sábado, 16 de março de 2019

A GRAÇA DE DEUS NÃO É LICENÇA PARA PECAR (Rm. 6.3-11) - Parte II

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João d'Eça


Continuação do artigo anterior.



Deus perdoa os nossos pecados não por nós mesmos, mas por causa do amor a Seu Filho Jesus Cristo. Em nós só existe razões e mais razões para sermos condenados, mas Deus usa de misericórdia para conosco por amor a Jesus Cristo. Nesse caso a graça de Deus nunca seria uma licença para a prática do pecado, mas para nos tornar conscientes de que só em Cristo, e nele exclusivamente é que somos perdoados.

Não há no ensino paulino a ideia de que a graça é adquirida através do pecado, ou que o pecado produz graça; ele diz exatamente o oposto: que “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens...” (Rm. 1.18). A razão é que o pecado exerce um poder tão grande de condenação na vida das pessoas, que somente um poder maior pode neutralizar esse poder destruidor, e esse poder maior é a graça de Deus.

Onde há um fogo poderoso, é preciso correntes poderosas de água para extingui-lo. Em casos de doenças graves, um remédio forte é essencial para a cura. Não há a menor chance de entendermos que é preciso multiplicar os pecados com o propósito de receber uma graça mais abundante. A graça se opõe ao pecado e o destrói, como o pecador poderia pensar em pecar mais, deliberadamente, para que a graça fosse mais abundante?

Usando a figura do batismo Lutero nos diz que Paulo nos mostra que a morte, o sepultamento e a ressurreição de Cristo, é a significação de que fomos sepultados com ele. Em primeiro lugar, Cristo foi sepultado para que perdoasse e destruísse os nossos pecados, não só os que cometemos deliberadamente, mas aquilo que é inerente a nós.

Jesus Cristo morreu e foi sepultado para que, através do Espírito Santo, mortificar a carne e o sangue com suas inerentes paixões pecaminosas; eles não devem mais ter domínio sobre nós, mas devem estar sujeitos ao Espírito até que nos libertemos totalmente deles.

Lutero, no sermão, critica a prática anabatista dizendo que o batismo não deve ser considerado um mero sinal, como os anabatistas erroneamente pensam. Para ele o sinal está incorporado no poder da morte e ressurreição de Cristo. Por isso, Paulo diz: “somos sepultados juntamente com Cristo”, enxertados nele como um membro de seu corpo, de modo que ele é o poder em nós e sua morte opera em nós. Através do batismo ele nos dedica a si mesmo e transmite-nos o poder de sua morte e ressurreição, até o fim, de modo que tanto a morte como a vida possam seguir em nós.

Crescimento Cristão

Paulo dá a razão para um novo crescimento. Ele diz: “Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos;” (v, 6).

Assim, Cristo, sofrendo a crucificação pelos nossos pecados, suportou a penalidade da morte e a ira de Deus. Cristo, inocente e sem pecado, sendo crucificado pelos nossos pecados, assim o pecado deve ser crucificado em nosso corpo; deve ser totalmente condenado e destruído, tornado sem vida e sem poder. Devemos considerar o pecado como o mal que condena, e com o poder de Cristo em nós, devemos resistir a ele, subjugá-lo e matá-lo.

Paulo chama a vida de pecado de “velho homem”, no sentido de apodrecido, de morto em delitos, cadavérico. O pecado é chamado de “velho homem” porque não é convertido, é inalterado de sua condição original como um descendente pecaminoso de Adão.

O “novo homem” é aquele que se converteu a Deus em arrependimento, alguém que tem um novo coração e entendimento, que mudou sua crença e, através do poder do Espírito Santo, vive de acordo com a Palavra e a vontade de Deus. Esse “novo homem” deve ser encontrado em todos os cristãos; começa no arrependimento e conversão. Paulo declara: “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências”. (Gl. 5.24).

O pecador com Cristo está duplamente morto. Espiritualmente falando, eles estão mortos para o pecado. É bem-aventurado, um confortável e feliz morrer, pois produz uma vida celestial, pura e perfeita. Estão também fisicamente mortos - o corpo morre. Em Cristo, você já escapou da morte morrendo para o pecado; essa morte você não precisará morrer mais. A primeira morte, que você herdou de Adão através do pecado, já foi tirada de você. Sendo essa a morte real, amarga e eterna. O crente é consequentemente liberto da necessidade de morrer. Ao mesmo tempo, há uma morte, ou melhor, apenas a semelhança da morte, que o crente deverá sofrer porque ainda está na terra e é descendente de Adão.

Morte e Ressurreição

A primeira morte, herdada de Adão, é eliminada: transformada em morte espiritual para o pecado. A alma do crente convertido não mais consente em pecar e o corpo não mais a comete. Assim, no lugar da morte que o pecado trouxe sobre nós, a vida eterna já começou no crente. Os crentes estão agora livres da terrível morte condenatória.

A morte física exterior, é imposta à carne porque, enquanto vivermos na terra, a carne nunca deixa de pecar. “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” (Gl. 5.17).

Assim faz a carne continuamente, enquanto vive aqui; atrai e arrasta o pecado atrás de si; é rebelde e se recusa a morrer. Portanto, Deus finalmente faz morrer o pecado para que morramos para o pecado.

A Escritura fala também da segunda morte, que é a morte depois da morte, a morte espiritual. Os que não estão em Jesus Cristo a experimentarão, mas os que estão em Cristo não passarão por ela. O crente experimentará a morte física, nessa o cristão morre segundo a carne; isto é, ele passa da descrença para a fé, do pecado para a justiça eterna, das aflições e tristezas e tribulações para a perfeita alegria eterna.

Conclusão:

A morte pode despertar raiva, melancolia, medo e terror em nossa pobre carne fraca, mas não tem mais domínio sobre Cristo. Pelo contrário, a morte deve se submeter ao domínio de Cristo em nós.

Nós morremos para o pecado; isto é, nós fomos redimidos do aguilhão e poder, o controle da morte. Cristo realizou plenamente o trabalho de poder sobre a morte e conferiu esse poder a nós, que nele devemos reinar sobre a morte. Então, Paulo conclui: “Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (v, 11).

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