segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Salvação: Presente, Passado e Futuro

No mês de Agosto passado no CPAJ, cursei a disciplina “Puritanismo e Escolásticismo protestante”, onde vimos os teólogos da pós-Reforma, puritanos de um brilhantismo sem par. Estudei vários deles e me interessei por um em especial, Herman Witsius, pela sua ousadia e brilhantismo acadêmico nas obras que escreveu.


O que mais chamou-me a atenção foi a teologia dos pactos, especialmente o “Pactum Salutis”, ou Pacto da Redenção, onde na sua obra mais importante, “The Economy of Covenants...” ele trata do assunto em um capítulo inteiro, explicando inclusive exegeticamente a sua argumentação.

Esse artigo trata da salvação, tendo por base a “Doutrina dos Convênios”, no tópico “Pactum Salutis” ou Pacto da Redenção. Boa leitura.

"O tempo passado e o tempo presente estão os dois juntos no tempo futuro", escreveu T. S. Elliot.

Suas palavras simples e eloqüentes descrevem o fluxo normal da história. Mas a carta aos Hebreus apresenta uma perspectiva muito diferente sobre os propósitos de Deus e dos padrões no fluxo da história.

Lá, seria verdade dizer que o futuro determina o passado e o presente, ao invés do contrário. Para entender Hebreus - e, portanto, compreender como a Bíblia como um todo funciona - precisamos entender esse enigma: O invisível é mais importante do que o visível. O futuro vem antes do passado. O novo é mais fundamental do que o antigo.

O que significa tudo isso?

Simplificando, significa que a história do Senhor Jesus, Sua pessoa e obra, não é um plano “B” de Deus, para suprir o que deu errado no Éden. Não - a vinda de Cristo estava no plano de Deus antes da queda.

Evidentemente que de um certo ponto de vista, o Antigo Testamento serve como modelo do que Cristo viria a realizar, mas Hebreus nos ensina a nunca perder de vista o fato de que o sacerdócio, os sacrifícios, a liturgia e a vida da igreja no Antigo Testamento “são sombras do que viria”. Cristo é o original, Ele é o protótipo. Este princípio é exemplificado em sua expressão mais clara em Hebreus 9:23, que se refere ao tabernáculo do Antigo Testamento, o sacerdócio e os sacrifícios como "figuras das coisas celestiais." Contudo, mais pitorescamente, Hebreus 10:1 descreve a lei como "sombra dos bens vindouros”. Cópias dependem de um original, uma sombra não existe além da pessoa cuja sombra é projetada.

O Sacerdócio de Cristo é o verdadeiro sacerdócio que é prefigurado no sacerdócio Aarônico. O significado mais profundo do sacrifício de Cristo é expresso de forma fragmentada no sistema de sacrifícios mosaico. Mas é claro que essas sombras são apenas isso - as sombras, sugestões, esboços - e nada mais.

A repetição diária do ministério sacerdotal do sacrifício no altar, a incompetência do sangue de um animal para tirar a culpa de um ser humano - são indícios de que este acordo, embora divinamente ordenado, não é o final. Algo que está além dele, para o qual ele aponta aqui, é maior, mais duradouro, mais gratificante, mais real, porém, ainda por vir (Hebreus 11:39-40).

CS Lewis, em uma de suas obras mais famosa, “As crônicas de Nárnia”, descreve a terra de Nárnia que foi colocada sob o feitiço da “Feiticeira Branca”. Sua magia é profunda, criando um mundo onde é "sempre inverno, mas nunca é Natal."

Mas, através do sacrifício do “Rei Leão, Aslan”, uma magia "mais profunda desde antes da aurora dos tempos" é lançada, através da qual a terra se liberta e é salva da maldição. O tempo futuro já estava preparado no tempo passado. Portanto, no Evangelho Deus tem um plano, esse plano é chamado o Pacto da Redenção, (Pactum salutis).

Teólogos famosos como Thomas Boston e Jonathan Edwards discordaram de outros teólogos que defenderam o “Pacto da Redenção”, quanto a saber se o plano deve ser descrito como um pacto a todos.

O Deus triúno tinha um plano, que envolveu o compromisso mútuo entre o Pai e o Filho e o Espírito para salvar um povo. Esse é o posicionamento de teólogos da pós-reforma como Herman Witsius, cuja obra escrita sobre a teologia dos pactos é fenomenal.

Antes de todos os tempos, antes de todos os mundos, quando não havia nada "vazio completo" o próprio Deus-Pai, o Filho e Espírito Santo habitavam a eternidade, planejaram de modo eterno, absoluto e inimaginável, na sua trindade santa – fizeram um Pacto Eterno de criar um mundo que iria cair, mas que iria ser alvo de sua graça e salvação eterna.

Esta graça profunda de Deus, de antes do amanhecer do tempo - retratada nos rituais dos líderes e das experiências dos santos do Antigo Testamento (cf. Heb. 11:39-12:3) - agora é a nossa salvação. Estas são as dimensões do que o autor de Hebreus chama de "tão grande salvação" (Hb 2:3). Nossa salvação depende da aliança de Deus, enraizada na eternidade, no plano da Trindade, prefigurada na aliança mosaica, cumprida em Cristo, e que permanece para sempre.

2 comentários:

Pastor Dilvan Oliveira disse...

Sempre sou sincero contigo, pois acho que assim deve agir um amigo,e considero você como amigo. Então, deixa eu te dizer: Poucas vezes, vi você escrever tão bem, defender tão bem uma doutrina tão bela.Os argumentos e as citações muito bem colocadas. Me incentivou a ler sobre o assunto. Parabéns, sei que o blog deve ser usado como se fosse um jornal, etc... Mas, acho que as vezes você passa muito tempo falando de política. Acho que você poderia nos presentear mais com as discussões levantadas como está,distribuindo aos seus leitores o aprendizado recebido no CPAJ.Parabéns pelo artigo.

Rev.Dilvan

Rev. João d'Eça disse...

Prezado rev. Dilvan.

Agradeço as suas elogiosas palavras, elas muito me estimulam a continuar.

Devo lhe dizer que o fato de eu estar escrevendo sobre política esses tempos deve-se ao momento atual, mas daqui a três dias isso acaba. Estou orando pra Deus orientar o povo brasileiro conforme a sua vontade.

Após a passagem dessa fase, eu voltarei a escrever coisas bem mais edificantes e, seguindo a sua orientação, sobre a Teologia dos Pactos.

Obrigado pelo elogio.

Que Deus te abençõe.

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