sexta-feira, 25 de setembro de 2015

AO ROMPER DA ALVA: Antônio Gonçalves Dias

O maior poeta maranhense, Gonçalves Dias, autor da célebre Canção do Exílio, que foi incorporada à letra do Hino Nacional Brasileiro: "Do que a terra é mais garrida / teus risonhos lindos campos tem mais flores / nossos bosques tem mais vida / nossa vida em teu seio mais amores".
 
A poesia abaixo é magnífica. O poeta derrama a sua alma diante Deus, revela uma fé forte e robusta e exalta as grandezas do Criador através de palavras poéticas e de rimas simples e bem feitas. Leia e aprecie a sonoridade das palavras do poeta caxiense.
 
 
 
 
 
AO ROMPER DA ALVA
(Gonçalves Dias)
 
Além de traz da montanha,
Branda luz se patenteia.
Que a dor noturna afugenta
Da Alma que sentida anseia.
 
 
Branda luz, que afaga a vista,
E que vem o céu tingir,
Quando entre o azul transparente
Parece alegre sorrir;
 
 
Como és linda! Como dobras
Da vida a força e o amor!
Como se insinua na alma
Teu luzir encantador!
 
 
No teu ameno silêncio
A tormenta se perdeu,
E do mar a forte vida
Nos abismos se escondeu!
 
 
Porque assim de novo, agora
Que o vento o não vem toldar,
Parece que vai queixoso
Mansamente a soluçar?
 
 
Porque os ramos do arvoredo,
Bem como as ondas do mar,
Sem correr sopro de vento,
Começaram a murmurar?
 
 
Sobre o tapete da relva,
A verde folha inclinada
Destila gotas de orvalho,
Rocio da madrugada.
 
 
Renascida a natureza
Parece sentir amor;
Mais brilhante mais viçoso,
O cálix levanta a flor.
 
 
Por entre as ramas ocultas,
Docemente a gorjear
Acordam trinando as aves,
Alegres no seu trinar.
 
 
O arvoredo nessa língua
Que diz, por que assim sussurra?
Que diz o cantar das aves?
Que diz o mar que murmura?
 
 
Dizem um nome sublime,
O nome do que é Senhor,
Um nome que os anjos dizem,
O nome do Criador.
 
 
Também eu, Senhor, direi
Teu nome, do coração
E juntarei o meu hino
Ao hino da criação
 
 
Quando a dor meu peito acanha,
Quando me rala a aflição,
Quando nem tenho na terra
Mesquinha consolação;
 
 
Tu, Senhor, do peso insano
Livras meu peito arquejante
Secas-me o pranto que os olhos
Estão vertendo abundante.
 
 
Tu pacificas minha alma
Quando se rasga com pena,
Como a noite que se esconde
Na luz da manhã serena.
 
 
Tu és a luz do universo,
Tu és o ser Criador,
Tu és o amor, és a vida,
Tu és meu Deus, meu Senhor.
 
 
Direi nas sombras da noite
Direi ao romper da aurora?
Tu é o Deus do Universo,
O Deus que minha alma adora.

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