terça-feira, 28 de maio de 2019

100 ANOS DA MORTE DO REV. DR. GEORGE WILLIAM BUTLER


100 anos da morte de George William Butler[1]

Em Colossenses 4.14, na saudação de Paulo àquela igreja ele diz que Lucas, “o médico amado”, também os saudava. O dr. George William Butler, era também conhecido como o “médico amado”.

George William Butler

Nasceu na cidade de Roswell, no Estado americano da Georgia, no dia 12 de julho de 1854. Seu pai lutou pelo Exército Confederado onde ocupou o posto de capitão, morrendo na guerra próximo a Richmond, Virginia, e ali está enterrado.


Após a guerra “a família Butller foi destituída”[2] passou inúmeras dificuldades e o jovem George, foi ensinado pela filha do pastor presbiteriano local e quando completou vinte anos de idade, foi para o Davidson College, na Carolina do Norte, em 1874.

Sua educação médica foi feita em duas escolas. W. C. Porter disse que ele foi para Nova York sem dinheiro "para uma escola de medicina onde as aulas eram gratuitas"[3], e para se sustentar, trabalhou no Hospital Bellevue.

Não fica claro quando foi que Butler deixou a escola onde estava, mas sabemos que ele recebeu o seu diploma de medicina pela Universidade Johns Hopkins. Butler partiu de Newport News, Virginia, em 31 de janeiro, 1883 e chegou ao Brasil em fevereiro, não se sabe o dia.[4]

No seu primeiro ano de Brasil o Dr. Butler procurou aprender a língua e visitou missionários em Fortaleza no Ceará e em São Luís, no Maranhão.[5] As informações não dão conta de se o Dr. Butller praticou ou não a medicina nesse período.

Po rcausa da intensa luminosidade do Nordeste brasileiro, o Dr. Butler desenvolveu algum problema no olho, que se tornou cada vez pior até que ele teve de voltar para os Estados Unidos para tratamento médico. Enquanto estava tratando do olho nos Estados Unidos, foi ordenado para o sagrado ministério

Chegada ao Brasil

O missionário norte-americano, chegou ao Recife, capital pernambucana, em 22 de fevereiro de 1883, não era ainda ordenado pastor. Nesse ano, boa parte do tempo ele passou visitando os trabalhos da Missão Presbiteriana, na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará.

No ano seguinte, 1884, o Dr. Butler voltou a sua pátria e lá casou-se com Rena Butler e ali também foi ordenado ao sagrado ministério, regressando em maio do mesmo ano, ao Brasil, aportando novamente em Recife, agora na dupla função de médico e missionário da missão do Sul dos Estados Unidos.

Recife, era a base da Missão presbiteriana no norte do Brasil, sob o comando e orientação do Dr. John Rockwell Smith, e ali Butler permaneceu como médico-missionário durante o restante do ano de 1884.

Ministério em São Luis

No ano de 1885, os líderes da missão baseada em Recife, decidiram abrir um trabalho mais para o norte, e como a cidade de São Luís era litorânea e já havia sido visitada por John Smith, Blackford, Delacy Wardlaw e alguns colportores em 1875, sem que se estabelecesse nenhum trabalho regular, Butler foi cogitado para ser o pioneiro na Atenas brasileira.

Em 15 de maio de 1885, era um sábado, o Dr. William Butler iniciou os trabalhos evangélicos na cidade de São Luís. O primeiro local a funcionar a futura igreja foi à rua Grande, 69, num prédio onde funciona hoje uma agência bancária, passando depois para o prédio onde funcionou o Hotel Central, em frente da igreja da Sé. Como o Dr. George Butler não gostava do som do badalar dos sinos, escolheu outro lugar, encontrando o local definitivo, onde a igreja está até o dia de hoje, em frente à Praça da Alegria.

A primeira pessoa batizada foi a esposa de um tribuno, que participou da Junta Governativa do Maranhão, quando da mudança de Império para República, o nome dela era Maria Bárbara Belfort Duarte. Em 6 de maio de 1886, batizou o segundo grupo de crentes, Polina Jansen Tavares e Felix Emiliano Abreu, que veio a ser presbítero e participou ativamente da divisão da igreja, no pastorado de Rev. Belmiro de Araújo César, criando a Igreja Presbiteriana Independente do Maranhão em 24 de setembro de 1903.

Dr. George William Butler empreendeu várias jornadas pelo interior dos estados do Maranhão e Piauí, sendo o primeiro a pregar em Teresina. Pregou a palavra de Deus nos vales dos rios Mearim e Itapecuru e em outras localidades maranhenses como Alcântara, Rosário e Caxias, onde organizou a Igreja Presbiteriana de Caxias em 1892.

Dr. Butler pregou o evangelho não somente do púlpito, mas também através da imprensa, debatendo com padres e outros que discordavam da sua pregação. Para adaptar o prédio da Praça da Alegria em templo, ele trabalhou com as suas próprias mãos, como operário, gastando os seus recursos próprios e tendo de passar por privações, segundo o testemunho dos que acompanharam esse processo à época. O templo foi inaugurado a 26 de julho de 1887.

O período de tempo que o Dr. Butler ficou no Maranhão foi de sete anos, de 1885 a 1892, quando retirou-se para um período de férias em sua terra natal, e quando voltou, foi designado para outro campo, assumindo o pastorado da igreja em São Luís, o Rev. Belmiro César.


Ministério em Pernambuco

Na sua volta dos Estados Unidos depois de sete anos de trabalhos ininterruptos em São Luis, George Butler ao regressar ficou em Recife e substituiu os missionários W. C. Porter e John R. Smith, que foram destacados para outro lugar no Brasil.

Quando chegou ao Brasil pela primeira vez, Butler começou o trabalho em Recife, depois de dez anos de ausência ele volta para o mesmo lugar, e a terra pernambucana será a sua última esfera de trabalho por vinte e seis longos anos, sendo que o seu ministério no Brasil durou trinta e seis anos.

Em 1894 Butler estabeleceu uma nova estação missionária na cidade de Garanhuns, onde sofreu fortes agressões do clero católico romano. Por causa de George Butler, Garanhuns tornou-se um reduto do presbiterianismo e ali deu-se origem o Seminário do Norte, por iniciativa de Martinho de Oliveira. Ali em Garanhuns foram muitos os convertidos, em especial a família Gueiros, dedicados ao evangelho e de onde saíram muitos ministros evangélicos.


Atentado à vida do Dr. Butler

De Garanhuns transferiu-se para Canhotinho – PE, onde passou a maior parte do seu ministério no Estado. Canhotinho é uma cidade que fica próximo a Garanhuns e também próximo à divisa com o Estado de Alagoas.

Em Canhotinho o missionário-médico empreendeu várias campanhas frutíferas de evangelização e foi através do seu esforço que os templos de Garanhuns e Canhotinho foram construídos. Na cidade de São Bento – PE, enquanto fazia campanha evangelística, o punhal de um bandido foi em direção ao seu peito. Manoel Corrêa Vilela, conhecido “Né Vilela”, seu companheiro de viagem, se jogou na frente do marginal e levou a facada que era para o Dr. Butler, em seu peito, caindo morto. No templo da cidade de Canhotinho estão enterrados os restos mortais de Manoel Vilela, o mártir do evangelho no sertão de Pernambuco.

O Dr. Butler era amado pelo povo daquela região pernambucana. Apesar de ser um homem grande, media quase dois metros de altura, tinha um coração sensível e um espírito verdadeiramente evangélico, conquistando simpatia em todas as classes sociais. Quando era preciso os seus serviços médicos, o Dr. Butler nunca se furtou de ajudar os que precisavam.


Sínodo de 1888

Laborioso da obra missionária tomou parte na instalação do Sínodo Presbiteriano do Brasil em 1888, e em 1897, foi eleito vice-moderador da quarta reunião do concílio na cidade de São Paulo.

O Dr. Butler prestou serviços à hinologia, compilando um pequeno hinário em Recife, no ano de 1895. Uma das suas composições, transcrevo abaixo:



Senhor, eu sei que te amo mais

(I Rs. 10.7)

I

Jesus eu sei que te amo mais
Que gozo algum aqui.
Pois tu me dás a plena paz,
A qual em vão segui

Refrão:

Quem pode tudo nos dizer
Do amor que satisfaz!
Quem pode tudo nos dizer
Do sangue eficaz!

II

De mim mais perto eu sei que estás
Que amigo algum dos meus,
Mais suave soa a tua voz
Que outra aquém dos Ceus.

III

Quando o Senhor me alegrou,
Eu com razão folguei;
Só seu amor me consolou:
Do mais me contristei.

IV

Oh cristo amado, que será
Teu rosto lá mirar,
Se tanto gozo já me dá
Aqui te acompanhar!


(George William Butler)



A morte do Dr. George Buttler

         O missionário Dr. George William Butler, faleceu no dia 27 de maio de 1919, há exatos cem anos. Depois de ter feito uma viagem aos Estados Unidos em 1918, ficando um tempo com a sua família, Dr. Buttler voltou sozinho para o Brasil, para a cidade de sua base de trabalho, Canhotinho – PE. O missionário logo depois do seu retorno contraiu a gripe espanhola que se alastrava pelas Américas, matando milhares de pessoas. Enquanto viajava pelo seu país, o Dr. Buttler deixou em seu lugar o filho Dr. Humphrey Buttler.

O Rev. George Buttler trabalhou intensamente no mês de abril de 1919, pregando, atendendo doentes, visitando. Ele já sentia que alguma coisa não estava certa com a sua saúde, até que no dia 24 de maio o seu estado de saúde se agravou e ele começou a gemer com muitas dores, prolongando o seu sofrimento até o dia 27 de maio, era assim como hoje, cem anos depois, uma terça-feira. As dores se intensificaram até as quinze horas, quando ele faleceu, poucas semanas depois de ter voltado do seu período de férias em sua pátria natal.

A cidade de Canhotinho foi impactada pela notícia da morte do “médico amado”. A cidade ficou comovida a ponto de o Jornal do Commercio de Pernambuco noticiar o seu passamento com a seguinte manchete:


Causou a toda população doloroso pesar o passamento do humanitário médico operador, Dr. George William Butler, ocorrido as 15 horas do dia 27 e ocasionado por uma congestão hepática.

Realizou-se o seu enterramento no local junto a igreja evangélica, as 14 horas do dia 28, comparecendo toda a população, vendo-se nos olhos da maior parte borbulharem lágrimas de sentido pesar. O extinto era natural dos E. U. da América do Norte, casado com Mrs. Rena Mary Butler, havendo de seu consórcio 7 filhos, naturais do nosso país. Era um espírito caritativo e muito irá sofrer, com o seu desaparecimento, a pobreza. Há cerca de 30 anos que residia nesta onde granjeou a estima de todos; amava o solo brasileiro com devotamento e em vida sempre manifestara o desejo de ser sepultado em nosso país. Era um homem de saúde e a morte levou-o quase de surpresa. O comércio, em sinal de sentimento, cerrou suas portas até a hora do enterro.


Quando o Rev. Dr. Butler morreu tinha 65 anos de idade. Sua esposa D. Rena Butler ficou muito abalada com a notícia e não retornou mais ao Brasil e viveu até o seu último dia ao lado dos seus parentes na sua terra natal. Ela morreu em 1954, na cidade de Goldsboro, no Estado da Carolina do Norte, quando tinha 91 anos de idade.


Hoje, completados 100 anos de sua morte, lembramos o trabalho abnegado do “Médico amado”, que teve de Deus a incumbência de uma dupla tarefa: curar o corpo e a alma.


Os relatos acimas foram retirados da obra História da Igreja Presbiteriana do Maranhão, do Rev. João d'Eça, publicado incialmente em 2012, já estando na 3ª reimpressão.

[1] O Estandarte, Ano 27, nº 24, 12/06/1919.

[2] PORTER, W.C. Dr. George William Butler. Norte Evangélico, 25 de junho de 1919.
[3] Ibid.
[4] Cartas do Dr. Butler ao The Missionary,  Maio de 1883.
[5] Cartas do Dr. Butler ao The Missionary, Novembro de 1883.

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