A disciplina na Igreja faz parte dos ensinamentos das
Escrituras Sagradas, expresso em três doutrinas ou três fases do mesmo mandato:
1 – A ideia e função da igreja de Jesus Cristo;
2 – A razão e o método da disciplina na Igreja;3 – O alcance e responsabilidade da disciplina.
I – A IDEIA E FUNÇÃO
DA IGREJA DE JESUS CRISTO
A Igreja de Jesus cristo na sua significação mais abrangente
é a reunião de pessoas nascidas de novo, em todos os tempos e épocas, no céu e
na terra. Nesse sentido a igreja é identificada com o reino espiritual de Deus
(João 3.3-6). Significa a função na qual Deus ou na pessoa do nosso Senhor
Jesus Cristo, exerce domínio espiritual. Assim a igreja de Cristo é santa,
infalível e imperecível, fora da igreja não há salvação, ela é a comunhão dos
escolhidos de Deus.
A igreja porém, como instituição visível compõem-se de todos
os crentes em Jesus Cristo, juntamente com os seus filhos. Alcança todas as
igrejas locais que vivem o padrão do Evangelho santo, com o fim de alcançar
neles mesmos e no mundo inteiro, o estabelecimento do Reino do Senhor.
Entende-se por igreja visível todas as pessoas que fazem
parte da igreja local e parece incluir todos os professos, sejam eles crentes
verdadeiros ou não, que como numa pesca, a rede captura tanto os peixes que
servem como também os peixes que serão descartados. Em sentido geral a Igreja
visível é a comunhão dos santos chamados por Deus, porém, assim como aqueles
que ouviram o Evangelho e não foram tocados pelo seu poder, há aqueles que
mesmo batizados, não pertencem ao reino de Deus, nem são parte da igreja
invisível.
A igreja visível se diferencia da igreja invisível do
seguinte modo:
1 – A igreja cristã é o povo regenerado por Cristo, o reino
de Deus foi implantado desde que o primeiro pecador foi regenerado.
2 – A igreja limita-se aos crentes no Cristo histórico,
inclui todos os filhos de Deus, lavados e remidos pelo sangue de Cristo vertido
na cruz. Jesus disse em João 10.16: “Ainda
tenho outras ovelhas, não deste aprisco...”.3 – A igreja visível está neste mundo, enquanto que o reino de Deus é composto dos fieis da igreja visível e dos regenerados que já estão na glória.
4 – A igreja é visível. O reino é invisível, composto de todos os que estão em comunhão com o Senhor.
5 – A igreja visível é um organismo imperfeito e está dividido em igrejas locais. O Reino de Deus é um, é único, é autônomo, e, é indivisível como a vontade de Deus.
6 – A igreja visível é um meio. O Reino é o fim.
Todos os crentes são chamados para fazer o possível para
auxiliar a igreja a cumprir a sua missão de evangelizar o mundo. O objetivo de
Jesus Cristo é que cada crente tenha os olhos no Reino de Deus e não na igreja
pela igreja. A igreja local não pode e nem deve ser o fim mais alto da vida de
seus membros. Segundo o cristianismo, a igreja visível é a sociedade instituída
por Cristo para levar os homens a serem cidadãos dos céus.
A função da igreja é chamar o mundo para Deus e servir de
escola para os que vêm a Cristo, educando-os a cultivar nos seus corações o
caráter do reino celestial. Aqui na terra o Senhor Jesus Cristo governa, nutre
e aperfeiçoa a sua igreja.
O texto do Evangelho de Mateus,
28.19-20 diz: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos
os dias até a consumação do século”.
Aqui está a ideia fundamental da igreja; a união dos crentes
pela presença constante do Espírito Santo. A comunhão do Senhor com os santos
regenerados em Cristo. A comunhão dos que são separados do mundo, dedicados a
Deus; a comunhão dos que afastam-se dos pecados e seguem a justiça, daqueles
que amam a Deus e ao seu próximo, por causa da Palavra de Deus.
Na Grande Comissão vemos a função primordial da igreja que
é: “fazer discípulos de todas as nações”: a) Batizando-os como filhos da
família e do reino de Deus, que foram chamados e aceitos pelo amor do pai, que
foram remidos e reconciliados pelo sacrifício de seu Filho, com o objetivo de
serem santos por meio do poder do Espírito Santo, aplicando aos seus espíritos
a santidade, e b) Ensinando-os a observar todos os mandados do seu Rei e
Salvador.
Ensinar às nações e a todos os povos a fazer deles
discípulos professos e selados através do batismo, é a evangelização do mundo.
Ensinar os batizados a serem discípulos dignos da sua profissão de fé,
observadores de todas as cousas que Cristo mandou, é a disciplina da Igreja.
II - A RAZÃO E O
MÉTODO DA DISCIPLINA
A razão, pois, da disciplina é a imperfeição dos crentes. É preciso disciplinar os desejos a vontade do homem até conformar-se com o espírito e vontade de Deus. Os meios que a igreja usa, pela autoridade de Jesus Cristo, para este fim, são as ordenanças do Senhor, especialmente a Palavra, os sacramentos, e a oração. Tudo o que se torna eficaz aos eleitos para a salvação. Assim é a disciplina eclesiástica no sentido literal.
Porém, em sentido mais restrito, para significar a correção
dos fracos, repreensão dos que cometem erros e a exclusão dos pecadores
contumazes. Com relação à disciplina eclesiástica, a Confissão de Fé de Westminster,
no Cap. XXX, seção 3, diz:
São
precisas as censuras eclesiásticas para corrigir e ganhar irmãos ofensores;
para deter outros de semelhantes ofensas; para lançar fora o fermento que podia
infectar toda a massa; para vindicar a honra de Cristo e a santa profissão do
Evangelho, e para prevenir a ira de Deus, que podia com justiça cair sobre a
igreja, se ela permitir que o pacto divino e seus selos sejam profanados por
ofensores notórios e obstinados.
Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos em todos os tempos
e épocas, quais são os preceitos da disciplina na igreja, em Mateus 18. O que é
interessante aqui é que Jesus como o grande pedagogo, lhes dá uma lição que
eles ainda não haviam aprendido. Como os discípulos de Cristo, como ministros
do reino de Deus, poderiam conseguir qualquer bem, enquanto o seu grande
negócio era o lugar de cada um no reino? Eram homens ainda cheios de paixões,
de ambições e ciúmes uns dos outros.
Nesse sentido, estaria ameaçada a implantação do reino de
Deus, já que esses homens ainda precisavam abandonar a prática do egoísmo, que
ainda abrigavam no seu coração o mal. Dessa forma eles estariam sujeitos a
fazer cair no desprezo a causa para a qual foram chamados a promover.
O trabalho de Jesus desde aquele momento, foi o de fazê-los
ver o que de fato era o Reino de Deus. Jesus disse aos seus discípulos, e diz a
nós também, que nós precisamos nos despir de todo o mal que habita em nós, ele
então toma uma criança, põe-na no meio deles e diz: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo
algum entrareis no reino dos céus”. (Mt. 18.3).
O ensino de Jesus é exemplar nesse caso específico, porque é
feita uma comparação: A criança nada sabe sobre inveja, orgulho, paixão
mundana, em que pese, a criança também manifestar essas características do
homem caído. Porém, essa inocência gera afeição, a confiança e docilidade.
Quanto mais alto subimos no reino de Deus, mais parecidos
com Cristo nos tornamos. Jesus humilhou-se a si mesmo, não quis receber glórias
meramente humanas, mas viveu de modo que toda a honra e toda a glória fosse de
Deus, o Pai. A maioria dos homens, até mesmo quando projeta as coisas boas,
geralmente o faz pensando em si próprio e não no Reino de Deus, sempre pensa em
si, na sua honra, dignidade, na sua reputação, mesmo quando está fazendo o bem
para o próximo. A maioria dos homens quando faz o bem, o bem que ele faz
beneficia mais a si do que o seu próximo.
Os grandes no reino de Deus, porém, ao contrário, se lançam
a si mesmos sem nenhuma reserva ao trabalho a que são chamados a fazer. A
grande diferença entre o reino de Deus e os reinos do mundo, é que para o reino
do mundo o princípio é outro: Aqui no mundo os soberbos e orgulhosos ganham
lugar de honra, no reino de Cristo, as honras são dadas aos humildes.
Jesus disse, “quem receber uma criança, tal como esta, em
meu nome, a mim me recebe” (Mt. 18.5). Os membros das nossas igrejas deveriam
se inspirar nas palavras de Jesus. Quem dera que a igreja, sempre temente a
Deus, fiel aos santos, cumprisse a vontade de Deus para com aqueles que são do
Reino.
No ministério de Jesus Cristo, as duas causas que são
motivos de disciplina são expressas e são: 1) a falta de um espírito inocente,
um crente dócil e despretensioso; 2) a falta de compreensão e ternura para com
os neófitos na fé. “Se teu irmão pecar
contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste teu irmão”.
A comunhão dos santos da igreja de Cristo está em processo
de aperfeiçoamento, somos cidadãos do céu. Portanto, a disciplina na igreja tem
de ter o caráter desse reino, o amor fraterno e o interesse pelo bem de todos.
Isto naturalmente não significa que não haverá punição para os pecadores
contumazes, mas a igreja deve agir firmemente como ensina as Escrituras, para o
exemplo dos outros.
Conclusão:
Segundo o ensino do nosso Senhor Jesus, o ofendido tem de ir
sozinho ao ofensor para tratar da ofensa, seja contra ele, seja contra a igreja,
seja contra o nome de Cristo, talvez nesse primeiro momento seja possível leva-lo
ao arrependimento. O injuriado terá de cessar a sua ira, a sua mágoa e falar
com paciente amor. Esse sistema não deixa margem para maledicências (Lv.
19.16,17).
Quando ganhamos um irmão que se arrepende dos seus pecados,
nosso trabalho proporcionará que a igreja não sofra as consequências do
opróbrio e se conservará a unidade do espírito no vínculo da paz.
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