Introdução:
João
Huss como ficou conhecido, era Reitor da Universidade de Praga, tendo adotado
as idéas de John Wycliffe, foi condenado à fogueira pelo Concílio de Constaça
no dia 6 de junho de 1415, pelo Cardeal João Bucka, conhecido como o bispo de
ferro.
A vida
e o apostolado de João Hus se deram entre o final do séc. XIV e o início dos
primeiros anos do século XV, no reino da boêmia. Huss e o movimento hussita
são, portanto contemporâneos de Joana d'Arc. A reforma religiosa, da qual Huss
foi o incentivador mais potente e o mártir, suscitou no país uma revolução
social e guerras, a revolução e as guerras hussitas — de alcance internacional
— cuja agitação pareceu por um momento arrebatar o destino da Europa. A epopéia
hussita marcou de modo indelével o espírito nacional do povo tcheco. Um ideal
de austeridade, pobreza, igualdade fraternal, resistência invencível à
opressão, um cristianismo rude e simples de camponeses e soldados, uma fé que
se ergue acima das montanhas, assim se demonstra o hussita, tipo admirável de
guerreiro e crente, "soldado de Deus", como ele próprio se define.
Victor-Marie Hugo (nasceu em Besançon,
França em 26 de fevereiro de 1802 — Morreu em Paris, França, a 22 de maio
de 1885).
Foi um novelista,
poeta,
dramaturgo,
ensaísta,
artista,
estadista
e ativista pelos direitos humanos francês
de grande atuação política em seu país. É autor de Les
Misérables (Os
miseráveis) e de Notre-Dame de Paris (O corcunda de Notre-Dame), entre
diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial.
O poema abaixo, atribuído a
Victor Hugo, encontrei-o em um periódico, onde foi publicado a mais de 100 anos
atrás, não posso atestar se de fato pertence à pena do grande escritor francês,
porque não encontrei nenhuma menção à esse poema nos seus escritos ou noutra
pesquisa que fiz. Porém, o poema é belo, e trata da vida de um pré-reformador
que foi morto pelo romanismo em 1415. Leia e aprecie.
Jon
Hus e a fogueira
(Victor Hugo)
Um dia o
sacro templo humano – o Pantheon
Esconderá na sombra as vossas catedrais,Sombrias Stambuls, Sodomas infernais!
E o véu do esquecimento ocultará gelado
A multidão estranha e negra do passado,
Em tanto que o futuro – esse farol gigante
Envolverá no brilho a humanidade infante,
Fotografando n’alma o sentimento eterno
A luz do sol fulgente, a luz do amor fraterno!
A humanidade é grande e sente no seu peito
Alguma coisa estranha o quer que é suspeito –O coração que a leva em busca do futuro,
Como quem vai na sombra aconchegado a um muro!
E teme a compaixão qual sorvedouro fundo
Cuja garganta enorme é a sociedade, o mundo,
E preferindo o ódio há de ir prender-se ao mal
Pra não pensar sequer na compaixão fatal.
Diz o perdão-amor! O amor é um mistério,
Que envolve num só véu o berço e o cemitério!
O amor é um problema, e é tão profundo isto,
Que apenas o entendem um cérebro – o de cristão!
João Huss já sobre pilha enorme de madeira
Olhava, como estátua, as chamas da fogueiraE vê aproximar-se em vagarosos passos
O algoz sinistro e vil, que vai prender-lhe os braços!
A fronte horripilante, estúpida, animal,
Do monstro que tortura, apática, infernal,
Do monstro executor, do monstro audaz e forte,
Fita no pensador o fero olhar da morte.
O olhar é como um raio! O soluçar um grito
Que vai repercutir nos mares do infinito!
O algoz é como a fera a quem o sangue instiga,
É como o herói tremendo em uma lenda antiga;
Arrasta sem temer e mata sempre a rir;
Não sabe o que é chorar, não sabe o que é sentir!
E Huss vê chegar esse homem, essa besta,
Esse ente que horroriza, envilecido, informe,
Filho talvez da morte, irmão talvez do mal,
Que tem nos ombros nus o estigma fatal,
Que tem um coração talvez de pederneira,
Que lança da pupila as chamas da fogueira!
O algoz estava ali, sereno, junto ao crime,
Na bruta indiferença, a quem já nada oprime.
Quem sabe quanto grito as rugas infernais
Daquele rosto alvar, quem sabe quantos aisIndicam elas, que? Quantas mães queimadas
Em nome da justiça? E quantas condenadas
Em nome de Jesus, as húmidas cavernas;
Da tétrica masmorra às solidões eternas!
Na funda hediondez daquela fronte irada
O luto da orfandade, a viuvez, o pranto,
Estendem sobre o algoz a escuridão do manto!
Os filhos do carrasco a morte os alimenta
Do sangue derramado; e sempre ela sedentaEspalha pelo espaço a avermelhada chama
Com os trapos da miséria arranja-lhes a cama!
Os punhos em ferida aberta em ferro quente,
Crispavam como anéis nervosos de serpente!Com o peito semi-nu, os negros pés descalços,
Medonha caricatura, horror dos cadafalsos.
Vigia cuidadoso aquela cova ardente,
Porque é preciso enfim, que o seu calor aumente,E lança para ali, pra dentro da fornalha,
Como um tirano lança as hostes à batalha,
A lenha que alimenta a vida da fogueira....
E Huss, que se estorce em ânsia derradeira,
Levanta para o céu os olhos da agonia
E diz - Eu te perdôo... Depois a cinza esfria...
O esquecimento é um antro em que baqueia a glória,
Mas esta sombra enorme errante pela história
Recorda a cada instante e lembra a todos nós
O nome desse herói, as chamas e o algoz!
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