João d'Eça
Os monastérios católicos tiveram origem numa época
de fanatismo doutrinário, em que o cristão deveria sair do mundo, pois ele é
mal e representa um perigo para a salvação, assim pensavam. Os adeptos da reclusão
nos monastérios do início e durante a Idade Média, fugindo dos pecados do
mundo, contrariamente aos ensinos das Escrituras, e em especial dos Dez
Mandamentos, criam que uma vida de austeridade ascética tornaria o homem mais
agradável a Deus.
Já desde o segundo o século pessoas cultivavam um
estilo de vida eremita e habitavam os desertos do Egito, próximo a Tebaida,
como se refere a obra Vita Patrum.[1]
Num estilo de vida anti-social, que fugiam de toda a relação com o próximo,
viviam escondidos em cavernas, longe de toda a amizade mesmo com outros
ermitões e até se negavam a auxiliar os viajantes do deserto que precisassem de
ajuda. Se o viajante fosse uma mulher, eles fugiam rotulando-a de diabo.[2]
Como viviam os
Ermitões
Podemos
dizer que os eremitas sofriam de cosmofobia, viviam sozinhos, enclausurados em
buracos ou cavernas, tinham de procurar o seu próprio alimento e água.
Geralmente se alimentavam de frutas e se vestiam parcamente com roupas tecidas
à partir de fibras vegetais, muitas vezes insuficientes para cobrir a sua
nudez. Estando sozinhos, viviam de recitar orações com fórmulas ascéticas
buscando resistir às tentações da carne, que mesmo distante da civilização,
sozinho no meio do nada, ainda ser humano, ainda pecaminoso, ainda carnal.
O aspecto físico dos monges do deserto era
assustador, já que eles não se davam à higiene pessoal e ao cuidado com o
cabelo e a barba. Conta-se de um desses ermitões, que viveu em uma coluna, era
Simeão Estilita, conhecido como “O Antigo”. Foi canonizado pela igreja católica
romana. Esses que assim viviam só se comunicavam com o mundo à sua volta por
meio de mensagens erguidas por cordas, bem como os poucos alimentos que comiam
eram dados por pessoas que se apiedavam deles e que eles levavam para cima ou para
baixo (se estavam em cavernas), através de cordas.
Esses que vivam desse modo, expostos ao vento, à
chuva, ao sol, ao frio e à neve, só eram dados como mortos, à partir do sinal
das aves de rapina que vinham aos bandos devorar os seus corpos falecidos.
Ainda hoje vivem monges assim, especialmente na Índia, onde são conhecidos como
Stilitas.[3]
Esses monges eram conhecidos em sua época primordial
como “anacoretas”[4] mas que depois da mudança
para os mosteiros ficaram conhecidos como monges. Os eremitas que viviam
próximos numa região próxima, foram adquirindo um estilo de vida que os
juntavam em certas horas do dia para orarem, dai a origem das chamadas horas canônicas, tanto diurnas como
noturnas. Nos escritos e nos hinos compostos por essas pessoas, é visto
claramente a exaltação à solidão e ao medo do demônio e das outras pessoas.
A instituição
da vida monástica
Com o tempo, essas reuniões
de oração em conjunto, em horários fixos, foram se fortalecendo, a ponto de os
principais eremitas, como Santo Antão, no século III e Pacomio e Basílio no
sec. IV, estabeleceram regras de vida monástica, que eles como cenobitas[5],
deveriam observar.
Um cenóbios
ocupava uma grande extensão de espaço, dentro do qual cada cenobita, como eram
conhecidos, tinha uma casinha, onde o monge vivia separadamente, e lá ele
comia, bebia e dormia. No meio do local havia a igreja onde eles se reuniam em
certas horas do dia e da noite para prati arem as suas disciplinas espirituais.
Na Europa Ocidental este sistema de monasticismo é
representado pelos camuldulences, instituídos em 1012 na Itália por um homem
chamado Romualdo. As únicas ocupações a qual eles se entregavam eram: orações
conjuntas, recitando cada sílaba; contemplação evitando toda e qualquer
distração; não falavam por qualquer que fosse o motivo, pois para eles era
pecado e comiam peixe em abundância, ovos e bebiam leite, evitando comer carnes
de animais e de aves.
As regras de
São Bento
Em Monte Cassino, Itália, no
século VI, nasceu a ordem monástica mais célebre que já existiu, a ordem dos
beneditinos. Bento, foi quem a instituiu, e entre as suas regras estavam: vida
de orações, trabalho em conjunto no Mosteiro e a fuga de todo e qualquer
contato com o mundo.
Na verdade, desde o princípio, os Mosteiros
beneditinos não eram tão espirituais quanto se diz. Os seus Dom Abades nada
faziam como diziam as regras estabelecidas, eles se preocupavam unicamente em
usufruir das suas imensas riquezas adquiridas através da ignorância dos fieis
que aumentavam essa riqueza cada vez mais, com o propósito de obterem a
remissão de seus pecados pelas orações dos monges.
Entre esses monges citados e outros que surgiram ao
longo do tempo, raramente se vê um que, de fato, vivesse uma vida espiritual
saudável. Não há entre os historiadores mais antigos, um só que não demonstre a
vida de orgias, depravação e devassidão que era vivida nos Mosteiros. Isso se
reflete nos dias de hoje, onde os escândalos de abusos de crianças e outros
estão sendo revelados nas paróquias e dioceses ao redor do mundo.
As várias
reformas da vida monástica
A ordem de São Bento existe
até hoje e são conhecidos como beneditinos, mas também há uma ramificação
destes chamados de cistercienses[6],
que é um grupo reformado dos beneditinos, de hábito branco, originados por
Bernardo Clairavaux, que lhes instituiu uma vida sem vícios e sem abusos, que
eram na prática o que os beneditinos praticavam. Ocorre que não muito depois da
criação dos cistercienses, eles mesmos precisaram ser reformados novamente,
pelos motivos que os anteriores. No sec. XVII o abade do Mosteiro cisterciense
de Tapper, na França, estabeleceu aos seus súditos, novas regras mais severas e
que foram aprovadas pelo papa.
Os monges desse Mosteiro francês, não comiam carnes
em nenhuma hipótese, mesmo que fosse de peixe, nem outro alimento de origem
animal como ovos, leite e mel. Nem mesmo os temperos poderiam ser de origem
animal. Era-hes permitido comer bastante chocolate. Dentre as suas regras
severas: levantavam-se à meia noite e por duas horas ficavam de pé juntos, na
igreja cantando, aquilo que conhecemos hoje como canto gregoriano. Essa prática
era repetida quatro ou cinco vezes durante o dia. O tempo que restava eles
trabalhavam em profissões diferentes para o sustento do Mosteiro.
As profissões que eles exerciam eram as de tecelões,
alfaiates, ferreiros, carpinteiros, sapateiros e outras, geralmente nessa área
de artesãos. A cozinha deles era muito suja, a higiene era parca. A roupa do
corpo nunca era tirada, a não ser para fazer remendos. Por causa dessa falta de
higiene corporal eles exalavam um fedor inebriante e os dormitórios eram
impenetráveis para quem não estava acostumado com aquela sujeira e falta de
higiene. Geralmente esses dormitórios abrigavam entre trinta a quarenta monges.
Os monges também não podiam falar nem mesmo entre
si, sob pena de pecado mortal. Para se comunicarem eles inventaram alguns
sinais, mas que nem todos decifravam. Eles eram obrigados a confessar os seus
pecados semanalmente ao Abade.
Conclusão:
O que se constata é que
nenhuma dessas regras rígidas é capaz de formar um santo. Quanto mais regras
rígidas externas são estabelecidas, muito mais pecados são praticados na
surdina. Muitos monges nesses Mosteiros praticavam às escondidas o
homossexualismo ou levavam para os Mosteiros por passagens escondidas,
prostitutas que se submetiam a eles em troca de alguma coisa de valor
Referências:
Campenhausen, Hans von. Os pais da Igreja. Rio de Janeiro. CPAD. 2005.
Chadwick, Henry; Evans G.R. Igreja Cristã. Barcelona. Folio. 2004.
Gonzales, Justo. Uma
história do Pensamento Cristão. São Paulo, Cultura Cristã. 2004.
[1] Obra de vários biógrafos
dos séculos II, IV e V, em que relata também o sistema de vida que eles viviam.
[3] O termo vem da palavra grega sylos ou etêlê, e que significa coluna.
[4] Os ancoretas eram monges cristãos ou eremitas que viveram em retiro solitariamente, especialmente nos primórdios da era cristã e dedicavam-se à oração e a produção de textos escritos. queriam alcançar a pureza da alma através da contemplação.
[5] Ordem Cisterciense é uma ordem religiosa monástica católica beneditina reformada. Aos seus membros religiosos de clausura monástica dá-se o nome de monges (ou
monjas) cistercienses, ou monges brancos, como ficaram conhecidos devido à cor
do hábito.
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