sábado, 16 de junho de 2007

PORQUE ENALTECER VIGARISTAS?


Por
Rev. João d'Eça
Ultimamente temos visto um espetáculo grotesco de acusações contra a classe política do nosso país e o desmando que estes cometem para ganharem o máximo de dinheiro e com isso obter poder para ganhar mais dinheiro ainda, no fim de tudo, o objetivo é sempre o vil metal.
Quero deixar claro que não considero todos os políticos como vigaristas, não! Acredito que 1% ou menos, sejam sérios, com objetivos justos, que pensam não em si somente, mas, no bem-estar da coletividade e que até lutam, para que a população tenha direito ao básico que o Estado tem a obrigação de proporcionar, que é: Excelente saúde, excelente Educação, Excelente segurança, só isso. Hoje em dia, as obras literárias e artísticas, quer sejam na Tv, Livro, Revista ou Teatro, que fazem mais sucesso, são as que apresentam os vigaristas fazendo das suas. Pessoas egocêntricas, amorais, sem ética, insensíveis, sem dores na consciência. Para muitos são heróis e os que assumem cargos políticos e não “aproveitam” a oportunidade para se locupletarem, são “bestas”, “idiotas” e “fracos”. Isso me faz lembrar das palavras proféticas ditas por Rui Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,
De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver o poder agigartar-se nas mãos
Dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter
Vergonha de ser honesto”.
A moralidade pública entrou em colapso pela cínica aceitação da desonestidade como sendo o estado natural do homem. Com o desaparecimento das ilusões do público, a confirmação da futilidade do sacrifício, honra, nobreza e todas a s qualidades que tornam um homem melhor que outro, entrou em cena o anti-herói, firmado e apoiado no preceito democrático de que ninguém é melhor do que ninguém.
Em todas as épocas, algumas vezes, subiram ao poder aqueles que não mereciam. Quanto aos brasileiros de agora, há uma preocupação enorme, porque os vigaristas se multiplicaram e estes não somente estão sendo aceitos, mas desculpados e festejados. Isso me lembra uma outra frase de outro grande homem, Aristóteles:
“A grandeza de um homem não está em receber honras, mas em merecê-las.”
A opinião dos vigaristas de hoje é levada em consideração, sua existência é aceita como normal e por incrível que pareça, seu exemplo é seguido. Sob a bandeira da ambição, do interesse próprio e do oportunismo, essa triste figura de ser humano, marcha vitoriosa, graças a publicidade e a distribuição indiscriminada de concessões de emissoras de rádios e Tvs, num “toma-lá-dá-cá” desgraçado.
Não existem mais Estadistas, o que há são espertalhões e velhacos mais ousados.
Em lugar de procurarem as causas da delinqüência nos lares desfeitos e na miséria, procurem nas Prefeituras, nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras municipais e na Federal, no Senado, nos Poderes Executivos e Judiciário. Procurem ai a fonte de toda corrupção, quer seja sob a forma de negociatas de milhões, quer seja sob a forma de deduções falsas na declaração de Imposto de Renda.
Uma sociedade reflete aquilo que admira. A sociedade brasileira está admirando homens sem escrúpulos. Os vigaristas estão sempre nas manchetes da imprensa depois de terem sido culpados de crimes que vão da fraude até o roubo em escala gigantesca. Até o momento do desmascaramento do vigarista, ele só se preocupava em ser invejado, bajulado e admirado por homens que nem imaginavam a fonte da sua riqueza e poder.
Não podemos negar que um político desonesto poderá obter prestígio e poder, principalmente porque muitas vezes a linha entre a transigência honesta e a conveniência, entre a tranqüilidade e a traição, torna-se tênue demais para ser percebida. Afinal de contas, não elegemos várias vezes pessoas envolvidas em escândalos de todo tipo e na maioria das vezes, condenadas pela justiça?
A sociedade brasileira aceita os crápulas naturalmente, não só na política, mas em todos os ramos da sociedade, afinal, “vigarisse” é uma cultura brasileira, está enraizada em todas as direções e ramificadas em todas as instituições, quer sejam religiosas ou seculares.
É a sociedade quem elege à categoria de “astros”, os talentos mais medíocres. É a sociedade quem faz com que os cargos mais importantes do país sejam ocupados por homens indignos. É a sociedade quem dá a liderança das classes trabalhadoras a criminosos. Não tenho mais nenhuma esperança quanto ao comportamento dos homens do meu país.
Dizem que os pais brasileiros não passam a seus filhos um código de ética bem definido, que a religião é praticada agora, por mero formalismo. Outros dizem que a Escola não supre a deficiência do lar. Creio que ai o problema deve ser melhor analisado. Acredito que deve-se voltar à época dos cursos profissionalizantes. Se os jovens fossem estimulados a buscarem os requisitos básicos de uma boa profissão, saberiam julgar melhor um cantor sem voz, um ator ou uma atriz sem talento, uma música que tem valor de uma que não tem. Hoje, compramos o CD do mal cantor, da péssima música. A mediocridade sobressai à excelência. Nossos jovens estão vazios de valor e impacientes para com a virtude. Como pode a honestidade sobressair-se, se o embuste permanece impune?
A prosperidade é o clima do vigarista. Há um clima de bem-estar geral para eles e seus correligionários, na maioria bem pagos, mesmo por trabalhos deficientes, e recebem os benefícios da civilização, sem qualquer mérito nem maior esforço.
Se formos indulgentes com os vigaristas e desonestos, que na verdade são parte da herança humana, não precisaremos fazer nenhum esforço para supera-las.
Chegou a hora de nós brasileiros honestos, justos, corretos, que ficamos indignados com os vigaristas, nos tornarmos os verdadeiros heróis e restaurarmos o homem à sua estatura potencial. Emerson escreveu o seguinte:
“A procura do grande homem é o sonho da juventude e a
ocupação mais séria da idade adulta.”

Somente quando as pessoas conhecerem o que há de melhor nos homens é que aprenderão a refutar o que há de pior neles.

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