quarta-feira, 21 de outubro de 2015

SEMANA DA REFORMA - LUTERO E A BÍBLIA - 31/10/2015 - 498 anos de Reforma Protestante


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Rev. João d’Eça



Deus renovará o mundo! – Estas foram as palavras proféticas de Lefevre d’Etaple. Foram essas as palavras que se cumpriram na colossal revolução conhecida na História pelo nome de Reforma Protestante do Século XVI.

O mundo de então, vivia em trevas agudas, a Idade Média ficou conhecida na como Idade das Trevas, porque o pensamento majoritário do papado contaminou a cultura e a religião, a ponto de a sociedade medieval viver em completo desconhecimento sobre tudo. A cristandade reclamava uma reforma e vinham de todos os lados sinais de precursores de uma revolução religiosa que trouxesse a Escritura Sagrada, a Bíblia, para a vida do povo, para orientar os caminhos da sociedade, da educação e da religiosidade.



Tomás de Aquino (1225-1274) foi o grande incentivador da suserania[1] e que o papa Alexandre VI (1431-1503), nascido Rodrigo Borgia, foi o 214º papa, para fazer a partilha do mundo, serviu-se dela. Já o papa Júlio II (1503-1513), desligava do juramento de fidelidade os súditos do rei da França, Luis XII convocava contra o papa o Concilio de Pisa, a Pragmática de Bouges despertava o entusiasmo pelos parlamentos e os doutores da Sorbonne usavam de uma linguagem cuja audácia admirável.


Essa tentativa de reforma foi imperfeita. Ela tinha por corifeus Erasmo e Carlos V. O século XVI viu erguer-se imponente a Reforma evangélica representada por Martin Lutero, mais ou menos radical, cujo principal objetivo foi proclamar a supremacia da Bíblia em matéria de fé e prática. Antes da Reforma Protestante a Bíblia era um livro totalmente desconhecido.



Com a redescoberta da Bíblia no período da Reforma, o mundo mudou, as coisas mudaram, a sociedade enxergou um novo norte em todas as suas áreas. A Bíblia veio transformar o mundo. O impacto que a Bíblia causou foi tão grande, a ponto do arcebispo de Mainz, Alberto de Brandeburgo (1490-1545), dizer: “Não sei bem que livro é esse; somente sei que o que nele se lê, é contra nós.” Carlstadt, professor em Wittenberg, começou a ler a Bíblia só depois de oito anos de doutorado.

Um testemunho de Martin Lutero sobre a Bíblia, é muito interessante, ele diz:

Quando eu estava com 20 anos de idade, eu ainda não havia visto uma Bíblia. Eu achava que não existiam evangelhos ou epístolas exceto as que estavam escritas nas liturgias dominicais. Finalmente, encontrei uma Bíblia na biblioteca e levei-a comigo para o mosteiro. Eu comecei a ler, reler e ler tudo novamente, para grande surpresa do Dr. Staupitz.


A Reforma protestante é o anjo do apocalipse voando pelos céus com o evangelho aberto, segundo alguns comentaristas. A Escritura Sagrada forma o centro da Reforma, Lutero sentiu isso e Deus o guiou na redescoberta da Bíblia.

Em um outro comentário, Lutero fala sobre a Bíblia, diz ele:


A Palavra de Deus, passando pelos pais apostólicos me faz o efeito de um pouco de leite que se fizesse coar por um saco de carvão. As palavras dos Pais, dos homens, dos anjos, dos demônios, oponho, não o uso antigo, nem a multidão, mas a Palavra única da eterna majestade, o Evangelho que eles mesmos são forçados a reconhecer. No Evangelho me conservo, me assento e descanso; ele é a minha glória e o meu triunfo dele eu insulto os papas, os tomistas, os sofistas e todas as portas do inferno. Pouco me importo com as palavras dos homens, seja qual for a sua santidade; pouco me importo com a tradição, com os costumes enganadores. A Palavra de Deus é sobre tudo. Se a majestade é por mim, que me importa o resto, mesmo que mil Agostinhos, mil Ciprianos, mil igrejas de Henrique VIII, se levantem contra mim! Deus não pode errar nem enganar: Agostinho e Cipriano, como todos os escolhidos podem errar e tem errado.

Lutero viveu para pregar a Bíblia, o tempo todo depois que descobriu. Ele não abandonou a Sagrada Escritura até os seus últimos dias. Ele a pregava constantemente, e disse sobre isso:

A Palavra de Deus é o mais precioso de todos os bens, excede a todos os tesouros do mundo. Quem está privado dela, sofreu uma verdadeira fome espiritual. Queira Deus que semelhante desgraça nunca nos aconteça. Seria melhor que fossemos degolados pelos turcos.

Era na Bíblia que Lutero se fortalecia. Num outro comentário seu ele expressa o que sentia quando lia a Sagrada Escritura:

Quando o diabo me acha ocioso e que não penso na Palavra de Deus, turba-me a consciência, sugerindo-me que eu não estou pregando a verdade, que eu estou perturbando o governo, que, com aminha doutrina, tenho dado muitos escândalos e promovido grandes rebeliões. Mas, quando tomo a Palavra de Deus, resisto ao diabo e lhe digo: ‘Eu sei pela Palavra de Deus e estou certo de que essa doutrina não é minha, mas sim do Filho de Deus.

Em Augsburgo Lutero proclamou em alto e bom som: “A Bíblia, A Bíblia, A Bíblia!” Foram essas as suas palavras em Augsburgo, Leipzig e em Worms ele disse: “Refutai-me pela Escritura! Persuadam-me pela Escritura! Eu obedeço somente à Escritura”.

Lutero viveu o resto da sua vida pela Escritura Sagrada, desde que a descobriu naquele dia na biblioteca. O seu trabalho semanal e predileto era a tradução da Bíblia que marca o momento na história da Reforma. Ele traduziu o Novo Testamento em Wartburgo. Mais tarde dedicou quinze anos de sua vida à tradução do Antigo Testamento. Nesse trabalho teve alguns de seus amigos como auxiliares. Cada palavra do texto era pesada e debatida com os seus companheiros: Melanchton, Bugenhazen, Jonas, Criciger, Auragalus. Eles davam conselhos e Lutero decidia. Nessa tradução era gasta às vezes, três semanas na versão de uma frase, tal era o cuidado e as minuncias do trabalho de tradução.

A intenção de Lutero era que todos, ao ler, pudessem compreender o texto Sagrado, e por isso, pedia expressões à sua esposa e seus filhos, aos operários que encontrava no caminho. Depois disso vinham os seus amigos para fazer o trabalho de revisão: Um trazia a sua Bíblia em latim, outro o texto em Hebraico, outro a versão  LXX e outro uma versão caldaica.

Dessa forma o trabalho foi concluído em Wartburgo. Em 1534 a Alemanha tomou posse da Bíblia completa traduzida em uma linguagem viva, simples e popular.

A propaganda que Lutero fez da sua tradução da Bíblia obteve grandes resultados. Um autor hostil à Reforma Protestante, chamado Cochleus, diz o seguinte:


“Mesmo os sapateiros, as mulheres e todos que sabiam ler o alemão, liam e reliam com grande avidez o Novo Testamento, como sendo a única fonte de toda a verdade e acabavam por decorar o seu conteúdo. Eles levavam consigo o Novo Testamento. Lutero havia persuadido a seus discípulos que não dessem crédito a cousa alguma que não fosse lida da Escritura!

A Bíblia traduzida por Martinho Lutero tornou-se um livro popular. Era encontrado em toda parte. As mulheres a liam em passeio. Era um livro estudado e discutido. A tradução da Escritura para a língua alemã feita por Lutero causou um impacto de proporções gigantescas em toda a Europa dos 1500.






[1] Suserania ou suzerania era o termo empregado na Idade Média para distinguir um nobre que doava algum bem (normalmente terras, mas podia ser a concessão de impostos sobre uma ponte, o uso de equipamentos agrícolas, o uso de uma fonte d'água, etc) a outro nobre. Nessa relação, suserano é quem doa o bem e quem o recebe é denominado vassalo.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom caro Rev. João D'eça, ótimas informações históricas e excelente aplicação entre o Reformador Lutero e o seu apego à palavra, única ferramenta de ontem, de hoje e sempre capaz de romper com qualquer falta de entendimento do bom evangelho de Cristo.

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