quatro horas da tarde, o marechal veio busca-lo para a dieta do reino. O aperto diante da sua casa era tão grande (até os telhados estavam ocupados), que o marechal teve de passar por algumas casas e jardins.

Na porta do salão estavam alguns fidalgos cavaleiros. Um deles, Georg Frundsberg, um guerreiro disposto, bateu-lhe no ombro dizendo:

-“Fradinho, fradinho, agora vais por um caminho, que nem eu nem outro superior passamos na ordem de batalha mais séria.”

- “Estás intimamente persuadido e certo de tua causa? Então continua em nome de Deus, e tem confiança de que Deus não te abandonará.”

Estas palavras elevaram muito o seu ânimo; o seu coração bateu mais forte, quando ele agora pensou que tinha de defender a sua doutrina perante o rei e o reino.

Abriram-se as portas do salão e ele ousadamente entrou. Mais de cinco mil pessoas, que estavam na sala, na antessala, e nas janelas, olharam para ele e só para ele, num momento, e, diante de si, ele viu, no final da sala o Imperador Carlos, no hábito solene imperial, assentado no seu trono e diante deste, em duas extensas fileiras, os eleitores, príncipes e condes do reino alemão. Mas dos olhos da maior parte irradiava interesse e admiração, e aqueles que estavam mais perto, lhe cochichavam, aconselhando-o a se animar e anão temer os que só podem matar o corpo.

Então, o marechal do império, passou à sua frente e perguntou-lhe se reconhecia como seus os livros que estavam em cima da mesa. E quando ele respondeu que sim, perguntou-lhe o marechal se queria revogar as opiniões que continham aqueles livros. A última pergunta parecia surpreendê-lo. Em seguida pediu prazo para deliberar, o qual o Imperador lhe concedeu.

Quando ele saiu reconheceu que não seria fácil defender a sua causa perante o rei e o reino. Mas o pensamento no auxílio de Deus, o qual se expressa tão eficaz em seu maravilhoso hino: “Castelo Forte” deu-lhe novo ânimo para defender a verdade sem acepção de pessoas.

No dia seguinte, quando ele compareceu, todos estavam interessados em extremo pela sua resposta decisiva. Desta vez tinha de esperar por duas horas na ante-sala. Quando ele entrou às seis horas, já ardiam os archotes; também no seu coração ardia a inspiração de confessar francamente a verdade.

Ele então começou:

- “Excelentíssimo imperador, ilustríssimos eleitores, príncipes e senhores. Compareço obediente no prazo que me foi concedido ontem de tarde e peço pelo amor de Deus que vossa majestade e excelências queiram atender misericordiosamente a esta causa justa e verdadeira, como eu espero, e queiram perdoar-me se eu por ignorância não der o título próprio a cada um, e, além disso, não me comportar conforme o uso na corte, pois tenho passado sempre no convento e nunca na corte.”

- “Quanto a mim não me posso manifestar de modo diverso do que tenho escrito e ensinado com simples coração até agora e somente tenho procurado e considerado para a honra de Deus e proveito e salvação dos crentes em Cristo, afim de que fossem instruídos na verdade e pureza.”

Depois ele explicou-se com sinceridade sobre os seus livros. Tudo isto falou ele em alemão. Então lhe fizeram lembrar que o Imperador entendia o alemão com dificuldade. Em seguida repetiu todas as palavras em língua latina, apesar de que suava muito por causa da multidão e porque estava muito perto dos príncipes.

Por fim o interrogou um clérigo distinto, dizendo que desse uma resposta direta e resumida: se queria revogar ou não. Lutero disse:

- “Bom, desde que a majestade imperial e os senhores eleitores e príncipes requerem uma resposta simples e resumida, quero dar esta que não há de ter nem chifres nem dentes, a saber: Desde que não seja vencido e convencido por testemunhos da Santa Escritura, ou por públicas, claras e compreensíveis razões e bases, não quero e nem posso revogar nada, porque não é nada seguro e nem conveniente fazer qualquer coisa contra a consciência. Aqui estou, não posso proceder de outra maneira. Deus me ajude! Amém!”

Esta sincera declaração fez uma extraordinária e favorável im pressão nos príncipes e outros auditores; até mesmo o imperador disse:

- “O frade fala desembaraçado e com o coração confiado.”

Frederico, o sábio gostou especialmente de Lutero. – “Oh como falou bonito!” Disse ele ao seu pregador da corte chamado Spalatin.

Ainda na mesma tarde, o velho Rodrigo, duque de Brunsvico, apesar de ser um católico zeloso, mandou a Lutero um jarro de prata com cerveja especial, a fim de se refrescar. Também vários príncipes visitaram Lutero na sua residência, diante da sua casa sempre havia gente, que o queria ver.

Somente o papa e os seus representantes legais na reunião, empregavam o céu e o inferno para arruiná-lo, e para levar os príncipes a declará-lo proscrito e herege.

O eleitor de Treveris experimentou mais uma vez fazê-lo revogar os seus escritos, mas Lutero deu-lhe uma linda resposta:

- “A obra sendo de homens, perecerá; mas sendo de Deus, permanecerá.”


A consequência e o caminhar da história, mostrou que a sua obra é obra de Deus.

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