Uma das maiores
aberrações criadas pelo movimento da “Visão Celular” foi a figura do “apóstolo”,
que também foi ou é conhecido como “pai-póstolo”. Lembro-me que a primeira vez
que presenciei uma cena de um pastor pedindo “a benção” para um auto-designado “apóstolo”. Foi na carreata de apoio ao já falecido ex-governador Jackson Lago, quando os pastores que
o apoiavam ficaram concentrados próximo ao aeroporto de São Luís, para irem em carreata até
o local onde ia ser o último debate entre os candidatos ao governo do Estado.
Eu estava conversando com alguns pastores, dentre eles o “suposto” apóstolo, que era do
nosso grupo, mas esse negócio de apóstolo ainda não tinha subido para a cabeça
dele, inclusive todos nós o chamavam de “pastor” e ele aceitava tranquilamente. Nessa tarde, enquanto conversávamos,
dois pastores da sua igreja chegaram e se aproximaram dele e um após o outro,
segurando a sua mão disseram; “a benção pai-póstolo!" Eu segurei para não
sorrir e ao mesmo tempo achei aquilo muito estranho.
A segunda vez, foi
quando íamos realizar um café da manhã conjunto, como fazíamos todos os meses.
Como eu havia chegado cedo, estava conversando com o anfitrião da igreja, que
por sinal era a mesma pessoa do episódio da carreata. Estávamos na parte dos fundos do templo, onde havia uma área de vivência, quando chegou alguns auxiliares dele e se dirigindo a ele,
disseram: “sua benção pai-póstolo”. Eu achei aquilo ridículo, sem
propósito e arrogante, mais como não tinha nada a ver com isso, fiquei na minha.
Tenho informações de
que até entre líderes de células e seus discípulos, em algumas igrejas que
aderiram o movimento da "visão celular" há esse tipo de cumprimento com pedido de “benção” e
beijo nas mãos.
Incoerências bíblicas
Jesus Cristo passou
três anos treinando os seus verdadeiros apóstolos a quem escolheu e os enviou a
pregar o seu Evangelho no início da igreja. O próprio Jesus passou mais tempo treinando os discípulos, do que qualquer líder de células, que geralmente não passa de
seis meses.
Jesus
Cristo poderia ser visto como um fracassado pelo movimento da “visão celular”,
porque os seus discípulos não eram "peças boas", mesmo depois de terem sido treinados
durante três longos anos. Dentre os que foram treinados e deram muito trabalho
para o Senhor, podemos citar: Pedro, era arrogante, prepotente, incontrolável,
violento (Mt. 26.51, 52). Jesus o chamou de Satanás (Mt. 16.23), e na hora mais
difícil, ele traiu a Jesus (Mt. 26. 69-75). Tiago e João, com sua mãe, foram
até Jesus para lhe pedirem que ele os colocasse em lugar de destaque, um a sua
direita e o outro a sua esquerda (Mc. 10. 35-45), e como esquecer de Judas, que
conviveu com Cristo os três anos de ministério, foi treinado por Ele, mas foi o
que o traiu. Se no ministério de Jesus foi assim, como podem querer os adeptos do
movimento da “visão celular” fazer com que gente pagã, neófita, seja treinado em apenas seis meses?
Liderança e Líder
Para os “peritos” em
“visão celular” as palavras que mais ocorrem em seus escritos são “liderança” e
“líderes”. Dizem que qualquer pessoa pode vir a ser um líder, basta que para isso
recebam o treinamento. No livro Crescimento
explosivo da Igreja em células, a pg. 27, Joel Comiskey diz que “... treinamento não é tão importante como
a vida de oração do líder e a clareza dos seus alvos” (Grifo meu). Isso
mostra que o treinamento é menos importante do que os alvos. Mais a frente, na
pg. 28 do mesmo livro, Comiskey diz: “Uma
liderança eficaz de células é muito mais uma aventura liderada pelo Espírito do
que uma técnica de estudo bíblico” (Grifo meu). Aqui há a afirmação de que
o líder de célula não precisa saber a Bíblia, pois a sua liderança será
exercida com “aventura” e não pela orientação da Escritura Sagrada.
Mais à frente na pg.
30 do mesmo livro, Comiskey se contradiz totalmente quando ele afirma: “os dons espirituais são importantes, mas
este estudo estatístico e a experiência [...] demonstram que não é necessário nenhum
dom específico para liderar uma célula bem sucedida” (Grifo meu). Se antes
ele havia afirmado que liderar uma célula é uma aventura do Espírito, agora ele
diz que “não precisa nenhum dom espiritual para conduzir a célula”, das duas
uma: ou ele não sabe o que está dizendo, ou a liderança lidera sem o auxílio do
Espírito Santo, provando assim que é um movimento humanista.
Uma prova de que o
movimento da “visão celular” é um modelo meramente humanista, está nas
declarações de Comiskey à pg. 32 e 61, ele diz que "o líder de célula não
precisa de pré-requisitos, nem de perfil, nem de qualificações e que eles são
treinados nas próprias células", de forma pragmática, reproduzindo de forma
resumida o sermão do pastor do domingo anterior. Uma igreja que considera os
alvos mais importantes do que o treinamento, releva a Palavra de Deus e o seu
estudo sério e sistemático e estabelece uma liderança desprovida do dom do
Espírito Santo, onde as pessoas desqualificadas é que lideram, o resultado não
será outro a não ser a perversão do Evangelho, a mundanização da igreja e por
fim a sua destruição.
Ambiente propício a proliferação de heresias
A principal de todas as heresias foi a
constituição de um corpo de supostos “apóstolos” e depois elegeram um “patriarca”
do Brasil, colocando sobre o maluco um manto púrpura, sinal de realeza, para
que o megalomaníaco Terranova, se sentisse um semi-deus. Esse é o modelo do episcopado monárquico, onde um só detém o poder absoluto sobre a igreja e sobre os outros hierarquicamente abaixo dele. Essa é a única forma de se alcançar o sonho
da "Mega-Igreja", adotando essa visão “papal” de liderança sobre o restante dos
liderados de menor importância. Esse é o resultado de uma igreja de baixo nível
teológico-doutrinário, uma igreja à mercê dos caprichos e loucuras dos seus
líderes, uma igreja prestes a sucumbir biblicamente, como aconteceu com a
Igreja Católica Romana.
Uma outra heresia do
movimento tem a ver com o culto. O culto da igreja de “visão celular” é geralmente um culto pentecostal, consequentemente é um culto humanista, com ênfase no homem, que
enfatiza as obras humanas e é um culto sem as exigências da Palavra de Deus.
O Dr. Augustus Nicodemos no estudo da Bíblia disse: “Deus exige de nós que o
cultuemos em conformidade com a sua vontade revelada e não de acordo com as
nossas imaginações mundanas”.
Para o movimento da “visão
celular”, culto deixou de ser culto e passou a ser “celebração” ou “reunião”.
Eles dizem que as pessoas não querem participar de um culto, porque isso é
muito ameaçador, mas elas irão para uma reunião familiar, mais informal e descontraída.
Será que o Nosso Senhor Jesus Cristo errou? Será que os apóstolos que se
reuniam nas sinagogas para o culto solene erraram? Será que a igreja ao longo
de quinze séculos labutou em erro? Será que dos Reformadores aos Puritanos,
todos eles estavam errados, em vinte séculos de história, e que somente agora,
no final do século XX, os idealizadores do movimento da “visão celular” é que
acertaram? Creio que não, o que eles fizeram foi deturpar os valores da igreja
de Cristo e o trocaram pelo movimento humanista mundano.
Culto para o
movimento da visão celular é algo bem parecido com o que vem abaixo:
Primeiro passo:
Quebra-Gelo (Já pensaram Pedro ou Paulo, antes da pregação, chamar o povo para um quebra-gelo?).
Interação: você para
mim eu para você.
Atividades:
Perguntas e dinâmicas
Atmosfera: Não
ameaçadora, 15 a 20 minutos.
Segundo passo:
Adoração
Interação: de nós
para Deus
Atividades: Louvor e
Adoração
Atmosfera:
reverência e gratidão – 15 a 20 minutos
Terceiro passo:
Confraternização
Interação: de todos
para todos
Atmosfera: comunhão
com lanche – 10 a 15 minutos
Encerramento.
Isso é ridículo! Isso não é culto. Isso
é sociabilidade humana e nada mais. O culto precisa ser realizado no templo[1] (e não em células), e deve
ter os elementos ordenados pela Palavra de Deus que são:
- Leitura da Palavra
de Deus
- Cânticos
espirituais
- Orações
- Pregação da
Palavra de Deus
- Cânticos
espirituais
- Orações e ofertas,
e
- Ministração dos
Sacramentos[2]
Assim
como o culto é deturpado, o conceito de pastorado também o é. O pastor deixa de
ser pastor e passa a ser um empreendedor, gestor, facilitador, etc., sem
nenhuma conotação bíblica, fora totalmente dos padrões da Escritura Sagrada.
Para os líderes do movimento da “visão celular”, o ofício pastoral é a desgraça
da igreja.[3] Para eles, nas igrejas de “visão
celular” o ministério é tirado das mãos de alguns “escolhidos” e “é colocado no
colo de muitos”.[4]
No último post dessa
série, tratarei dos pressupostos anti-bíblicos do movimento de “visão celular”.
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