sábado, 14 de outubro de 2006
MONUMENTO ESPLENDOROSO À DEUS.
Por
Pr. João d'Eça
Johann Sebastian Bach
Ninguém poderia imaginar que naquele dia de março de 1829 em Berlim, Alemanha, na Academia de Canto, que estaria surgindo uma obra prima da música. Para muitos que acompanhavam o andamento dos ensaios, aquilo seria o maior fiasco. Uma obra desconexa, pesada, exigia dois conjuntos orquestrais e coros. Era uma obra baseada no evangelho e Mateus, que na época em que foi executada 100 anos antes, quase não chamou a atenção de ninguém.
Tanto o compositor quanto a música não eram conhecidos: Johann Sebastian Bach já havia morrido 80 anos antes. O regente da obra era o desconhecido descobridor da Bach, em judeu de 20 anos, chamado Felix Mendelssohn, que iria reger pela primeira vez, orquestra e côro combinados.
Quando Mendelssohn tinha 14 anos encontrou na casa de seu professor com o manuscrito da “Paixão” e ficou apaixonado pela obra. A música quase não tinha outras credenciais.
No dia certo os membros da Academia divulgaram notícias tão favoráveis sobre os ensaios, que no dia da execução pública, todos os lugares estavam ocupados. E desde os primeiros acordes os ouvintes foram arrebatados por uma onda de emoção religiosa, pois a Paixão Segundo São Mateus é talvês a música mais profundamente emocionante que já se escreveu. Um silêncio respeitoso recebeu os solos líricos, as comoventes árias de contemplação, os vibrantes hinos de exaltação. A Platéia não só ouvia e sentia profundamente, como também via. Tão grande era o gênio desse desconhecido Bach, que com simples ele parecia capaz de pintar cenários cheios de vida e criar iluminação apropriada ao estado de espírito. Cada vez que Cristo falava, por exemplo, Bach havia cercado as palavras com um halo de som tocado pelas cordas. Quando levavam Cristo, os sons evocavam um quadro de passos arrastados sob o peso da Cruz.
Graças a Mendelssohn nasceu o interesse pela música desse excelente compositor, Bach. Chopin por exemplo aconselhava a todos os pianistas a estudarem Bach cuidadosamente. “É a melhor e a mais alta escola”, dizia ele. “Ninguém criará jamais outra mais próxima do ideal.”
Investigações posteriores, revelaram outras obras-primas de Bach que haviam sobrevivido – Paixões, missas e oratórios, cantatas de igrejas, peças para orquestras e instrumentos de corda. Por toda Europa surgiram Sociedades de Bach com o objetivo de procurar e executar essas obras desprezadas.
As adaptações musicais de Bach para muitos hinos cristãos podem ser ouvidas a qualquer domingo em igrejas do mundo inteiro. Sua música possui uma total vitalidade religiosa. Para Bach, a música era um ato de adoração, como se as notas, depois de saírem do alcance do ouvido humano, continuassem a subir para os céus, num hino de louvor. “O único objetivo de toda música deve ser a glória de Deus e uma recreação agradável”, aconselhava ele aos seus discípulos. Na margem de muitas de suas partituras ele escreveu a dedicatória: “A Deus, Toda a Glória.”
J. Bach morreu em 1760, mas antes de sua morte, ele completou uma de suas mais emocionantes obras, um arranjo para órgão do hino da desolação: “Quando na hora de maior privação.” Não há nessa obra final de Bach, indício de sofrimento e no último instante ele mudou o título do hino para “Diante do Teu Trono, ó Senhor, eu chego.” Morreu como vivera, louvando a Deus em sua música. Foi a última oferenda pessoal de quem ouvira os acordes de uma harmonia celestial.
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