sexta-feira, 17 de novembro de 2006

O AMOR É SEMPRE A MELHOR RECOMPENSA.

Ainda outro dia assisti na TV a uma cena trágica. Um homem morto na beira da praia, enrolado em panos, que alguém por misericórdia havia posto sobre ele, enquanto que transeuntes, passeavam por ali como se nada tivesse acontecendo, ignorando totalmente ao cadáver ali ao lado. O mundo parece muitas vezes dividido entre os que se importam e os que não se importam, não devemos julgar com muito rigor, pois é preciso muita coragem para as pessoas se importarem com os outros. É, parece que é preciso muito coragem para nós nos dedicarmos, para abrirmos o nosso coração, para reagirmos com simpatia ou piedade, ou indignação, ou entusiasmo, pois é mais fácil – e às vezes mais seguro – não nos metermos nas coisas. No entanto as pessoas que se arriscam, que deliberadamente arrancam fora a couraça da indiferença, fazem uma formidável descoberta: quanto mais nos importamos com o nosso próximo, mais vivos nos tornamos. Quando paramos e examinamos a nossa vida, o curso que ela toma a cada dia, vemos que há um rio de amor que atravessa toda a nossa existência como um traço de ouro e fogo. A importância que atribuímos às coisas pode representar a diferença entre o sucesso e o fracasso de um casamento, de um bom emprego ou de qualquer outra relação humana. Emerson disse: “Nada de grande foi jamais realizado sem entusiasmo”. Até mesmo gente estranha, reage a uma grande intensidade de interesse por alguma coisa. Há muitos anos, na Inglaterra, um menino criado na miséria arranjou um emprego de 12 horas de trabalho diário, numa tipografia que não lhe pagava quase nada. Apaixonadamente interessado por livros, mas sem possibilidade de comprá-los, esse menino fazia questão de passar todos os dias, no caminho para o trabalho, por um “sebo” onde estavam expostos à venda livros usados. E sempre que havia algum livro aberto na vitrina, ele parava e lia as duas páginas à mostra. Um dia reparou que o livro que ele lera na véspera estava aberto nas duas páginas seguintes. No outro dia, aconteceu a mesma coisa. E ele foi lendo sempre, duas páginas por dia, até que chegou à última página. Então, o velho que tomava conta da loja saiu de lá e disse ao menino que ele podia entrar e ler o que quisesse, a qualquer hora, sem obrigação de comprar. E foi assim que Benjamin Farjeon, que veio a ser um escritor de sucesso, teve acesso ao mundo dos livros – só porque se importava tanto com a leitura que o seu interesse se tornou visível a um velho bondoso por trás de uma vitrine poeirenta. Na Bíblia Sagrada, há muitos exemplos da importância que tem em nos preocupar-nos com os outros. O Bom Samaritano se preocupa com a vítima dos ladrões, e por isso age. Os outros viajantes, receosos de se meterem em confusão passaram e ignoraram. O mal do Filho Pródigo foi não se importar. O que fazia de si mesmo não contava para ele, nem a meneira por que sua conduta afetava os outros. O pai do Filho pródigo sabia dar e continuou dando importância às pessoas, tanto que preservou aquilo que poderia dar ao filho, tanto que o Pródigo, quando afinal esgotaram-se os seus recursos, ele disse: - “Levantar-me-ei e irei ter com o meu pai”. Vejo que a Bíblia nos ensina aqui, que quando tiramos da vida o ingrediente do amor e da compaixão, nada mais tem sentido. A todo momento, no mundo que nos cerca, felizmente vemos atos de amor e de bondade sendo praticados por pessoas anônimas. Como diz Wordsworth: “Pequenos, anônimos, e esquecidos atos de bondade e de amor”. Alguém que se oferece para cuidar dos filhos de seu próximo, num momento difícil, essa gente não tem interesses e não espera recompensa, age. A capacidade de amar e de ter compaixão nasce em cada um de nós, mas em grande parte, depende de cada um de nós expandi-la ou deixá-la minguar. Nem sempre é espontânea. Era a isso que se referia Sócrates ao dizer: “Antes de poder mover o mundo, o homem precisa mover-se a si mesmo.” Uma das melhores maneiras de aumentar a nossa capacidade de amar e de ter compaixão pelo nosso próximo, é lutar contra o nosso próprio egoísmo e treinarmos fazer o bem todos os dias, nem que seja a uma só pessoa. È preciso nos preocuparmos com os que estão perto de nós e precisam de nós e auxiliá-los, estendermos para eles a nossa ajuda, nem que seja numa prece, isso ajuda muito. Agir de acordo com a observação de uma criança numa praia, observando o vai e vem do mar, ela disse: - “Que bonito ver como o mar se preocupa com a terra!” Tinha razão a criança. Era de fato uma forma de preocupação. A terra era apenas passiva e por isso esperava. Mas o mar se preocupava – e por isso vinha. A lição está ai, nesse bonito símbolo: a disposição de agir, de procurar, de ser absorvido e a capacidade de, nessa absorção, realizar-se.

Nenhum comentário:

Minhas postagens anteriores