Rev. João d'Eça
Introdução:
Há 100 atrás, mais precisamente
em fevereiro de 1916, houve no Panamá o Congresso
Evangélico Latino-Americano. Antes da realização desse Congresso, houve no
Brasil reuniões interdenominacionais, na cidade de São Paulo, onde participaram
as maiores igrejas e os mais eminentes nomes entre essas denominações.
O objetivo da aproximação entre
as denominações era de trocar ideias sobre os assuntos que seriam discutidos no
Congresso do Panamá, porém, em outras reuniões a proposta das reuniões foi mais
além, havendo reuniões de confraternização e de acordos para melhor harmonia no
futuro em relação ao trabalho evangélico.
Já há100 anos passados a
dificuldade era enorme para uma cooperação fraternal, hoje nem se cogita nessa
possibilidade, principalmente porque o trabalho de igreja não é mais para o
engrandecimento do Reino de Deus, mas virou “balcão de negócios” e nicho de
grupos ou famílias que querem fazer o seu negócio prosperar e para isso eles
fazem qualquer coisa, menos cooperação Interdenominacional gratuita.
Os batistas
ainda disseram que mesmo assim, “isto... não impede que haja respeito mútuo
entre os diversos ramos evangélicos”. Então eles dizem que não concordam com o
batismo infantil, o qual consideram “heresia”, mas respeitam os que tem
convicções sobre o assunto.
Para muitos
ministros que participaram daquelas reuniões, o objetivo deveria ser o de uma
“União Orgânica”, ou seja, a fusão de todas as denominações em uma só
corporação. Porém, essa ideia não encontrou apoio entre os pastores e nem entre
as igrejas presentes. O objetivo predominante parecia ser o de uma união onde
fosse possível haver para combate do inimigo comum.
Consulta aos pastores
O pastor
batista e missionário Salomão Luiz Ginsburg, resolveu enviar aos pastores uma
pergunta que foi publicada em O Jornal
Batista. A pergunta foi a seguinte: “Até que ponto julga possível uma união
Interdenominacional?” O jornal publicou as respostas dos vários líderes
denominacionais que responderam a consulta, as quais transcrevemos abaixo as
partes principais dos textos de cada um deles:
Há muitas doutrinas básicas e vitais que todas as
denominações aceitam em comum. Estas são mais importantes e mais numerosas do
que as doutrinas que nos separam. É bem possível haver verdadeira
uniãofraternal não-orgânica, por causa dessas doutrinas comuns a todos nós.
(...) O nosso desejo mais ardente é que findem o quanto antes todas as
contendas e lutas desnecessárias.
Não creio que haja atualmente possibilidade ou
conveniência na fusão orgânica das diversas denominações que trabalham no
Brasil. Contudo creio que é possível a criação de um concílio nacional, que não
somente sirva de vínculo moral, mas ainda de comissão dirigente de certos
trabalhos comuns sobre evangelização, educação, imprensa e beneficência.
Em seu comentário, o pastor
Salomão Ginsburg citando o caso da Igreja Batista disse: “... a adoção de um
tal Concílio será impossível. Em primeiro lugar, porque cada igreja local é
livre e independente; e também porque essa ideia na sua última análise daria na
organização dum governo centralizador, tão contrário à índole democrática dos
batistas.”
A resposta do Rev. Themudo Lessa foi um tanto
extensa, por isso, iremos resumi-la aqui.
“... o
requisito primário e essencial é que essa união real... a unidade do espírito
pelo vínculo da paz. O amor de Deus nos corações destruirá toda a raiz de
amargura...”
“...
achamos que, em nosso pais, todas as denominações poderão cooperar unidas nos
seguintes pontos:
2 –
Publicações – Haja uma grande Cas Editora evangélica devidamente instalada em
São Paulo ou Rio de Janeiro, da qual sairia obras de propaganda e instrução
religiosa, de modo a servir todas as denominações.
3 –
Imprensa – Uma revista comum como uma grande tiragem, que seja para os
interesses da EBD...
4 –
Educação – Poderia haver um grande Colégio para os filhos dos crentes das
várias denominações....
Essas mesmas respostas foi dada pelo eminente Rev. Bento Ferraz da IPI.
Meu caro Salomão Ginsburg... A resposta é: Até ao
ponto que o Espírito Santo vencer em nós o egoísmo. Em Cristo não há divisão.
Há apenas a diversidade que permite a união orgânica. Veja-se em I Cor. 12.
Toda divisão na Igreja é resultado do egoísmo humano....
Há no Brasil diversos Estados. Cada um procura o seu
próprio desenvolvimento, tem suas próprias leis, seus próprios governadores, e
seu modo de obedecer e promover os interesses da União ou ‘os Estados Unidos do
Brasil’. O melhor Estado é aquele que
interpreta melhor o espírito brasileiro e faz mais para o desenvolvimento da
união. Ora os planos e projetos de cada estado devem se sujeitar aos planos e
projetos da nação. Seria impatriótico e bem prejudicial se qualquer estado
colocasse seus próprios interesses acima dos interesses de todos os estados ou
da nação. Qualquer fraqueza da nação sente-se em toda parte. Portanto, colocar
os interesses da união acima dos interesses dos diferentes estados, não somente
uma prova de sabedoria como também é o melhor meio de desenvolvimento e defesa
própria. O brasileiro deve ser brasileiro antes de tudo, quer seja
pernambucano, quer seja paulistano. Para o verdadeiro brasileiro o nome
“brasileiro” é mais doce, mais precioso do que qualquer nome regional como
paulista, pernambucano, riograndense, etc.
Devia ser assim com as diversas denominações. Creio
que as denominações tem razão de ser. Porém o “Reino de Deus” é maior do que
qualquer denominação e seus interesses são maiores. O nome cristão é mais doce
mais significativo, mais simpático do que qualquer nome particular. E a
denominação que procure somente o seu próprio desenvolvimento, não o alcançará
e servirá de tropeço e impedimento ao progresso e desenvolvimento do Reino de
Deus. A oração de cada denominação deve ser “venha o teu Reino”.
Julgo porém possível uma união Interdenominacional
sobre esta base de “submeter todos os interesses particulares aos interesses do
“Reino de Deus”, sabendo que, por este modo de proceder, cada denominação vai
alcançando o seu maior progresso e que o Reino vem vindo em toda a sua
extensão. Se é possível haver uma união de estados com interesses tão
diferentes como temos aqui no Brasil, como não podemos ter uma união das
diversas denominações sobre a base acima referida? Creio que é possível.
Sejamos pois primeiramente cristãos.
Abaixo temos a opinião do Rev. Álvaro Reis (foi pastor da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro), não podia escrever em O Estandarte por causa de suas desavenças com o Rev. Eduardo Carlos Pereira, então ele escreveu sobre o assunto em o Puritano, a sua opinião. O editor de O Estandarte, assim se expressa sobre a opinião do Rev. Álvaro Reis: “Num artiguetezinho intitulado “Fraternidade”, entre outras coisas, assim se expressa sobre o a assunto em discussão”:
Mas, uma vez que esta obra de fraternização toma
impulso – desejamos fazer um pedido aos nossos colegas de imprensa e é: - para
que não nos provoquem a discussões interdenominacionais, e especialmente sobre
o batismo e Santa Ceia. Nós absolutamente não desejamos discutir: - mas,
provocados, não nos é possível silenciar. Portanto, por amor à propaganda e boa
fraternidade, pedimos aos colegas da imprensa que não se dirijam a nós, direta
ou indiretamente, a respeito dessas questões interdenominacionais. E em nome de
Cristo – desde já nos confessamos gratíssimos. Álvaro Reis.
A resposta de
Salomão Ginsburg a Álvaro Reis foi de uma infelicidade total, a ponto de ele
supor que os únicos leias a Cristo e à Bíblia eram os batistas, o que gerou uma
outra resposta de O Estandarte ao Jornal
Batista e ao pastor Salomão como veremos mais abaixo. A resposta do pastor
S.L. Ginsburg a Álvaro Reis foi a seguinte:
A esta declaração de nosso exigente colega só diremos
o seguinte: Na última Convenção dos Batistas do Sul da América do Norte
apareceu uma significativa divisa destacada em letras garrafais sobre uma das
paredes e que foi muito apreciada, pois expressava perfeitamente o sentimento
do povo batista espalhado pela superfície da terra. Esta divisa dizia assim: “FRATERNIDADE
É COISA MUITO BOA, PORÉM LEALDADE A JESUS É MUITO MELHOR”. Os batistas
brasileiros apoiam este sentimento de todo coração. A “fraternidade que mesmo
de leve os obrigue a deslealdade para com o Mestre, a sua doutrina, os seus
mandados, não terá aceitação entre nós – Salomão
Luis Ginsburg.
O jornal O Estardarte transcreveu
o editorial acima do pastor Salomão Ginsburg, a abaixo dá a sua opinião sobre o
que disse o missionário:
Como
se vê, o Rev. Salomão L. Ginsburg apresenta as diversas opiniões e faz uma
ligeira crítica de cada uma, não concordando com algumas delas, no que está no
seu direito. Duas coisas queremos notar. A primeira é que a união que almejamos
não é a união orgânica, mas a união dos corações no amor cristão. Isso será um
grande passo e produzirão respeito mútuo. O segundo ponto que queremos
mencionar é que o irmão Salomão, como fez em artigo anterior, parece dar a
entender que lealdade a Cristo é
peculiaridade da denominação batista. Permita o ilustre irmão que reclamemos
também para nós o requisito. União e cooperação com sacrifício da lealdade a
Cristo não a desejamos. Nem a desejam os crentes sinceros de qualquer
denominação.
Podemos ver que quando alguém mexe na
questão doutrinária os ânimos se acirram e a conversa passa a ser discussão.
Não há como haver essa cooperação quando existem tantas diferenças e tantos
interesses em jogo.
Conclusão:
Somos humanos e por isso cometemos
erros e o principal deles é o egoísmo. Cada um quer ter a hegemonia, quer ser o
maior, quer controlar os demais. Não há como haver cooperação dessa forma. Na
realidade nunca haverá tolerância entre as religiões, isso é impossível!
Principalmente porque o cristianismo não é tolerante. Jesus nunca aceitou uma
pessoa tornar-se cristã sem mudar. “Vai e
não peques mais” era a orientação de Jesus. Vem como estás, mas mude a sua
vida para glória de Deus, abandone os ídolos, abandone a velha vida, a velha
natureza pecaminosa, santifique-se e “terás um tesouro no céu”.
Assim também é entre as denominações.
Há muitos interesses, muitos entendimentos diferentes, doutrinas divergentes,
acusações de ambos os lados. Tudo isso mina qualquer tentativa de cooperação mútua
e muito menos orgânica.
[1]
Arthur Beriah Deter – Missionário
batista Norte Americano, um dos fundadores da PIB de Curitiba.
[2]
Eduardo Carlos Pereira –
Intelectual, gramático, pastor da Igreja Presbiteriana Independente de São
Paulo e líder principal do movimento que dividiu a IPB em 31 de julho de 1903.
[3][3] Rev. Vicente do Rego Themudo Lessa – O maior historiador da Igreja
evangélica brasileiro. Em 1938 escreveu sua obra magna Anais, à partir da qual, todo historiador posterior a ele bebeu em
sua fonte. Themudo Lessa foi pastor da IPI em São Luís, MA, de 1907 a
1912.
[4]
Dr. W.A. Waddel – À época era
presidente do Collegio Mackenzie, depois veio a ser a Universidade
Presbiteriana Mackenzie - UPM
[5]
A. B. Langston (Alva Bee Langston), Tinha 31 anos de
idade, em 1909, quando foi nomeado pela Junta de Richmond missionário batista,
tendo vindo para o Brasil. Tornou-se Professor do Colégio Batista do Rio e
também do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Foi Pastor de diversas
igrejas batistas do Rio de Janeiro. Exerceu esta atividade de Pastor e também
de Professor até 1936, quando tinha 58 anos de idade. Faleceu em 1965,com 87
anos.
[6]
Rev. Álvaro Reis - Foi pastor da
Igreja Presbiteriana do rio de Janeiro. Autor e editor da Revista das Missões
Nacionais. Combateu fortemente o movimento de separação da IPB quando houve a
criação da IPI. Ele foi adversário do Rev. Eduardo Carlos Pereira e contrário às
suas posições sobre a maçonaria.
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