segunda-feira, 6 de maio de 2019

PROTESTANTES – ORIGEM DO TERMO


PROTESTANTES – ORIGEM DO TERMO[1]

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João d’Eça


            Na primavera de 1529 foi convocada pelo Imperador Carlos V, uma dieta na cidade imperial livre de Espira. Quem devia presidi-la era o arquiduque Fernando, que seguido pelos príncipes católicos transpôs os umbrais da antiga cidade no dia 5 de março daquele ano, com suas escoltas e armas. No dia 15 chegou à cidade o príncipe eleitor de Saxe, que veio acompanhado de Phillippe Melanchton e Agrícola. Cinco dias depois Philippe de Hesse entrava ao som de trombetas com duzentos cavaleiros.

            Havia no ar uma atmosfera de ódio de ambos os lados. Na rua, adversários em questão de doutrina trocavam olhares ameaçadores e homens de destaque não se olhavam e fingiam não se conhecer.

            Os rumores davam conta de que a liberdade de culto iria ser suprimida, pois o prozo já havia acabado. Uns queriam a execução do Edito de Worms e reclamavam com veemência, do outra lado exigia-se a conservação do último Edito de Espira. Por fim, no dia 24 de março a maioria da dieta reunida ali, decidiu que qualquer inovação religiosa seria proibido onde quer que tivesse sido observado o edito de Worms, e que, nos lugares onde o decreto não tinha sido respeitado, não se trataria de assunto de controvérsia e nenhum católico poderia se fazer luterano. Era uma estratégia para impedir o progresso da Reforma.

            Os príncipes protestantes ficaram alarmados com a decisão e reunidos decidiram rejeitar o decreto. Diziam eles “que em questão de consciência a decisão da maioria não significa nada”. As cidades que haviam abraçado a Reforma diziam que o Império germânico desfrutava a paz devido ao Edito de Espira e que revoga-lo perturbaria a Alemanha, e que a dieta não era competente para resolver a questão, até que se reunisse um concílio.[2]

            Foram proferidas ameaças para intimidar os membros mais tímidos da Liga de Torgau. Vinte e uma cidades livres aceitaram o decreto da dieta, quatorze resistiram heroicamente. Os príncipes protestantes conservaram-se firmes e a lembrança de sua conduta nobre gerou naquele dia o glorioso nome de “protestantes”.

            A enorme sala do palácio imperial que abrigava os membros da dieta, o Eleitor Frederico, em nome de toda a Liga, pronunciou as seguintes palavras:

- “nobres senhores, primos, tios e amigos. Reunidos aqui atendendo ao apelo do Imperador, buscando os grandes interesses do Estado e do cristianismo, temos compreendido que os decretos da dieta de Espira devem ser ab-rogados e que há o desejo de substitui-los por perigosas restrições. Entretanto, o rei Fernando havia prometido, em nome do Imperador, fidelidade inviolável aquele Edito, como nós nos esforçamos para mantê-lo. Não podemos, por conseguinte, permitir que ele seja revogado. Em primeiro lugar porque sua majestade imperial tem interesse em fazer executar um decreto emanado por sua própria autoridade. Em segundo lugar porque estão envolvidas nele a glória de Deus do Rei dos reis, e a salvação das almas.

Meus caros senhores, nenhum juízo formamos sobre as vossas crenças; limitamo-nos a suplicar a Deus diariamente que nos conduza a todos nós à unidade da fé, à verdade, à santidade e à caridade em Cristo, nosso único Mediador.

Se aderíssemos ao vosso projeto, seria negar o nosso Senhor e nos expor a sermos negados por Ele diante de seu Pai.

Aceitaríamos então esta revogação? Afirmaríamos que ninguém pode receber a luz de Deus? Se assim fosse, de quantas apostasias não seríamos cumplices?

Eis a razão porque rejeitamos o jugo que nos é imposto. Sabe-se que em nossos Estados a Santa Ceia é devidamente distribuída. Não podemos, pois, aceitar as medidas propostas contra nossos comungantes. Além disso, questões tão importantes não podem ser resolvidas antes do próximo concílio.

O Edito de Espira levava os ministros a explicarem as Escrituras de acordo com os escritos reconhecidos pela igreja cristã. Seria portanto, necessário, explicar-se o que se entende por igreja. Ora as opiniões são muito diversas a esse respeito, mas, como nenhuma doutrina é digna de fé a não ser que se conforme com a Palavra de Deus, estamos resolvidos a manter a pregação pura e exclusiva desta Palavra santa, contida nos livros canônicos do Antigo e do Novo Testamento, sem adição de qualquer doutrina contrária.

          Assim caros senhores, mui sinceramente vos rogamos que pondereis com cuidado nossas tristezas e nossos motivos de agir. Se resistis à nossa súplica PROTESTAMOS[3] aqui diante de Deus nosso Criador, Redentor e Salvador, e diante dos homens, no nosso nome e dos vossos, contra qualquer adesão ao decreto proposto naquilo em que é contrário a Deus, à sua Palavra, à nossa liberdade de consciência e ao último edito do Imperador.

          Esperamos que Sua Majestade procederá para conosco como um príncipe cristão e nos confessamos prontos a lhe render toda a nossa afeição e obediência como fazemos a Deus.


            Tais foram as palavras destes homens heroicos que a cristandade desde então apelidou-os de PROTESTANTES.



[1] Lindsay, Tomás. V. Desde la Dieta de Spira de 1526 hasta la paz religiosa de Augsburgo de 1555. Historia de la Reforma.
[3] Grifo nosso


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