By
Rev. João d’Eça, MD
Introdução
A Reforma
Protestante do Séc. XVI, depois do estabelecimento do Cristianismo, é o maior e
o mais importante evento ocorrido no mundo. A Reforma foi preparada pela
descoberta da imprensa pelo alemão João Guttenberg (1396-1468) e pelo
renascimento das letras. Foram esses eventos que ajudaram a estabelecer a
Reforma e desembaraçar o Cristianismo de adições comprometedoras.
Ao longo dos séculos anteriores a
igreja havia se distanciado de um modo singular da sua primitiva simplicidade e
pureza. O partido judaico-cristão, foi combatido com muita força pelo apóstolo
Paulo, quando este ainda era Saulo de Tarso. Eles haviam conseguido implantar
na sociedade cristã ideias e costumes emprestados exclusivamente do velho Testamento.
As pompas do culto, necessárias a
um povo grosseiro e rudimentar que ainda se achava no berço da sua existência
política, insinuaram-se na igreja, copiando o sacerdócio israelita e, de
imitação em imitação, acabaram por ter a hierarquia dos sacerdotes judaicos,
desde o sumo pontífice até o mais humilde dos ministros do templo.
O judaísmo assimilado
Os judeus
tinham o sacrifício perpétuo: quiseram também ter esse mesmo sacrifício. Tinham
uma lâmpada que nunca se apagava: acenderam uma lâmpada nos santuários
cristãos. Tinham altares que se inundavam no sangue das vítimas: fizeram-se
também altares sob os quais imola-se uma vítima incruenta. Tinham festas
solenes, instituíram-se festas análogas em um novo culto.
Esta imitação dos ritos judaicos
explica-se facilmente. Moisés e os profetas foram os antepassados do Salvador,
os arautos da sua vinda. Deus havia falado pelos antigos profetas, os seus
escritos eram a reverberação das palavras divinas. Perpetuar as cerimônias no
culto cristão pareceu-lhes naturalmente ser obediência aos mandamentos de Deus.
Eles não distinguiam suficientemente, na antiga aliança, o que era permanente
do que era a forma transitória das ideias que essa aliança exprimia.
Confundiram os ritos cristãos com os ritos judaicos. Por esta razão é que vemos
esse fundo de judaísmo no romanismo.
O paganismo assimilado
A igreja da
Idade Média emprestou muitas coisas do paganismo. O paganismo transmitiu muitos
dos seus usos e tradições ao romanismo. Muitos desses são costumes que se
consideram inocentes, que se desculpam no princípio e que mais tarde passa-se a
tolerar. Esses costumes depois de tolerados se perpetuam nas massas as ideais e
superstições que elas de bom grado tornariam receber. O fim de tudo isso é que
o romanismo ficou impregnado da antiga religião pagã e os seus adeptos nem
sequer percebem.
Essa assimilação do paganismo
pelo romanismo instalou entre o Deus supremo e o homem, colocando um exercito
de semi-deuses, de heróis divinizados. Em lugar das deusas pagãs, tem-se a
virgem Maria e os santos; em lugar dos deuses domésticos do paganismo surge a
figura dos padroeiros e das padroeiras das famílias, das cidades, dos estados e
até mesmo da nação. O romanismo criou uma corte de deuses como os deuses do
Olimpo. A ideia de uma revelação permanente teve a sua origem na ideia cristã
de uma revelação escrita.
Os profetas do povo Hebreu eram
usados pelo Espírito Santo e viviam em comunhão com Deus. Eles foram os que
redigiram os oráculos do Eterno e esses oráculos tornaram-se o código religioso
de Israel.
Diferentemente o paganismo nunca
teve um código religioso, não tinham revelação escrita nem um corpo de
sacerdotes ou um clero que servia de intermediário entre os deuses e os homens.
Os deuses não falavam aos homens, falavam aos sacerdotes. Para consultar os
deuses era necessário o ministério dos sacerdotes. Os sacerdotes eram por assim
dizer, o primeiro degrau dessa escada de seres divinos que se terminava em
Júpiter. Os seus ensinos eram infalíveis e a sua autoridade incontestável.
Desobedecer a esses sacerdotes era o mesmo que revoltar-se contra o culto
nacional, contra o “deus” que protegia o país ou a nação. Para os pagãos tudo
se reduzia à obediência aos sacerdotes.
Os sacerdotes no paganismo era o
representante oficial da religião, a sua viva encarnação. Ninguém podia dispensar
o seu ministério em nenhuma cerimônia pública, assim o paganismo não passava de
uma religião humana, a glorificação do homem na pessoa do sacerdote, ou ainda,
a exaltação do homem na deificação dos imperadores. Não é assim mesmo que é no
romanismo e no neo-evangelicalismo atual?
O Romanismo e o culto às imagens
O velho
paganismo reviveu na Idade Média através do culto aos santos e da autoridade
excessiva do clero católico. A religiosidade pagã foi derrotada e o nome dos
seus deuses desapareceram para reaparecer no romanismo com novos nomes de
santos católicos e com a ideia de que eles, por conhecerem a fraqueza humana,
estariam habilitados para interceder pelos humanos.
Com essa maligna ideia implantada
no coração dos homens, os homens passaram a ter medo do Deus Santo, inventaram
com isso “deuses” mais maleáveis, menos terríveis, sujeitos às paixões humanas,
assim como os deuses do paganismo eram.
A Igreja da Idade Média foi uma
espécie de desenvolvimento natural do neo-paganismo. O romanismo misturou o
judaísmo, o paganismo e o cristianismo e confundiu a cabeça das pessoas,
criando um novo paganismo sincrético. Foi exatamente isso que os Reformadores
do sec. XVI combateram veementemente. Os Reformadores lutaram para voltar ao
cristianismo primitivo e puro, muitos perderam a vida por isso, enquanto que a
massa dos cristãos se acomodava, às cegas, a esse neo-paganismo no qual o Deus
Santo desaparecia atrás da nuvem dos seus ministros ou colaboradores, no qual
Cristo também conservando a coroa da sua dignidade, parecia ter abdicado sua
obra de mediador em benefício e glória de sua mãe.
Por séculos e até o tempo da Reforma,
o romanismo viveu essa contradição e como já mostrou a História, isso não podia
durar ad infinitum. A igreja
romanista separou-se grandemente dos ensinos bíblicos e mais cedo ou mais tarde
a “bomba” iria explodir e as consciências cristãs iriam se insurgir. Deus
levantou o homem Lutero para que ele fosse o interprete dessas consciências.
Lutero encontra a Bíblia
Lutero
formou-se na Escola do apóstolo Paulo e protestou contra o cristianismo
judaizante que da Idade Média aumentara enormemente com a inserção dos elementos
do paganismo. Lutero protestou não em nome da razão ultrajada, mas sim, em nome
da verdade falsificada, protestou em nome de sua consciência que suspirava por
uma paz vinda diretamente de Deus.
A Bíblia foi a mola propulsora do
seu protesto, ou, mais precisamente, a Bíblia o fez entender que o verdadeiro
Deus devia conservar-se no primeiro plano, ser, não uma divindade terrível, mas
a divindade clemente e misericordiosa de quem podemos nos aproximar, a quem
podemos pedir a sua graça através do único mediador que ela mesma estabeleceu,
Jesus Cristo, o Redentor Onipotente. Lutero compreendeu isso e desde esse
momento, fez-se uma revolução em seu espírito e por meio dele, em toda a
igreja.
Aos olhos de Lutero a Igreja não
era mais que a dispensadora de perdão aos miseráveis; era a detentora de santos
que intermediavam entre a terra e o céu; que Maria era uma “deusa” que cerca os
homens com a sua ternura infinita e que, como uma advogada implora o perdão
divino de seu Filho; ele cria que o clero era uma casta privilegiada que abre,
a seu bel prazer, as portas do céu.
Depois que Lutero descobriu a
Bíblia naquele dia na biblioteca de Wittenberg, ele agora só via Deus ofendido
propiciado pelo sacrifício de Cristo no Calvário e do qual o homem pode
aproximar-se arrependido e colocar toda a sua confiança no Senhor Jesus Cristo.
Dai por diante tudo desapareceu da alma de Lutero e ele encontrou-se com o Deus
da graça. Ele proclamou com força os benefícios desse encontro, a certeza do
perdão, a certeza da vida eterna, de uma vida
nova que jorra dessa fé, uma alegria imensa que brota dessa
reconciliação. As palavras de Matinho Lutero ecoam desde aquele tempo por toda
a cristandade.
Resultados práticos da Reforma
O
povo trocou a autoridade do papa pela autoridade de Deus, a intercessão dos
santos, pela intercessão do Cristo, a mediação de Maria pela mediação do Salvador,
Jesus Cristo, a submissão ao clero pela submissão à palavra dos apóstolos. A
igreja se viu livre dos elementos estranhos que a tinham invadido, do judaísmo e
do paganismo, que haviam alterado a sua doutrina, que havia extinguido a sua
simplicidade e pureza primitiva. O povo apoderou-se da fé cristã antes oculta
sob um monte de práticas supersticiosas.
A mão dos Reformadores arrancou
as ervas daninhas que envolviam o Evangelho primitivo e que davam a esse
Evangelho um ar de paganismo e judaísmo. Os Reformadores não inventaram um novo
Evangelho, eles somente proclamaram o antigo Evangelho que o romanismo havia
obscurecido. Os Reformadores não inventaram um novo Cristo sem divindade e sem
redenção, eles trouxeram à luz a grande figura do Salvador, Jesus Cristo.
Ainda há perigos
O
cristianismo judaizante ainda prossegue na sua obra destrutiva apesar de que o
verdadeiro Evangelho o tem ferido mortalmente. O falso evangelho não resistirá
à difusão dos santos Evangelhos, das cartas paulinas e das Escrituras como um
todo, que tem sido conhecidas e difundidas nos quatro cantos da terra.
Infelizmente ainda há perigos outros
que ameaçam o cristianismo, dentre eles, o orgulho humano, em que muitas
pessoas acham que podem viver sem a graça de Deus e esnobam o Evangelho. Mal
sabem esses que toda dádiva vem de Deus.
Conclusão
O
Cristianismo bíblico venceu o cristianismo judaizante da Idade Média. Nós os
cristãos Reformados não devemos nunca abandonar a nossa bandeira, que foi a
mesma bandeira da igreja primitiva e que será a mesma bandeira que amanhã se
hasteará: O Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário