terça-feira, 5 de janeiro de 2016

CONSIDERAÇÕES FORTÚITAS SOBRE A PREGAÇÃO DA PALAVRA

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Rev. João d'Eça


Que formosos são sobre os montes os pés

do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir

a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir

a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!

(Isaias 52.7)

 

Introdução
          Quando falamos de pregação da palavra estamos tratando de uma matéria de grande responsabilidade, primeiramente porque o pregador é um enviado de Cristo, ao púlpito para explicar as mensagens de salvação. Calvino e Lutero ficavam impressionados com o tamanho da responsabilidade: falar em nome de Deus, a Palavra de Deus. O fato é que a Escritura nos diz que nós temos de dar conta até da palavra ociosa, imaginem a responsabilidade da palavra proferida? Ela tem repercussões eternas.
 
Como preparar o sermão
          O sermão nunca deve ser feito de improviso, fazer assim é irresponsabilidade, é não levar em consideração a importância da mensagem. O lema de João Calvino era: “Orare et labutare” (Oração e Trabalho). Esse deve ser o esforço do pregador, orar e trabalhar duro para apresentar uma mensagem relevante e biblicamente centrada.
 
O pregador deve fazer um esforço para ter bons comentários bíblicos e bons livros. O pregador ainda continuará a ser um aluno, e deve ser um aluno mais aplicado ainda mesmo depois de sair do seminário. O pregador relevante “aproveita bem cada oportunidade” para ler durante suas viagens. Pobre daquele que pensa que o tempo de estudar se limita ao tempo de seminário, ou que pensa que não precisa estudar de jeito nenhum, achando que receberá a mensagem para pregar à igreja por “divina revelação extática”.
 
O conselho do apóstolo Paulo a seu filho na fé Timóteo foi “Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino” (I Tm. 4.13). Um certo pregador de notável reconhecimento atraia as suas ovelhas pelos seus sermões edificantes. Alguns irmãos, porém, se queixavam da sua falta de visitação mais constante. A sua resposta era que, se os visitasse mais em suas casas, eles o visitariam menos na igreja, pois os seus sermões não seriam devidamente preparados.
 
Quanto de texto usar
         Os sermões podem ter como base um só versículo das Escrituras ou podem ser expositivos, como é a prática presbiteriana da maioria dos pregadores. A exposição da Palavra era a prática comum dos apóstolos e foi a prática dos grandes pregadores ao longo da história até a Reforma, onde os Reformadores usavam a pregação expositiva como meio de evangelizar, edificar e de ensinar as igrejas. Dos Reformadores aos nossos dias, passamos por pregadores como Whitifield, Edwards, Spurgeon,  Lloyd Jones, John Stott, etc.
 
A missão do pregador no culto público consiste, pois, em apresentar uma mensagem fiel à igreja. Seu sermão deve ser bem estudado e meditado. Ele deve se lembrar que, entre os ouvintes, está a presença do Príncipe dos pastores, o Senhor Jesus Cristo. O pregador deve ser extremamente cuidadoso na escolha do texto, sabendo o que vai dizer a igreja. O texto não pode ser um “pretexto”, mas ele deve ser a base do sermão.
 
         O substituto natural do pastor na igreja é o presbítero, mas se o presbítero não for um homem habilitado, não for devidamente preparado, conforme ensina a Escritura, não deve se aventurar nos caminhos da pregação.
 
O papel dos ouvintes
         O povo que está no culto deve dar toda a atenção durante a pregação. É falta de respeito, de ordem e reverência, quando as pessoas ficam levantando-se durante a pregação. Desde a saída de casa, as pessoas que vão ao culto, devem se preparar em oração, orando não só pelo pregador, mas por si próprio, para que Deus lhe abra o entendimento para compreender a verdade e para que a Palavra não volte vazia.
 
Nunca critique o pregador em público para não desestimular os ouvintes a não quererem mais ouvi-lo, muito menos critique em casa à presença dos filhos, para que estes não fiquem desanimados e não venham a perder o respeito pelo pregador e pela mensagem. A maioria dos críticos fazem a critica pelo simples hábito de criticar, nem se lembram do que foi pregado, do texto lido, mas a língua ferina, tende a criticar pelo mau hábito.
 
Conclusão
 
         As famílias devem sair de casa para o culto com júbilo e alegria em seus corações, desejando ouvir a Palavra de Deus através dos seus servos os pregadores, usados por ele como instrumentos de transmissão da sua mensagem.
 
Orar, prestar atenção, tentar compreender o que se diz é dever dos ouvintes. O dever dos pais é orientar os seus filhos, mesmos os pequeninos, a saber que aquele momento da pregação é um momento de prestar atenção e se comportar. Para isso, os pais devem orientar os seus filhos desde a casa e exigir que eles atentem para a pregação na hora do culto.
 
Aos pregadores, devem ser fieis às Escrituras e falar aos ouvintes todo o conselho de Deus. Nunca saia para o culto sem antes ter se preparado adequadamente para tão sublime tarefa, a de pregar a Palavra de Deus.

1916 TENTATIVA DE CRIAÇÃO DA UNIÃO DE IGREJAS EVANGÉLICAS DO BRASIL

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Rev. João d'Eça



Introdução:
Há 100 atrás, mais precisamente em fevereiro de 1916, houve no Panamá o Congresso Evangélico Latino-Americano. Antes da realização desse Congresso, houve no Brasil reuniões interdenominacionais, na cidade de São Paulo, onde participaram as maiores igrejas e os mais eminentes nomes entre essas denominações.
 
 
O objetivo da aproximação entre as denominações era de trocar ideias sobre os assuntos que seriam discutidos no Congresso do Panamá, porém, em outras reuniões a proposta das reuniões foi mais além, havendo reuniões de confraternização e de acordos para melhor harmonia no futuro em relação ao trabalho evangélico.
 
 
Já há100 anos passados a dificuldade era enorme para uma cooperação fraternal, hoje nem se cogita nessa possibilidade, principalmente porque o trabalho de igreja não é mais para o engrandecimento do Reino de Deus, mas virou “balcão de negócios” e nicho de grupos ou famílias que querem fazer o seu negócio prosperar e para isso eles fazem qualquer coisa, menos cooperação Interdenominacional gratuita.
 
As reuniões em São Paulo
          Os líderes das Igrejas Presbiterianas do Brasil e Independente, bem como das outras igrejas receberam o convite para participação num Instituto Bíblico Interdenominacional, cujas reuniões iriam acontecer nos dias 12 a 19 de dezembro de 1915. Os idealizadores do movimento eram os missionários da igreja Batista. O Jornal Batista publicou a posição dos batistas dizendo que “em matéria de doutrinas, de convicções ou questão de consciência, ... não cederemos um ponto sequer naquilo que julgamos ser a vontade revelada do nosso Mestre”.
         Os batistas ainda disseram que mesmo assim, “isto... não impede que haja respeito mútuo entre os diversos ramos evangélicos”. Então eles dizem que não concordam com o batismo infantil, o qual consideram “heresia”, mas respeitam os que tem convicções sobre o assunto.
         Para muitos ministros que participaram daquelas reuniões, o objetivo deveria ser o de uma “União Orgânica”, ou seja, a fusão de todas as denominações em uma só corporação. Porém, essa ideia não encontrou apoio entre os pastores e nem entre as igrejas presentes. O objetivo predominante parecia ser o de uma união onde fosse possível haver para combate do inimigo comum.
Consulta aos pastores
 
 
         O pastor batista e missionário Salomão Luiz Ginsburg, resolveu enviar aos pastores uma pergunta que foi publicada em O Jornal Batista.  A pergunta foi a seguinte: “Até que ponto julga possível uma união Interdenominacional?” O jornal publicou as respostas dos vários líderes denominacionais que responderam a consulta, as quais transcrevemos abaixo as partes principais dos textos de cada um deles:

Pastor A.B. Deter[1]
Há muitas doutrinas básicas e vitais que todas as denominações aceitam em comum. Estas são mais importantes e mais numerosas do que as doutrinas que nos separam. É bem possível haver verdadeira uniãofraternal não-orgânica, por causa dessas doutrinas comuns a todos nós. (...) O nosso desejo mais ardente é que findem o quanto antes todas as contendas e lutas desnecessárias.

Rev. Eduardo Carlos Pereira[2]
Não creio que haja atualmente possibilidade ou conveniência na fusão orgânica das diversas denominações que trabalham no Brasil. Contudo creio que é possível a criação de um concílio nacional, que não somente sirva de vínculo moral, mas ainda de comissão dirigente de certos trabalhos comuns sobre evangelização, educação, imprensa e beneficência.
Em seu comentário, o pastor Salomão Ginsburg citando o caso da Igreja Batista disse: “... a adoção de um tal Concílio será impossível. Em primeiro lugar, porque cada igreja local é livre e independente; e também porque essa ideia na sua última análise daria na organização dum governo centralizador, tão contrário à índole democrática dos batistas.”
 

Rev. Vicente Themudo Lessa[3]
 
A resposta do Rev. Themudo Lessa foi um tanto extensa, por isso, iremos resumi-la aqui.
         “... o requisito primário e essencial é que essa união real... a unidade do espírito pelo vínculo da paz. O amor de Deus nos corações destruirá toda a raiz de amargura...”
         “... achamos que, em nosso pais, todas as denominações poderão cooperar unidas nos seguintes pontos:
          1 – Beneficência – Hospitais, Asilos, Orfanatos, etc;
         2 – Publicações – Haja uma grande Cas Editora evangélica devidamente instalada em São Paulo ou Rio de Janeiro, da qual sairia obras de propaganda e instrução religiosa, de modo a servir todas as denominações.
         3 – Imprensa – Uma revista comum como uma grande tiragem, que seja para os interesses da EBD...
         4 – Educação – Poderia haver um grande Colégio para os filhos dos crentes das várias denominações....
 
Essas mesmas respostas foi dada pelo eminente Rev. Bento Ferraz da IPI.
 

Dr. W.A. Waddel[4]
 
Meu caro Salomão Ginsburg... A resposta é: Até ao ponto que o Espírito Santo vencer em nós o egoísmo. Em Cristo não há divisão. Há apenas a diversidade que permite a união orgânica. Veja-se em I Cor. 12. Toda divisão na Igreja é resultado do egoísmo humano....
 

Dr. A.B. Langston[5]
 
Há no Brasil diversos Estados. Cada um procura o seu próprio desenvolvimento, tem suas próprias leis, seus próprios governadores, e seu modo de obedecer e promover os interesses da União ou ‘os Estados Unidos do Brasil’. O melhor  Estado é aquele que interpreta melhor o espírito brasileiro e faz mais para o desenvolvimento da união. Ora os planos e projetos de cada estado devem se sujeitar aos planos e projetos da nação. Seria impatriótico e bem prejudicial se qualquer estado colocasse seus próprios interesses acima dos interesses de todos os estados ou da nação. Qualquer fraqueza da nação sente-se em toda parte. Portanto, colocar os interesses da união acima dos interesses dos diferentes estados, não somente uma prova de sabedoria como também é o melhor meio de desenvolvimento e defesa própria. O brasileiro deve ser brasileiro antes de tudo, quer seja pernambucano, quer seja paulistano. Para o verdadeiro brasileiro o nome “brasileiro” é mais doce, mais precioso do que qualquer nome regional como paulista, pernambucano, riograndense, etc.
Devia ser assim com as diversas denominações. Creio que as denominações tem razão de ser. Porém o “Reino de Deus” é maior do que qualquer denominação e seus interesses são maiores. O nome cristão é mais doce mais significativo, mais simpático do que qualquer nome particular. E a denominação que procure somente o seu próprio desenvolvimento, não o alcançará e servirá de tropeço e impedimento ao progresso e desenvolvimento do Reino de Deus. A oração de cada denominação deve ser “venha o teu Reino”.
Julgo porém possível uma união Interdenominacional sobre esta base de “submeter todos os interesses particulares aos interesses do “Reino de Deus”, sabendo que, por este modo de proceder, cada denominação vai alcançando o seu maior progresso e que o Reino vem vindo em toda a sua extensão. Se é possível haver uma união de estados com interesses tão diferentes como temos aqui no Brasil, como não podemos ter uma união das diversas denominações sobre a base acima referida? Creio que é possível. Sejamos pois primeiramente cristãos.
 

Abaixo temos a opinião do Rev. Álvaro Reis (foi pastor da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro), não podia escrever em O Estandarte por causa de suas desavenças com o Rev. Eduardo Carlos Pereira, então ele escreveu sobre o assunto em o Puritano, a sua opinião. O editor de O Estandarte, assim se expressa sobre a opinião do Rev. Álvaro Reis: “Num artiguetezinho intitulado “Fraternidade”, entre outras coisas, assim se expressa sobre o a assunto em discussão”:

Rev. Álvaro Reis[6]
 
Mas, uma vez que esta obra de fraternização toma impulso – desejamos fazer um pedido aos nossos colegas de imprensa e é: - para que não nos provoquem a discussões interdenominacionais, e especialmente sobre o batismo e Santa Ceia. Nós absolutamente não desejamos discutir: - mas, provocados, não nos é possível silenciar. Portanto, por amor à propaganda e boa fraternidade, pedimos aos colegas da imprensa que não se dirijam a nós, direta ou indiretamente, a respeito dessas questões interdenominacionais. E em nome de Cristo – desde já nos confessamos gratíssimos. Álvaro Reis.
         A resposta de Salomão Ginsburg a Álvaro Reis foi de uma infelicidade total, a ponto de ele supor que os únicos leias a Cristo e à Bíblia eram os batistas, o que gerou uma outra resposta de O Estandarte ao  Jornal Batista e ao pastor Salomão como veremos mais abaixo. A resposta do pastor S.L. Ginsburg a Álvaro Reis foi a seguinte:
 
A esta declaração de nosso exigente colega só diremos o seguinte: Na última Convenção dos Batistas do Sul da América do Norte apareceu uma significativa divisa destacada em letras garrafais sobre uma das paredes e que foi muito apreciada, pois expressava perfeitamente o sentimento do povo batista espalhado pela superfície da terra. Esta divisa dizia assim: “FRATERNIDADE É COISA MUITO BOA, PORÉM LEALDADE A JESUS É MUITO MELHOR”. Os batistas brasileiros apoiam este sentimento de todo coração. A “fraternidade que mesmo de leve os obrigue a deslealdade para com o Mestre, a sua doutrina, os seus mandados, não terá aceitação entre nós – Salomão Luis Ginsburg.
 
O jornal O Estardarte transcreveu o editorial acima do pastor Salomão Ginsburg, a abaixo dá a sua opinião sobre o que disse o missionário:
 
Como se vê, o Rev. Salomão L. Ginsburg apresenta as diversas opiniões e faz uma ligeira crítica de cada uma, não concordando com algumas delas, no que está no seu direito. Duas coisas queremos notar. A primeira é que a união que almejamos não é a união orgânica, mas a união dos corações no amor cristão. Isso será um grande passo e produzirão respeito mútuo. O segundo ponto que queremos mencionar é que o irmão Salomão, como fez em artigo anterior, parece dar a entender que lealdade a Cristo é peculiaridade da denominação batista. Permita o ilustre irmão que reclamemos também para nós o requisito. União e cooperação com sacrifício da lealdade a Cristo não a desejamos. Nem a desejam os crentes sinceros de qualquer denominação.
 
         Podemos ver que quando alguém mexe na questão doutrinária os ânimos se acirram e a conversa passa a ser discussão. Não há como haver essa cooperação quando existem tantas diferenças e tantos interesses em jogo.
 
Conclusão:
         Somos humanos e por isso cometemos erros e o principal deles é o egoísmo. Cada um quer ter a hegemonia, quer ser o maior, quer controlar os demais. Não há como haver cooperação dessa forma. Na realidade nunca haverá tolerância entre as religiões, isso é impossível! Principalmente porque o cristianismo não é tolerante. Jesus nunca aceitou uma pessoa tornar-se cristã sem mudar. “Vai e não peques mais” era a orientação de Jesus. Vem como estás, mas mude a sua vida para glória de Deus, abandone os ídolos, abandone a velha vida, a velha natureza pecaminosa, santifique-se e “terás um tesouro no céu”.
         Assim também é entre as denominações. Há muitos interesses, muitos entendimentos diferentes, doutrinas divergentes, acusações de ambos os lados. Tudo isso mina qualquer tentativa de cooperação mútua e muito menos orgânica.


[1] Arthur Beriah Deter – Missionário batista Norte Americano, um dos fundadores da PIB de Curitiba.
[2] Eduardo Carlos Pereira – Intelectual, gramático, pastor da Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo e líder principal do movimento que dividiu a IPB em 31 de julho de 1903.
[3][3] Rev. Vicente do Rego Themudo Lessa – O maior historiador da Igreja evangélica brasileiro. Em 1938 escreveu sua obra magna Anais, à partir da qual, todo historiador posterior a ele bebeu em sua fonte. Themudo Lessa foi pastor da IPI em São Luís, MA, de 1907 a 1912. 
[4] Dr. W.A. Waddel – À época era presidente do Collegio Mackenzie, depois veio a ser a Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM
[5] A. B. Langston (Alva Bee Langston), Tinha 31 anos de idade, em 1909, quando foi nomeado pela Junta de Richmond missionário batista, tendo vindo para o Brasil. Tornou-se Professor do Colégio Batista do Rio e também do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Foi Pastor de diversas igrejas batistas do Rio de Janeiro. Exerceu esta atividade de Pastor e também de Professor até 1936, quando tinha 58 anos de idade. Faleceu em 1965,com 87 anos.
[6] Rev. Álvaro Reis - Foi pastor da Igreja Presbiteriana do rio de Janeiro. Autor e editor da Revista das Missões Nacionais. Combateu fortemente o movimento de separação da IPB quando houve a criação da IPI. Ele foi adversário do Rev. Eduardo Carlos Pereira e contrário às suas posições sobre a maçonaria.

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