100 anos da morte de George William
Butler[1]
Em
Colossenses 4.14, na saudação de
Paulo àquela igreja ele diz que Lucas, “o médico amado”, também os saudava. O
dr. George William Butler, era também conhecido como o “médico amado”.
George William Butler
Nasceu
na cidade de Roswell, no Estado americano da Georgia, no dia 12 de julho de
1854. Seu pai lutou pelo Exército Confederado onde ocupou o posto de capitão,
morrendo na guerra próximo a Richmond, Virginia, e ali está enterrado.
Após
a guerra “a família Butller foi destituída”[2] passou inúmeras
dificuldades e o jovem George, foi ensinado pela filha do pastor presbiteriano
local e quando completou vinte anos de idade, foi para o Davidson College, na
Carolina do Norte, em 1874.
Sua educação médica foi
feita em duas escolas. W. C. Porter disse que ele foi para Nova York sem dinheiro "para uma escola de medicina onde
as aulas eram gratuitas"[3], e para se sustentar, trabalhou no Hospital
Bellevue.
Não
fica claro quando foi que Butler deixou a escola onde estava, mas sabemos que
ele recebeu o seu diploma de medicina pela Universidade Johns Hopkins. Butler partiu
de Newport News, Virginia,
em 31 de janeiro, 1883 e chegou ao Brasil em fevereiro,
não se sabe o dia.[4]
No
seu primeiro ano de Brasil o Dr. Butler procurou aprender a língua e visitou
missionários em Fortaleza no Ceará e em São Luís, no Maranhão.[5]
As informações não dão conta de se o Dr. Butller praticou ou não a medicina
nesse período.
Po rcausa da intensa luminosidade do Nordeste brasileiro, o Dr. Butler desenvolveu algum problema no
olho, que se tornou cada vez pior
até que ele teve de voltar para os Estados Unidos para tratamento médico.
Enquanto estava tratando do olho nos
Estados Unidos, foi ordenado para o sagrado ministério
Chegada ao
Brasil
O
missionário norte-americano, chegou ao Recife, capital pernambucana, em 22 de
fevereiro de 1883, não era ainda ordenado pastor. Nesse ano, boa parte do tempo
ele passou visitando os trabalhos da Missão Presbiteriana, na Bahia, Rio de
Janeiro, São Paulo e Ceará.
No
ano seguinte, 1884, o Dr. Butler voltou a sua pátria e lá casou-se com Rena
Butler e ali também foi ordenado ao sagrado ministério, regressando em maio do
mesmo ano, ao Brasil, aportando novamente em Recife, agora na dupla função de
médico e missionário da missão do Sul dos Estados Unidos.
Recife,
era a base da Missão presbiteriana no norte do Brasil, sob o comando e
orientação do Dr. John Rockwell Smith, e ali Butler permaneceu como
médico-missionário durante o restante do ano de 1884.
Ministério em São Luis
No
ano de 1885, os líderes da missão baseada em Recife, decidiram abrir um
trabalho mais para o norte, e como a cidade de São Luís era litorânea e já
havia sido visitada por John Smith, Blackford, Delacy Wardlaw e alguns
colportores em 1875, sem que se estabelecesse nenhum trabalho regular, Butler
foi cogitado para ser o pioneiro na Atenas brasileira.
Em
15 de maio de 1885, era um sábado, o Dr. William Butler iniciou os trabalhos
evangélicos na cidade de São Luís. O primeiro local a funcionar a futura igreja
foi à rua Grande, 69, num prédio onde funciona hoje uma agência bancária,
passando depois para o prédio onde funcionou o Hotel Central, em frente da
igreja da Sé. Como o Dr. George Butler não gostava do som do badalar dos sinos,
escolheu outro lugar, encontrando o local definitivo, onde a igreja está até o
dia de hoje, em frente à Praça da Alegria.
A
primeira pessoa batizada foi a esposa de um tribuno, que participou da Junta
Governativa do Maranhão, quando da mudança de Império para República, o nome dela
era Maria Bárbara Belfort Duarte. Em 6 de maio de 1886, batizou o segundo grupo
de crentes, Polina Jansen Tavares e Felix Emiliano Abreu, que veio a ser
presbítero e participou ativamente da divisão da igreja, no pastorado de Rev.
Belmiro de Araújo César, criando a Igreja Presbiteriana Independente do
Maranhão em 24 de setembro de 1903.
Dr.
George William Butler empreendeu várias jornadas pelo interior dos estados do
Maranhão e Piauí, sendo o primeiro a pregar em Teresina. Pregou a palavra de
Deus nos vales dos rios Mearim e Itapecuru e em outras localidades maranhenses
como Alcântara, Rosário e Caxias, onde organizou a Igreja Presbiteriana de
Caxias em 1892.
Dr.
Butler pregou o evangelho não somente do púlpito, mas também através da
imprensa, debatendo com padres e outros que discordavam da sua pregação. Para
adaptar o prédio da Praça da Alegria em templo, ele trabalhou com as suas
próprias mãos, como operário, gastando os seus recursos próprios e tendo de
passar por privações, segundo o testemunho dos que acompanharam esse processo à
época. O templo foi inaugurado a 26 de julho de 1887.
O
período de tempo que o Dr. Butler ficou no Maranhão foi de sete anos, de 1885 a
1892, quando retirou-se para um período de férias em sua terra natal, e quando
voltou, foi designado para outro campo, assumindo o pastorado da igreja em São
Luís, o Rev. Belmiro César.
Ministério em Pernambuco
Na
sua volta dos Estados Unidos depois de sete anos de trabalhos ininterruptos em
São Luis, George Butler ao regressar ficou em Recife e substituiu os
missionários W. C. Porter e John R. Smith, que foram destacados para outro
lugar no Brasil.
Quando
chegou ao Brasil pela primeira vez, Butler começou o trabalho em Recife, depois
de dez anos de ausência ele volta para o mesmo lugar, e a terra pernambucana
será a sua última esfera de trabalho por vinte e seis longos anos, sendo que o
seu ministério no Brasil durou trinta e seis anos.
Em
1894 Butler estabeleceu uma nova estação missionária na cidade de Garanhuns,
onde sofreu fortes agressões do clero católico romano. Por causa de George
Butler, Garanhuns tornou-se um reduto do presbiterianismo e ali deu-se origem o
Seminário do Norte, por iniciativa de Martinho de Oliveira. Ali em Garanhuns
foram muitos os convertidos, em especial a família Gueiros, dedicados ao
evangelho e de onde saíram muitos ministros evangélicos.
Atentado à vida do Dr. Butler
De
Garanhuns transferiu-se para Canhotinho – PE, onde passou a maior parte do seu
ministério no Estado. Canhotinho é uma cidade que fica próximo a Garanhuns e
também próximo à divisa com o Estado de Alagoas.
Em
Canhotinho o missionário-médico empreendeu várias campanhas frutíferas de
evangelização e foi através do seu esforço que os templos de Garanhuns e
Canhotinho foram construídos. Na cidade de São Bento – PE, enquanto fazia
campanha evangelística, o punhal de um bandido foi em direção ao seu peito.
Manoel Corrêa Vilela, conhecido “Né Vilela”, seu companheiro de viagem, se
jogou na frente do marginal e levou a facada que era para o Dr. Butler, em seu
peito, caindo morto. No templo da cidade de Canhotinho estão enterrados os
restos mortais de Manoel Vilela, o mártir do evangelho no sertão de Pernambuco.
O
Dr. Butler era amado pelo povo daquela região pernambucana. Apesar de ser um
homem grande, media quase dois metros de altura, tinha um coração sensível e um
espírito verdadeiramente evangélico, conquistando simpatia em todas as classes
sociais. Quando era preciso os seus serviços médicos, o Dr. Butler nunca se
furtou de ajudar os que precisavam.
Sínodo de 1888
Laborioso
da obra missionária tomou parte na instalação do Sínodo Presbiteriano do Brasil
em 1888, e em 1897, foi eleito vice-moderador da quarta reunião do concílio na
cidade de São Paulo.
O
Dr. Butler prestou serviços à hinologia, compilando um pequeno hinário em
Recife, no ano de 1895. Uma das suas composições, transcrevo abaixo:
Senhor, eu sei que te amo mais
(I Rs. 10.7)
I
Jesus eu sei que te amo mais
Que gozo algum aqui.
Que gozo algum aqui.
Pois tu me dás a plena paz,
A qual em vão segui
Refrão:
Quem pode tudo nos dizer
Do amor que satisfaz!
Quem pode tudo nos dizer
Do sangue eficaz!
II
De mim mais perto eu sei que estás
Que amigo algum dos meus,
Mais suave soa a tua voz
Que outra aquém dos Ceus.
III
Quando o Senhor me alegrou,
Eu com razão folguei;
Só seu amor me consolou:
Do mais me contristei.
IV
Oh cristo amado, que será
Teu rosto lá mirar,
Se tanto gozo já me dá
Aqui te acompanhar!
(George William Butler)
A morte do Dr. George Buttler
O missionário Dr. George William Butler, faleceu no
dia 27 de maio de 1919, há exatos cem anos. Depois de ter feito uma viagem aos
Estados Unidos em 1918, ficando um tempo com a sua família, Dr. Buttler voltou
sozinho para o Brasil, para a cidade de sua base de trabalho, Canhotinho – PE.
O missionário logo depois do seu retorno contraiu a gripe espanhola que se alastrava
pelas Américas, matando milhares de pessoas. Enquanto viajava pelo seu país, o
Dr. Buttler deixou em seu lugar o filho Dr. Humphrey Buttler.
O
Rev. George Buttler trabalhou intensamente no mês de abril de 1919, pregando,
atendendo doentes, visitando. Ele já sentia que alguma coisa não estava certa
com a sua saúde, até que no dia 24 de maio o seu estado de saúde se agravou e
ele começou a gemer com muitas dores, prolongando o seu sofrimento até o dia 27
de maio, era assim como hoje, cem anos depois, uma terça-feira. As dores se
intensificaram até as quinze horas, quando ele faleceu, poucas semanas depois
de ter voltado do seu período de férias em sua pátria natal.
A
cidade de Canhotinho foi impactada pela notícia da morte do “médico amado”. A
cidade ficou comovida a ponto de o Jornal
do Commercio de Pernambuco noticiar o seu passamento com a seguinte
manchete:
Causou a toda
população doloroso pesar o passamento do humanitário médico operador, Dr.
George William Butler, ocorrido as 15 horas do dia 27 e ocasionado por uma
congestão hepática.
Realizou-se o
seu enterramento no local junto a igreja evangélica, as 14 horas do dia 28,
comparecendo toda a população, vendo-se nos olhos da maior parte borbulharem
lágrimas de sentido pesar. O extinto era natural dos E. U. da América do Norte,
casado com Mrs. Rena Mary Butler, havendo de seu consórcio 7 filhos, naturais
do nosso país. Era um espírito caritativo e muito irá sofrer, com o seu
desaparecimento, a pobreza. Há cerca de 30 anos que residia nesta onde granjeou
a estima de todos; amava o solo brasileiro com devotamento e em vida sempre
manifestara o desejo de ser sepultado em nosso país. Era um homem de saúde e a
morte levou-o quase de surpresa. O comércio, em sinal de sentimento, cerrou suas
portas até a hora do enterro.
Quando o Rev. Dr. Butler morreu tinha 65 anos de
idade. Sua esposa D. Rena Butler ficou muito abalada com a notícia e não
retornou mais ao Brasil e viveu até o seu último dia ao lado dos seus parentes
na sua terra natal. Ela morreu em 1954, na cidade de Goldsboro, no Estado da
Carolina do Norte, quando tinha 91 anos de idade.
Hoje, completados 100 anos de sua morte, lembramos o trabalho abnegado do “Médico amado”, que teve de Deus a incumbência de uma dupla tarefa: curar o corpo e a alma.
Os relatos acimas foram retirados da obra História da Igreja Presbiteriana do Maranhão, do Rev. João d'Eça, publicado incialmente em 2012, já estando na 3ª reimpressão.
[1]
O Estandarte, Ano 27, nº 24,
12/06/1919.
[2]
PORTER, W.C. Dr. George William Butler.
Norte Evangélico, 25 de junho de 1919.
[3]
Ibid.
[4]
Cartas do Dr. Butler ao The Missionary, Maio de 1883.
[5]
Cartas do Dr. Butler ao The Missionary, Novembro
de 1883.
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