sexta-feira, 3 de novembro de 2006

O DIÁRIO DE ANNE FRANK.

Por Pr. João d'Eça Embora somente com 15 anos de idade, ela criou uma mensagem que legou ao mundo esperança e crença de que o homem pode ser redimido. Uma vez um rapaz perguntou ao Ministro do Supremo Tribunal dos EUA, Felix Frankfurter, como é que ele tinha tanta certeza de que valia à pena salvar a espécie humana? O Ministro respondeu ao rapaz: - Eu li o diário de Anne Frank. A história do diário de uma adolescente de 15 anos e de como ele foi escrito é tão dramática como o próprio diário. No mundo todo ninguém nunca previu a influência que esse pequeno livrinho teria. Nem mesmo o seu pai, que mandou publicá-lo depois da morte da menina num campo de concentração nazista na Segunda Guerra. O Diário de Anne Frank já foi publicado em mais de uma centena de línguas e já vendeu milhares e milhares de exemplares que tem inspirado pessoas ao redor do Globo a acreditar que é possível redimir a raça humana, a uma condição de solidariedade, de amor ao próximo e de tolerância. O livro também foi transformado em peça teatral por Francês Goodrich e Albert Hackett, obteve o prêmio Pulitzer de drama, e só na temporada de 1956-57, foi representada em 20 países diferentes para dois milhões de pessoas. Quem foi Anne Frank? Quando Hitler subiu ao poder, Otto Frank era um banqueiro na Alemanha. Casou-se em 1925. Em 1926 nasceu sua filha mais velha, Margot, e três anos depois nasceu a segunda, Annelies Marie, que era habitualmente chamada “Anne” e, às vezes, “Meiguinha”. No outono de 1933, quando Hitler expedia sucessivos decretos antisemitas, Otto Frank resolveu emigrar para a hospitaleira Holanda instalando um pequeno negócio em Amsterdã. Pouco tempo antes de iniciar a guerra, ele aceitou como sócio, o Sr. Van Daan, também refugiado. O negócio que era principalmente de condimentos, muitas vezes escasseava. Uma vez, Otto Frank foi obrigado a pedir aos seus poucos empregados que aceitassem uma redução dos seus já reduzidos salários. Ninguém foi embora. Todos apreciavam a sua personalidade afetuosa. Admiravam-lhe a coragem e o evidente cuidado que tinha em proporcionar às duas filhas uma boa educação. Quando os nazistas invadiram a Holanda, em maio de 1940, os Franks não tiveram tempo de fugir. Otto percebeu, antes da maioria dos judeus de Amsterdã, que talvês tivesse chegado o momento em que ele e sua família teriam que procurar um esconderijo. Resolveu esconder-se no seu próprio escritório comercial, que dava para um dos canais franqueados de árvores de Amsterdã. Foram secretamente preparados uns quartos abandonados dos andares superiores, chamados de o “anexo”, para abrigar as famílias Frank e Van Daan. Em julho de 1942, Margot Frank foi chamada para ser deportada; ela não se apresentou. Imediatamente os Franks se mudaram para o seu esconderijo e os Van Daan os seguiram pouco depois. Quatro meses mais tarde acolheram nas suas acomodações superlotadas mais um judeu, um dentista. Eram oito pessoas que estavam sendo caçadas. Qualquer som, qualquer luz podia trair a sua presença. Restava-lhes um frágil elo com o exterior, através do rádio e de quatro corajosos empregados de Otto Frank, entre as quais duas datilógrafas, que levavam secretamente comida, revistas, livros. Além disso, a única companhia que eles tinham era um gato. Durante o tempo que passou escondida, Anne resolveu continuar o diário que seus pais lhe haviam dado no dia em que completou 13 anos. Descrevia a vida do Anexo, com todas as suas inevitáveis tensões e brigas. Mas criava, antes de tudo, um quadro de maravilhosa delicadeza da adolescência, esboçando com absoluta honestidade os pensamentos e sentimentos de uma menina, seus anseios e sua solidão. “Sinto-me como um passarinho cujas asas foram brutalmente arrancadas e que esvoaça numa escuridão absoluta, batendo de encontro às grades de sua gaiola”, escreveu ela, depois de passar quase 16 meses isolada do mundo exterior. Dois meses depois tinha enchido as páginas do pequeno livro com encadernação de pano escocês. Seu diário revela a confiança que deposita num pai esclarecido, sua tristeza porque, a seu ver, a mãe não o compreende; a exaltação de um primeiro beijo arrebatado que trocou com o filho dos Van Daans, rapaz de 17 anos; finalmente, o desabrochar de uma personalidade encantadoramente feminina, ansiosa por enfrentara a vida com coragem adulta e maduro conhecimento de si mesma. Numa tira de papel Anne escreveu nomes falsos, que pretendia usar em caso de publicação. Até lá, o diário seria um segredo seu, que ela fazia questão de esconder de todo mundo, principalmente do dentista rabugento, com quem era obrigada a partilhar seu minúsculo quarto de dormir. O pai lhe permitiu guardar os diários em sua pasta. Não chegou a lê-los antes da morte da menina. Em 4 de agosto de 1944, de repente, um alemão e quatro policiais nazistas holandeses invadiram brutalmente o seu esconderijo. (Ninguém sabe como foi revelado o segredo do Anexo). - Onde estão o dinheiro e as jóias que vocês tem? – Gritaram eles. A Srª Frank e a Srª Van Daan tinham de fato algum ouro e algumas jóias, que foram descobertas rapidamente. Procurando alguma coisa onde pudessem carregá-las, um dos policiais reparou na pasta de Otto Frank. Esvaziou-a no chão, sem sequer dar uma olhada nos cadernos. As pessoas do anexo foram então presas. Os Franks e os Van Daan e o dentista foram levados para Aushwitz – o campo da morte dos nazistas, no sul da Polônia. Ai os nazistas separaram Otto Frank da mulher e das filhas, sem lhes darem tempo para se despedirem uns dos outros. A Srª Frank, Anne e Margot foram conduzidas para o setor feminino do campo, onde a Srª Frank morreu de prostração. Os Van Daans e o dentista também perderam a vida. Anne se revelou uma líder corajosa de seu pequeno grupo em Aushwitz. Quando não havia o que comer, ela se atrevia a ir até a cozinha pedir. Incentivava a irmã Margot a não desanimar nunca. Ela foi depois levada para outro campo de concentração, o de Bergen-Belsen, entre Berlim e Hamburgo. Um amigo diz tê-la visto ali: “fria e faminta, a cabeça raspada e o vulto esquelético envolvido na vestimenta listada do campo de concentração.” Seu estado de fraqueza era lastimável, o seu corpo devorado pela febre tifóide. Morreu no princípio de março de 1945, alguns dias depois de Margot, ambas foram enterradas numa vala comum. Otto Frank no mesmo período da morte das filhas, conseguiu manter-se vivo e foi libertado pelos russos nesse período de início do ano de 1945. Depois de solto foi para Amsterdã que havia sido libertada. Soube que a sua esposa havia morrido, mas não sabia nada das filhas e esperava vê-las de novo. Depois de quase dois meses de espera, encontrou alguém que lhes contou que elas haviam morrido. Só então Miep, sua antiga datilógrafa, lhe entregou os diários de Anne. Após a prisão da família Frank, Miep voltou ao Anexo e recolheu os diários e alguns documentos. Ela não leu o diário até que eles foram publicados. Ela provavelmente os destruiria se os houvesse lido. Ali havia informações que poderiam ser muito perigosas se reveladas. Otto Frank levou muitas semanas para acabar de ler tudo o que sua falecida filha escrevera. Chorou muito após cada leitura. Ele emigrou para Suíça onde morava sua velha mãe, lá copiou o diário e evitou coisas mais íntimas da menina e outras coisas que ele julgou, poderiam magoar alguém. Ele não pensava em publicar o diário da filha. Deu uma cópia datilografada a um amigo íntimo que a emprestou a um professor de História Moderna. Com grande surpresa para Otto Frank, o professor dedicou ao diário um artigo num jornal holandês. Os amigos começaram a insistir para que Otto Frank publicasse o diário de Anne, como aliás ela mesma desejara. Havia um trecho escrito por ela: “Depois da guerra quero publicar um livro intitulado O Anexo...Meu diário pode servir para isso.” Quando o pai de Anne finalmente consentiu na publicação, os originais foram recusados por dois editores holandeses. Um terceiro que resolveu aceitá-lo, vendeu mais de 150.000 exemplares da edição holandesa. Seguiram-se outras edições – 250.000 vendidos no Japão, 250.000 na Inglaterra, 435.000 nos Estados Unidos. Muitas reações se sucederam ao redor do mundo, muitos não criam ser verdade a história, outros escreviam apara o pai de Anne chamando-o de mentiroso, outros o elogiavam, moças da mesma idade escreviam a Otto e se identificavam com Anne, livreiros ficavam com medo de por a venda o livro, outros vendiam aos milhares, as reações foram variadas e o livro se tornou um sucesso mundial de vendas. Durante anos os administradores da Alemanha do pós-guerra lutaram para fazer o povo sentir o quanto era insensato e criminoso o regime nazista. De modo geral fracassaram. O Diário de Anne Frank conseguiu isso. A breve vida de Anne Frank, na verdade começou, quando eles entraram no Anexo. De lá pra cá ela vive a cada dia nas atitudes de bondade de alguém para o seu próximo. Ela leva através do mundo inteiro uma mensagem de bravura e tolerância. Ela vive depois da morte.

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