ACERCA DA JUSTIFICAÇÃO - PARTE I
Por Rev. João d'Eça¹
Introdução:
A mensagem central da Bíblia é a boa notícia (Evangelho), que Deus realizou a salvação dos seus eleitos através da pessoa e obra de Seu Filho Jesus Cristo. O evangelho é a realização do objetivo histórico de Jesus Cristo em cumprir a lei e satisfazer a ira divina, para que eu possa ter comunhão com Deus. A doutrina da justificação, portanto, fica no centro da mensagem bíblica da salvação.
Calvino escreveu que a justificação não é um ponto de somenos importância doutrinária, não é um tema que deva ser debatido apenas pelos teólogos. "Onde o conhecimento é levado embora, a glória de Cristo é extinta, a religião é abolida, a Igreja é destruída, e a esperança de salvação totalmente derrubada". (Resposta para Sadoleto).
Se os nossos corações anseiam, como o coração de Calvino ansiava por ver Cristo glorificado, a verdadeira religião estabelecida, e a igreja edificada, é imperativo que refletimos profundamente sobre essa doutrina.
A REVELAÇÃO DA JUSTIÇA DE DEUS
As Escrituras deixam claro que toda a humanidade já nasceu morta em seus delitos e pecados, sendo filhos da ira por natureza (Ef 2:1-3). Através da transgressão de Adão, o pecado entrou no mundo e pelo pecado, a morte, que é o salário do pecado (Rm 5:12, 6:23).
Adão estava diante de Deus como nosso representante federal. Quando ele pecou, sua culpabilidade foi imputada a todos nós que somos seus descendentes, com exceção apenas de Jesus Cristo. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens.” (Rom. 5:12 ).
Preso e condenado pelo pecado que herdou, o homem pode muito bem perguntar: "Como pode um homem ser justo diante de Deus?” (Jó 9:2). No entanto, Deus não deixou toda a humanidade perecer nesta condição. Em Romanos 3:21, Paulo faz uma declaração muito significativa: "Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela e pelos profetas;" A frase "mas agora" não é uma transição lógica, mas uma redenção histórica. A Lei e os Profetas testemunharam a vinda dessa justiça: "...minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, prestes a manifestar-se”. (Isaías 56:1; 46:13, 51:4-8, 59:15-21; Salmo 98:1-2 ). Mas agora Deus soberanamente interveio para inaugurar uma nova criação. E Ele o fez "para além da lei", porque a lei só poderia exigir, mas nunca fornecer a justiça que Deus requer.
Qual é nova obra de Deus que revela a Sua justiça? É nada menos que a "exposição" do Seu próprio Filho, cuja obediência, morte e ressurreição, demonstra a justiça de Deus, de modo que ele será justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus e pela palavra do evangelho entrega a sua vida a ele. (Rm 3: 25-26). Por esta razão, Paulo enfatiza repetidamente que "é a justiça de Deus". (Rm 1:17; 3:21-26, 2 Coríntios 5:21; Fil. 3:9).
A vinda de Jesus Cristo foi a inauguração de uma nova aliança. Assim como o primeiro Adão estava diante de Deus como nosso cabeça federal ou nosso representante, o último Adão, Cristo é também o representante dos eleitos. (Rom. 5,12-19). Quando Ele obedece, Sua justiça é imputada a todos os que estão unidos a Ele pela fé. (Rom. 5:18).
Vemos esta aliança de Cristo em todas as narrativas do Evangelho. Quando Jesus foi batizado com o batismo de arrependimento por João, ele se identificou com o pecado do Seu povo. Embora João tenha ficado perplexo com isso, Jesus teve que ser batizado para "cumprir toda justiça". Logo que ele saiu da água, o Espírito de Deus desceu sobre Ele em forma de uma pomba e uma voz veio do céu e disse: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (estou bem satisfeito)". (Grifo nosso). ( Mat. 3:15-17).
Jesus foi igual a seus irmãos em todos os sentidos, exceto no pecado, a fim de entrar no lado humano da aliança e viver a vida perfeita de obediência diante de Deus que se exigia de nós. O tema continua na narrativa do evangelho, porque Jesus é imediatamente enviado para o deserto para ser tentado pelo diabo (Mat. 4:1-11). Ao contrário de Adão, Jesus obedeceu ao Pai e resistiu à tentação da serpente.
Continua no próximo post.
¹Pastor presbiteriano, Mestrando em Teologia pelo CPAJ/Mackenzie
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