terça-feira, 26 de março de 2019

ASSIM ERAM OS MOSTEIROS

By

João d'Eça



Os monastérios católicos tiveram origem numa época de fanatismo doutrinário, em que o cristão deveria sair do mundo, pois ele é mal e representa um perigo para a salvação, assim pensavam. Os adeptos da reclusão nos monastérios do início e durante a Idade Média, fugindo dos pecados do mundo, contrariamente aos ensinos das Escrituras, e em especial dos Dez Mandamentos, criam que uma vida de austeridade ascética tornaria o homem mais agradável a Deus.

Já desde o segundo o século pessoas cultivavam um estilo de vida eremita e habitavam os desertos do Egito, próximo a Tebaida, como se refere a obra Vita Patrum.[1] Num estilo de vida anti-social, que fugiam de toda a relação com o próximo, viviam escondidos em cavernas, longe de toda a amizade mesmo com outros ermitões e até se negavam a auxiliar os viajantes do deserto que precisassem de ajuda. Se o viajante fosse uma mulher, eles fugiam rotulando-a de diabo.[2]

Como viviam os Ermitões

         Podemos dizer que os eremitas sofriam de cosmofobia, viviam sozinhos, enclausurados em buracos ou cavernas, tinham de procurar o seu próprio alimento e água. Geralmente se alimentavam de frutas e se vestiam parcamente com roupas tecidas à partir de fibras vegetais, muitas vezes insuficientes para cobrir a sua nudez. Estando sozinhos, viviam de recitar orações com fórmulas ascéticas buscando resistir às tentações da carne, que mesmo distante da civilização, sozinho no meio do nada, ainda ser humano, ainda pecaminoso, ainda carnal.

O aspecto físico dos monges do deserto era assustador, já que eles não se davam à higiene pessoal e ao cuidado com o cabelo e a barba. Conta-se de um desses ermitões, que viveu em uma coluna, era Simeão Estilita, conhecido como “O Antigo”. Foi canonizado pela igreja católica romana. Esses que assim viviam só se comunicavam com o mundo à sua volta por meio de mensagens erguidas por cordas, bem como os poucos alimentos que comiam eram dados por pessoas que se apiedavam deles e que eles levavam para cima ou para baixo (se estavam em cavernas), através de cordas.

Esses que vivam desse modo, expostos ao vento, à chuva, ao sol, ao frio e à neve, só eram dados como mortos, à partir do sinal das aves de rapina que vinham aos bandos devorar os seus corpos falecidos. Ainda hoje vivem monges assim, especialmente na Índia, onde são conhecidos como Stilitas.[3]

Esses monges eram conhecidos em sua época primordial como “anacoretas”[4] mas que depois da mudança para os mosteiros ficaram conhecidos como monges. Os eremitas que viviam próximos numa região próxima, foram adquirindo um estilo de vida que os juntavam em certas horas do dia para orarem, dai a origem das chamadas horas canônicas, tanto diurnas como noturnas. Nos escritos e nos hinos compostos por essas pessoas, é visto claramente a exaltação à solidão e ao medo do demônio e das outras pessoas.

A instituição da vida monástica

Com o tempo, essas reuniões de oração em conjunto, em horários fixos, foram se fortalecendo, a ponto de os principais eremitas, como Santo Antão, no século III e Pacomio e Basílio no sec. IV, estabeleceram regras de vida monástica, que eles como cenobitas[5], deveriam observar.

Um cenóbios ocupava uma grande extensão de espaço, dentro do qual cada cenobita, como eram conhecidos, tinha uma casinha, onde o monge vivia separadamente, e lá ele comia, bebia e dormia. No meio do local havia a igreja onde eles se reuniam em certas horas do dia e da noite para prati arem as suas disciplinas espirituais.

Na Europa Ocidental este sistema de monasticismo é representado pelos camuldulences, instituídos em 1012 na Itália por um homem chamado Romualdo. As únicas ocupações a qual eles se entregavam eram: orações conjuntas, recitando cada sílaba; contemplação evitando toda e qualquer distração; não falavam por qualquer que fosse o motivo, pois para eles era pecado e comiam peixe em abundância, ovos e bebiam leite, evitando comer carnes de animais e de aves.

As regras de São Bento

Em Monte Cassino, Itália, no século VI, nasceu a ordem monástica mais célebre que já existiu, a ordem dos beneditinos. Bento, foi quem a instituiu, e entre as suas regras estavam: vida de orações, trabalho em conjunto no Mosteiro e a fuga de todo e qualquer contato com o mundo.

Na verdade, desde o princípio, os Mosteiros beneditinos não eram tão espirituais quanto se diz. Os seus Dom Abades nada faziam como diziam as regras estabelecidas, eles se preocupavam unicamente em usufruir das suas imensas riquezas adquiridas através da ignorância dos fieis que aumentavam essa riqueza cada vez mais, com o propósito de obterem a remissão de seus pecados pelas orações dos monges.

Entre esses monges citados e outros que surgiram ao longo do tempo, raramente se vê um que, de fato, vivesse uma vida espiritual saudável. Não há entre os historiadores mais antigos, um só que não demonstre a vida de orgias, depravação e devassidão que era vivida nos Mosteiros. Isso se reflete nos dias de hoje, onde os escândalos de abusos de crianças e outros estão sendo revelados nas paróquias e dioceses ao redor do mundo.

As várias reformas da vida monástica

A ordem de São Bento existe até hoje e são conhecidos como beneditinos, mas também há uma ramificação destes chamados de cistercienses[6], que é um grupo reformado dos beneditinos, de hábito branco, originados por Bernardo Clairavaux, que lhes instituiu uma vida sem vícios e sem abusos, que eram na prática o que os beneditinos praticavam. Ocorre que não muito depois da criação dos cistercienses, eles mesmos precisaram ser reformados novamente, pelos motivos que os anteriores. No sec. XVII o abade do Mosteiro cisterciense de Tapper, na França, estabeleceu aos seus súditos, novas regras mais severas e que foram aprovadas pelo papa.

Os monges desse Mosteiro francês, não comiam carnes em nenhuma hipótese, mesmo que fosse de peixe, nem outro alimento de origem animal como ovos, leite e mel. Nem mesmo os temperos poderiam ser de origem animal. Era-hes permitido comer bastante chocolate. Dentre as suas regras severas: levantavam-se à meia noite e por duas horas ficavam de pé juntos, na igreja cantando, aquilo que conhecemos hoje como canto gregoriano. Essa prática era repetida quatro ou cinco vezes durante o dia. O tempo que restava eles trabalhavam em profissões diferentes para o sustento do Mosteiro.

As profissões que eles exerciam eram as de tecelões, alfaiates, ferreiros, carpinteiros, sapateiros e outras, geralmente nessa área de artesãos. A cozinha deles era muito suja, a higiene era parca. A roupa do corpo nunca era tirada, a não ser para fazer remendos. Por causa dessa falta de higiene corporal eles exalavam um fedor inebriante e os dormitórios eram impenetráveis para quem não estava acostumado com aquela sujeira e falta de higiene. Geralmente esses dormitórios abrigavam entre trinta a quarenta monges.

Os monges também não podiam falar nem mesmo entre si, sob pena de pecado mortal. Para se comunicarem eles inventaram alguns sinais, mas que nem todos decifravam. Eles eram obrigados a confessar os seus pecados semanalmente ao Abade.

Conclusão:

O que se constata é que nenhuma dessas regras rígidas é capaz de formar um santo. Quanto mais regras rígidas externas são estabelecidas, muito mais pecados são praticados na surdina. Muitos monges nesses Mosteiros praticavam às escondidas o homossexualismo ou levavam para os Mosteiros por passagens escondidas, prostitutas que se submetiam a eles em troca de alguma coisa de valor



Referências:

Campenhausen, Hans von. Os pais da Igreja. Rio de Janeiro. CPAD. 2005.

Chadwick, Henry; Evans G.R. Igreja Cristã. Barcelona. Folio. 2004.

Gonzales, Justo. Uma história do Pensamento Cristão. São Paulo, Cultura Cristã. 2004.



[1] Obra de vários biógrafos dos séculos II, IV e V, em que relata também o sistema de vida que eles viviam.
[3] O termo vem da palavra grega sylos ou etêlê, e que significa coluna.
[4] Os ancoretas eram monges cristãos ou eremitas que viveram em retiro solitariamente, especialmente nos primórdios da era cristã e dedicavam-se à oração e a produção de textos escritos. queriam alcançar a pureza da alma através da contemplação.
[5] Ordem Cisterciense é uma ordem religiosa monástica católica beneditina reformada. Aos seus membros religiosos de clausura monástica dá-se o nome de monges (ou monjas) cistercienses, ou monges brancos, como ficaram conhecidos devido à cor do hábito.

Nenhum comentário:

Minhas postagens anteriores