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Rev. João d’Eça, MD
Lutero com o
seu trabalho em prol do Evangelho de Jesus Cristo, arrancou das garras do papa
metade de toda a Europa de sua época e abalou o mundo conhecido de então, com
repercussões até os nossos dias. Ele recebeu um salvo conduto do Imperador
Carlos V, no qual estava escrito: “ao mui
pio e caro doutor Martinho”. Foi Lutero o homem que recebeu a estima e
amizade do príncipe Frederico, o sábio, foi amigo de Spalatin, dos sábios e dos
cavaleiros da Alemanha e concentraram-se nele todos os olhares da Europa.
Roma queria queimá-lo; mas todo o
poder e explendor de Leão X não conseguiu reduzir em cinzas, o “bêbado
Saxonico” como ele lhe chamava. Caetano e Aleander, o sábio e astuto, primeiro
orador de seu tempo, mandado à Dieta de Worms para representar o poder papal,
não conseguiram seus intentos.
Se Lutero fosse na verdade o que
os seus inimigos queriam que ele fosse, se na verdade ele tivesse sido um
neófito, então o que diríamos do romanismo e do seu papa?
Resumo biográfico de Lutero
Nasceu em Erfurt na Turíngia, em
10 de novembro de 1483. Depois de ter iniciado os estudos em Erfurt, foi para a
universidade onde depois de quatro anos recebeu o grau de Mestre em Ciências e
Doutor em Filosofia.
Entrou para o convento dos
agostinianos, e conforme diz Dollinger, Staupitz o isentou dos serviços
prescritos pela ordem. A Universidade de Erfurt, a mais célebre da Alemanha à
época, já havia concedido a ele o grau de Mestre em Ciência e doutor em
Filosofia em uma festa com grande pompa.
O trabalho de Lutero no convento
era o de vigia, abrir e fechar portas, dar cordas no relógio, varrer a igreja e
limpar as celas, e quando tinha acabado o serviço cum sacco per civi tatem, com o saco pela cidade. Esse foi tratamento
que o jovem doutro recebeu no convento.
Sobrecarregado com tantos
trabalhos não lhe sobrava tempo para os seus estudos e os seus superiores no
convento não lhe permitiam que ele deixasse o trabalho para estudar. Quando o
viam debruçado sobre uma leitura, murmuravam: “não é preciso estudar mas
mendigar pão, trigo, ovos, peixes, carne e dinheiro para se tornar útil ao
convento.”[1]
O piedoso e sábio Staupitz,
somente depois, a pedido de alguns amigos de Lutero, lhe mitigou a aspereza do
tratamento, isentando-o de alguns serviços para dar-lhe tempo de estudar. Assim
era o jovem Lutero, acusado injustamente pelo romanismo de orgulhoso.
Lutero ordenado sacerdote
O jovem Lutero depois de dois
anos de sofrimento e trabalhos duros no convento foi ordenado sacerdote. Quando
Lutero convenceu-se do sacrifício único do filho de Deus, quando entendeu o
alcance da morte de Jesus Cristo, quando reconheceu o Cristo como a única
vitima pelo pecado e como único sacerdote, e, lembrando se das palavras: “accipe potestatem sacrificandi pro vivis ed
mortius”[2] proferidas pelo
bispo ao lhe entregar o cálix, exclama: “Se a terra não nos engoliu então a
ambos, não foi porque não o merecêssemos, mas sim pela grande paciência e
longanimidade do Senhor.”
Lutero experimentou tremendas
lutas contra o pecado aos quais não eram compreendidas pelos outros frades do
convento que viviam somente para comer e ter regalias eclesiásticas, enquanto
que o jovem Lutero estava em busca da verdade e da paz completa em sua
consciência. Ele procurava viver uma vida de santidade e pensava que alcançaria
no claustro, vestindo o hábito dos agostinianos, cria também expiar os seus
pecados pelas obras mortas da carne, com as penitencias que a “santa igreja”
lhes impunha. E ainda pior para a sua mente atormentada, ele se ocupava em
sacrificar a carne com jejuns, macerações e vigílias. Lutero diz:
Eu me atormentei até a morte
afim de alcançar para meu coração perturbado e minha consciência agitada, a paz
de Deus; mas, rodeado de trevas espantosas não achei paz em parte nenhuma.
Velava, jejuava, maltratava meu corpo, nada conseguia com isso. Então prostrado
de tristeza, atormentava-me com a multidão de meus pensamentos. Vê! Gritava comigo
mesmo, és ainda invejoso, impaciente, colérico!... Então de nada te serviu o
teres entrado nesta sagrada ordem.[3]
Seu amigo Filipe Melanchton
testemunha: “Seu corpo se consumia, as forças o abandonavam, chegava às vezes a
ficar como morto”.[4]
Em outro momento da vida de
Lutero no convento há o seguinte testemunho:
Oh, exclamou o frade
saxônico. Se a consolação do Evangelho de Cristo não me teria salvado eu não
teria tido dois anos de vida. Nunca a igreja de Roma teve um frade mais devoto,
Nunca em convento algum se viu uma aplicação mais sincera e mais infatigável
para conseguir felicidade eterna.[5]
Em uma carta que escreveu ao
duque Jorge da Saxônia, ele diz: “Se jamais houve frade que entrou no céu pela
sua dedicação, eu de certo poderia entrar”.
Lutero e a Bíblia
Até que se converteu lendo as
Sagradas Escrituras em Rm. 1.17, Lutero sofreu amarguras, lutou contra si
próprio, ficou desesperado pelo pecado, assim como o apóstolo Paulo, o rei Davi
e todos os crentes que em comunhão com Deus, sustentam as mais terríveis lutas
com o adversário das nossas almas. Quem não passa por lutas assim, sendo
cristão, não é um verdadeiro cristão.
O crente verdadeiro quando é
despertado pela iluminação do Espírito Santo vê a santidade dele e a sua
profunda miséria diante de um Deus que exige pureza de coração, de pensamento,
de motivo e, posto face a face com esse Deus Santo, não pode senão desesperar
de si mesmo, e gritar como fez o apóstolo Paulo: “Miserável homem que sou quem
me livrará do corpo dessa morte?”[6]
A resposta é dada pelo apóstolo
dos gentios na sequencia: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De
maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas,
segundo a carne, da lei do pecado”.[7]
Esse é o meio para aplacar o desespero da lama de Lutero. Foi a crença na
remissão do pecado pelo sangue de Jesus Cristo que tranquilizou sua alma e
sarou as feridas abertas pelas invencionices do romanismo.
Quando a alma sedenta aspira
alguma coisa mais do que a santidade exterior, essa capa com que se encobre a
maldade interna, não fica satisfeita até achar a Fonte cristalina, o Rio da
vida onde pode saciar a sua sede, onde acha graça e perdão. Esse perdão e essa
graça só pode ser encontrado em Jesus Cristo crucificado, “porque debaixo do
céu não existe outro nome dado pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos
4.12).
A graça e o perdão de Deus só
podem ser obtidos mediante a fé (Ef. 2.8). Essa é a verdadeira doutrina
paulina, diferente da doutrina romanista que alega a prática de boas obras,
igual ao espiritismo kardecista. O apóstolo Paulo diz em Romanos 5.1: “Justificados,
pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.”
Desse modo concluímos que Lutero ensinou o que aprendeu de Paulo, ele estava
arraigado na doutrina dos apóstolos, foi fiel a essa doutrina, lutou pela
verdade e venceu.
Lutero lutou contra todas as
aberrações do romanismo com as suas doutrinas perniciosas como a missa, a
confissão, as indulgências e contra todos os dogmas humanos, extraídos não das
Sagradas Escrituras, mas de mentes humanas pervertidas. Haverá doutrina mais
destruidora do que essas? Erasmo de Roterdã respondendo a Frederico, o sábio, a
cerca de Lutero, lhe respondeu: “Lutero cometeu dois grandes crimes: atacou a
tiara do papa e a barriga dos frades”.
Conclusão
Lutero foi um homem diferenciado
em seu tempo, aprouve a Deus escolhê-lo para tão grande e árdua tarefa. Ele
incomodou os ultramontanos (romanistas) e o testemunho que se dá dele é: “Cristão
austero, alemão de costumes simples e puros, homem de razão desenvolvida”.[8]
Lutero era em tudo diferente de
João Tetzel (o vendedor de indulgências), charlatão de feira que embebedava-se
nas tavernas e sendo convencido de adultério em Inspruck, foi salvo de ser
lançado ao rio cozido em um saco por Frederico da Saxônia. Que diferença entre
esse monge de costumes simples e o jovem cardeal eleitor de Moguncia e
Magdeburgo cuja sede de dinheiro para sustentar o luxo de sua coorte oriental
era insaciável. Que diferença entre esse homem de fé profunda e o famigerado
papa Leão X que tratava o cristianismo de fábula. E os outros papas tipo Bento,
os Bórgias, plêiade de criminosos ilustres que foram a vergonha da humanidade.
O escritor Petrarca, ao
contemplar tanta miséria descreve o vaticano como um covil de ladrões: “La grota dei ladroni”.
[2]
“Tome o poder de sacrificar para os vivos e os mortos”
[3]
MELANCHTON. Vita Luteri.
[4]
Op. Cit
[5]
Cochloens.
[6]
Romanos 7.24
[7]
Rm. 7.25
[8]
CANTÚ, vol. 13. P. 369
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