Rev. João d'Eça
Observe no relato de Lucas que João não falou ainda. Agora, ele João fala. E o que nós ouvimos é uma confirmação do que já temos ouvido de Lucas. No versículo 7: "Dizia ele, pois, às multidões que saiam para serem batizadas: " Raça de víboras! Quem vos induziu a fugir da ira vindoura?" Com esta frase, João faz quatro coisas:
Primeiro, ele diz claramente para toda a multidão que se encontra num estado de escravidão espiritual. Vocês são uma raça de víboras.
O que isso significava para os judeus educados de acordo com o Antigo Testamento? Em Gênesis 3 Satanás é retratado como uma serpente ou uma Víbora, e Deus disse à serpente: "Porei inimizade entre ... A tua descendência e o seu descendente" (Gênesis 3:15). Assim, quando alguém lhes diz que eles eram uma ninhada de víboras, era o mesmo que dizer que eles eram filhos do diabo. Isso é exatamente o que Jesus disse em João 8:43, 44 a uma outra multidão, "Vós sois do Diabo que é vosso pai e quereis satisfazer-lhe os desejos”. Sim, a primeira palavra de João é uma acusação aos seus ouvintes: pessoas que estão fazendo as obras de Satanás, estão agindo como os seus filhos.
Em segundo lugar, João adverte que Deus trará julgamento sobre Satanás e todos os seus aliados. No versículo 17 João pinta o quadro da vinda do Messias com este relato: "A sua pá, ele a tem na mão, para limpar completamente a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; porém queimará a palha em fogo inextinguível". Não há trigo e não há joio. Há filhos de Deus e filhos de víbora. Uns estarão reunidos no celeiro do céu e os outros lançados ao fogo do inferno. João adverte que existe uma ira vindoura que torna a situação das víboras extremamente precária.
Em terceiro lugar, João menciona que existe uma fuga dessa ira. Você pode fugir dela, e as víboras estão fugindo na direção certa, isto é, para o batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. Deus perdoa os pecados e retira sua ira. Não há mais condenação para aqueles que se arrependem e recebem o perdão.
Finalmente, João mostra que as pessoas precisavam entender que deveriam fugir da ira vindoura. Era muita coisa para um judeu admitir que estava debaixo da ira de Deus e passível de ser queimado como palha no fogo inextinguível do inferno. Mas aqui eles estavam oferecendo-se para o batismo de João, o batista. E João está espantado. Se pudéssemos perguntar ao batista qual seria a resposta para a pergunta que ele fez: “Raça de Víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?” O que ele teria dito? Eu creio que ele diria: "Deus os incitou”. Se Jesus disse: "Ninguém pode vir a mim se o Pai não o trouxer”, então certamente é verdade que nenhum filho da víbora pode se arrepender, se Deus não o trouxer. Assim, de uma maneira indireta, a pergunta de João estava exaltando a graça de Deus, para convencer as pessoas que necessitam de salvação.
Filhos de Abraão
Agora, no versículo 8 João mostra que as antigas víboras, agora precisam refletir uma nova imagem da nova vida que elas receberam. Os que receberam a Cristo em seu coração por meio do arrependimento, agora já não são cobras venenosas, mas são árvores frutíferas. João enumera os procedimentos que a nova criatura deve ter e que estão relatados nos versículos de 10-14, mas primeiro ele dá um aviso. É a advertência que se encontra no versículo 8, que confirma a todos o que Lucas diz sobre o batismo de João, a saber, o judaísmo não é nenhuma garantia de salvação, e ser um gentio não é um obstáculo para a salvação.
João diz, no versículo 8: "E não comeceis a dizer entre vós mesmos: “temos por pai a Abraão”. Não deixe que a antiga serpente enganadora semeie a semente do engano em sua mente:
- Ei! O que estou fazendo aqui neste rio sendo batizado como um gentio comum! Quem é esse cara? O que ele acha que está dizendo aos filhos de Abraão? Nós não estamos no mesmo barco como o resto do mundo e nem sob a ira de Deus!
- A Escritura Sagrada diz de Deus falando a Abraão, em Gênesis 17:7, 8
"Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão, e serei o seu Deus".
- Como pode um filho de Abraão, se preocupar em ser varrido como palha pela ira de Deus? "
João está alertando aos judeus que tal linha de raciocínio é um grande erro. Uma pessoa nunca deve pensar que qualquer etnia meramente humana (como o judaísmo) pode obrigar Deus a abençoá-los. Os judeus são uma grande lição para todos os outros povos, que tendem a confiar em sua descendência ou outra coisa qualquer para a salvação e não unicamente na misericórdia de Deus.
João dá o motivo pelo qual os judeus não devem confiar em seu Judaísmo: "Porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão”. Esta é uma declaração extremamente reveladora. A primeira coisa que ele revela é que João e os judeus concordam em algo. Eles concordam que deve haver filhos de Abraão para herdar as promessas, caso contrário, a palavra de Deus falharia. Eles concordam que a palavra de Deus nunca vai falhar e que sempre haverá filhos de Abraão para herdar as promessas de Deus.
A liberdade e o Poder de Deus
A segunda coisa que João revela na sua afirmação, é um profundo desacordo com os judeus que confiam em seu Judaísmo para a salvação. João e eles discordam sobre a liberdade e o poder de Deus. Alguns dos judeus pensavam que por causa do seu Judaísmo físico, poderiam encurralar Deus em um canto (à semelhança de muitos hoje em dia que querem determinar a Deus o que Ele deve fazer). Para eles, Deus deve abençoá-los. Ele não pode derramar a ira sobre deles, porque ele sempre mantém sua palavra. Portanto, não importa se eles estão arrependidos ou não (o pior é que existem os que afirmam que Deus tem dois planos de salvação diferente: um para os gentios e outro para os judeus. Pode?). Os judeus que pensavam ou pensam assim, não estão contando com a misericórdia de Deus, mas com a sua própria origem étnica.
O que eles não conseguem ver e que João lhes mostra, é que Deus não é do jeito que eles pensam. Ele pode fazer tanto uma coisa como a outra: salvar os gentios, derramar a ira contra os judeus e ainda manter sua promessa, Como? Ele pode destruir-los na sua ira e levantar a partir do nada um novo povo para si mesmo, que vai dar frutos de arrependimento e confiança em Deus.
O que esses judeus haviam esquecido é o que todas as pessoas esquecem quando tentam obrigar a Deus por qualquer motivo, razão, ou esforços humanos, esquecem-se da liberdade de Deus, Deus tem misericórdia de quem quer. Esqueceram-se do poder de Deus, que sempre encontra uma forma de repreender a auto-suficiência humana, mantendo suas promessas.
Então, o versículo 9 repete a advertência implícita no versículo 7. "já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo”. Não confie no tipo de árvore que você é. Se não for produzido frutos de acordo com o arrependimento, você será destruído. Não importa se a árvore é judeu ou gentio, o que importa é o arrependimento e os seus frutos.
Conclusão:
Concluo pela definição de arrependimento: O arrependimento é o afastamento de toda e qualquer confiança depositada em mim mesmo, seja por qual motivo for. Se nobre nascimento, se riqueza, se educação, ou o que eu fiz pelo meu próprio esforço, etc. A misericórdia de Deus não pode ser constrangida ou obrigada por vontade humana. Como Paulo diz em Romanos 9:15, 16, "...Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão." Por isso, não depende da vontade ou do esforço do homem, mas da misericórdia de Deus". Para o nosso conforto e segurança, Deus revela que há uma coisa que sempre recebe a misericórdia, que é confiança na misericórdia, o que é o Novo Testamento entende por fé.
O arrependimento, portanto, é a mudança do objeto da nossa confiança. O arrependimento que leva ao perdão dos pecados é a desistência da tentativa de atingirmos por causa do nosso lugar de nascimento ou por nosso próprio esforço, a misericórdia do Senhor, que está diretamente ligada à soberana graça de Deus.
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