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João
d’Eça
“Sua família da qual lhe fora
proibido despedir-se em particular, o esperava no caminho para vê-lo. Sua
mulher com nove filhinhos ao seu lado e um décimo em seu seio, juntamente com a
multidão, aclamavam-no com brados de gozo delirante, como se ele estivesse indo
para uma festa. Um desses nove filhinhos era o pregador desse notável sermão a
que nos referimos.
No lugar havia muita gente e a
congregação estava como que suspensa aos lábios do homem de Deus e escutava e
escutava as suas palavras com atenção respeitosa. Ele era ardente eloquente e
da abundância do seu coração expunha as convicções da sua alma. Seu tema era o
Estudo das Escrituras, e com muita solenidade reprovou o povo pela sua
negligência da Palavra de Deus e, em reprovando, parecia como se ele mesmo fora
o Ser Divino, e em seu lugar assim falou: - ‘Bem, eu confiei a vocês já a muito
tempo a Bíblia, mas vocês fizeram pouco caso dela. Ela está nas vossas casas
toda coberta de pó e teia de aranha. É assim que vocês tratam a Bíblia? Vocês
não terão por mais tempo a Bíblia’.
Tomando-a então, deu meia volta
como que para leva-la embora dali, mas voltou-se para o povo outra vez, como se
ele mesmo fosse o povo, então caiu de joelhos e começou a implorar
ardentemente! ‘Senhor, seja qual for a causa, não nos tires a Bíblia’. Outra
vez, como que falando como se fosse o Senhor, continuou a dizer ao povo: ‘Vocês
dizem isso? Então, confiarei outra vez em vós, por pouco tempo; aqui está a
Bíblia para vocês. Eu verei como vocês a usarão. Se vocês a amarão mais, se
darão mais valor, se irão praticar mais do que ela ordena e se irão conformar
as suas vidas aos seus ensinos’.
O efeito da argumentação na
consciência da multidão ali reunida não dá para ser descrito em palavras. Foi
penetrante e muito tocante. A multidão que ouvia derramava lágrimas e
retirou-se dali comovidos por aquela impactante pregação.
O resultado prático do bem que
aquela pregação produziu. Estava presente naquele auditório um jovem estudante
de Cambridge, chamado Thomas Goodwin, que tinha então dezenove anos de idade.
Ele ouviu aquelas palavras veementes e viu a solicitude do pregador, ele viu
nos seus olhos o amor anelante para com aquelas almas, a realidade da sua luta
em oração com Deus, e todo o seu ser ficou comovido.
Depois que a congregação foi
despedida, ele preparou-se para montar a cavalo e voltar para Cambridge, mas
sentiu-se tão profundamente impressionado e tão fraco para prosseguir viagem
que deixando cair a cabeça sobre o pescoço do seu cavalo, chorou por um quarto
de hora. Naquele dia foi despertado em sua alma um amor pela Palavra de Deus
que nunca mais se extinguiu, naquele dia foi acesa a chama em sua alma que
ardeu até a última hora de sua vida.
Depois disso Goodwin veio a ser
o eminente ministro do evangelho e profundo teólogo, e ele mesmo narrou a
história daquele dia ao erudito John Howe, sessenta anos depois, quando esses
dois grandes puritanos se achavam juntos”.
Conclusão:
Qual efeito produz em tua alma essa pequena história?
Como você tem tratado o bendito Livro de Deus? Como pretende trata-lo
futuramente?
Quem
dera que aquele incidente memorável que ocorreu a exatos 400 anos, venha a ser
para vossa alma como o toque dos ossos de Eliseu ao cadáver que foi enterrado
em seu sepulcro, e vivifique a sua vida renovando-a e lhe dando um novo amor
pela Palavra de Deus que pode lhe tornar sábio para a salvação pela fé que há
na pessoa gloriosa de Jesus Cristo e que é a única sobre a qual podemos
descansar a alma cansada na hora da morte.
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