quinta-feira, 1 de março de 2012

PREGANDO EM EFÉSIOS

Por

Rev. João d'Eça

O que leva um pregador a escolher qualquer livro ou passagem da Bíblia para pregar? Essa é a pergunta que me fazem e tenho de muitas vezes responder a igreja que pastoreio, geralmente quando começo a pregar uma nova série de sermões baseado num livro bíblico escolhido.

A minha resposta: é porque está na Bíblia. A Bíblia deve ser pregada por inteiro, Escritura por Escritura.

Existem enormes desafios de pregação na Bíblia, por exemplo os profetas do Antigo Testamento. Já pensou pregar um ano inteiro em Ezequiel, ou em Isaias? Acho que as 52 semanas do ano são poucas para tanto conteúdo, isso se pregarmos somente no domingo.

Estou pregando em Efésios nos cultos de Estudos Bíblicos da Igreja a qual pastoreio, a IPB Betsaida. Mas o que me fez tomar a decisão de pregar em Efésios? Efésios foi o primeiro livro no qual eu li o seu comentário (Martin Lloyde Jones), isto começou a moldar o meu pensamento e minha vida a alguns anos atrás.

Apesar dos limites da minha compreensão eu tenha uma verdadeeira paixão por esta carta da Bíblia e sua mensagem. Este sentimento de apreço não só foi reforçada, mas também aprofundou-se quando ouvi dois pregadores ingleses exporem essa carta num evento em um seminário na minha cidade anos atrás.

Eu ainda me lembro como esses estudos me motivaram com seu ensinamento cristão, como descobrir o que um "santo" é na verdade. O tema sobre a eleição e a predestinação foi provavelmente os mais destacáveis. Acho que ali o meu calvinismo se consolidou. Daí fui estimulado a beber noutras fontes e nessa procura por matar a minha sede de compreensão, fui até Charles Hodge, estudar mais sobre Eleição e Predestinação. Agora, anos depois, estou eu aqui como um jovem pastor, ainda bastante inexperiente, não foi surpresa escolher em primeiro lugar, Efésios para ensinar as igrejas que pastoreei.

Essa atitude tornou-se uma viagem de descoberta compartilhada: para mim, ao tentar pregar sobre a carta de Paulo aos Efésios, e para a igreja - a maioria dos quais nada entendiam sobre a Fé Reformada. Pode ser que a minha habilidade para ensinar essa carta tão excepcional e maravilhosa, não seja a ideal, mas a caminha da junto com a igreja e as verdades com as quais nos deparamos ao longo desses meses, puseram fogo em meu entusiasmo.

Alguns aspectos em especial, cristalizaram-se para mim e me ajudaram a ver as preocupações específicas que o apóstolo tinha quando ele a escreveu. As mesmas preocupações dele, nos temos hoje, separados por esses dois longos milênios.

A primeira dessas preocupações é a doxologia: ela bate de frente em você. Logo no início, no versículo 14 do primeiro capítulo, encontrar-se uma frase que é pura adoração. O que é mais impressionante nisso é que não há nada de artificial ali. 

Cada uma das cartas de Paulo é uma exposição das Boas Novas, que expõe o Evangelho à luz das circunstâncias específicas da igreja para a qual ela foi dirigida. Então, quando ele começa a expor o evangelho para o grupo de igrejas ao redor do qual esta carta foi provavelmente circulou, ele adora numa explosão de louvor ao evangelho. Na verdade, ele mostra que há infinitamente mais nesta mensagem, do que jamais poderíamos esperar compreender. O efeito disso não é para deixar-nos debatendo sobre o que desafia a nossa compreensão, mas para fazer-nos perceber quão grande é a nossa salvação e quão gracioso é Deus, nosso Salvador. 

Ficamos com uma visão de Deus e da sua graça, que é infinitamente superior ao que tínhamos antes de começar a ler a carta. Essa compreensão da doxologia, desesperadamente precisa ser recuperada em muitas igrejas de hoje. A grande ironia, é que a maioria das igrejas estão obcecadas com a doxologia (louvor e adoração) e ainda de alguma forma o verdadeiro louvor parece escapar-lhes. Tornam-se mais e mais focados em novas músicas e ritmos, em novas abordagens que excitam as emoções, mas que de algum modo não eleva ao céu nosso espírito. 

Outro tema central que emerge neste carta é o impacto do evangelho na comunidade.  Paulo toca nesse assunto no segundo capítulo, onde ele fala de um problema, que mais do que qualquer outro, lança sua sombra sobre a igreja do Novo Testamento: é o que ele chama de "o muro de inimizade" (2: 14). Era uma espécie de “apartheid espiritual que fez muitos judeus convertidos assumirem um ar de superioridade sobre os gentios convertidos. O impacto disto era dividir a igreja.

Paulo responde, expondo o evangelho de uma forma que mostra a diferença que a Igreja faz, vivendo como uma comunidade onde Cristo é o Senhor de todos, quer judeus ou gentios. O foco de Paulo é mostrar a todos o que o evangelho não somente faz por nós como indivíduos, mas como nos introduz na igreja e nos molda como membros da família de Deus. Sua idéia básica é demonstrar que a nossa união individual e comunhão com Cristo, por definição, significa união e comunhão com todos os seus eleitos, independentemente da sua origem étnica ou espiritual. 

Isto é melhor entendido no capítulo três, em que ele fala sobre o propósito de Deus na redenção. Sua intenção era que agora, através da igreja, a multiforme sabedoria de Deus deve ser dada a conhecer aos principados e potestades (governantes e autoridades) do lugares celestiais, segundo o seu propósito eterno que ele realizou em Cristo Jesus nosso Senhor (3,10-11) . Em outras palavras, a igreja é o estágio cósmico para o drama da redenção! A relevância disso para o conjunto de igrejas em torno de Éfeso nos dias de Paulo não poderia ter sido maior. Paulo lembra-lhes que a cruz derrubou toda divisão.

Infelizmente o foco do evangelho para a grande maioria dos crentes é quase exclusivamente individualista. Paulo desenvolve este tema em toda a carta - usando a linguagem corporativa em tudo o que diz - nos levando dos primeiros três capítulos, para uma aplicação prática no restante.

No capítulo 4 Paulo fala da Unidade da Fé (4.1-16), nos fornece o mais claro plano para a vida da igreja que já foi dado. Seu ensino claro de como tudo isso funciona na prática, no casamento, na família e no trabalho no centro da questão da vida cotidiana. Na parte final, Paulo lida com as questões da luta espiritual de uma forma que é ainda estranhamente desvalorizado em nossa geração. Ele não nos deixa dúvida de que nosso inimigo invisível não é a carne e nem o sangue e que em nós mesmos não poder para combater. Paulo nos lembra de quem somos e o que temos em Cristo, nos lembrando que é em Cristo que podemos combater inimigo tão poderoso.

Por que eu estou pregando em Efésios? - Porque é uma das exposições mais necessárias à igreja. Mostra que estamos carentes e necessitados do auxílio de Deus mais do nunca. Mostra que somos incapazes, mas que nosso Deus é capaz de conduzir em triunfo. É uma mensagem tão necessária ao nosso mundo fragmentado hoje.

Rev. João d’Eça
Ministro Presbiteriano – Mestrando (Mdiv) pelo CPAJ.
Pastor da IPB Betsaida em São Luís - MA

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