A IGREJA É HIPÓCRITA POR CONDENAR A HOMOSSEXUALIDADE E NÃO O DIVÓRCIO?
Por
Kevin DeYoung
Não é hipocrisia da parte dos
cristãos que eles protestem tão ruidosamente sobre a homossexualidade quando o
problema real do casamento nas nossas igrejas é o divórcio? Ao longo de muitos
anos debatendo essas questões em minha própria denominação, frequentemente me
deparei com a réplica do divórcio: “É fácil para você implicar com a
homossexualidade porque esse é o problema na sua igreja. Mas você não segue os
seus próprios princípios. Se você seguisse, estaria falando a respeito do
divórcio, visto que esse é o maior problema nas igrejas conservadoras”.
Uma
cortina de fumaça
Quando se trata de debater
homossexualidade entre cristãos, a questão do divórcio é tanto uma cortina de
fumaça quanto um incêndio. É uma cortina de fumaça porque as duas questões —
divórcio e homossexualidade — estão longe de serem idênticas.
Para começar, não
existem grupos em nossas denominações cuja razão de existência seja a
celebração do divórcio. As pessoas não estão advogando por novas políticas nas
nossas igrejas que afirmam o bem intrínseco do divórcio. Conservadores, na
cultura e na igreja, continuam falando sobre homossexualidade porque essa é a
linha de falha no momento. Nós adoraríamos conversar (e nós conversamos) sobre
como ter um casamento saudável. A propósito, nós adoraríamos gastar todo o
nosso tempo falando sobre a glória da Trindade, mas a batalha no momento (pelo
menos uma delas) é quanto a homossexualidade. Então não podemos nos silenciar
nessa questão.
O que também é
muito importante, a proibição bíblica do divórcio explicitamente permite
exceções; a proibição contra a homossexualidade não. A posição protestante
tradicional, conforme afirmado na Confissão de Fé de Westminster, por exemplo,
mantém que o divórcio é permissível com base em infidelidade conjugal ou a deserção
de um cônjuge incrédulo (CFW 24.5-6). Embora a verdade seja que a aplicação
desses princípios é difícil e a questão do recasamento após o divórcio fica
ainda mais complicada, mas quase todos os protestantes sempre consideraram que
o divórcio às vezes é aceitável. Em outras palavras, homossexualidade e
divórcio são questões diferentes porque, de acordo com a Bíblia e a tradição
cristã, aquela sempre está errada, enquanto esta não.
Por fim, o
argumento “e quanto ao divórcio?” não é tão bom quanto parece, porque muitas de
nossas igrejas levam o divórcio seriamente. Sei que muitas igrejas não o fazem
(falarei mais sobre isso daqui a pouco). Mas muitas das mesmas igrejas que se
pronunciam contra a homossexualidade também se pronunciam contra o divórcio ilegítimo.
Eu preguei sobre divórcio diversas vezes, incluindo um sermão de alguns anos
atrás intitulado “What Did Jesus Think of Divorce and Remarriage?” (“O Que
Jesus Pensava Sobre Divórcio e Recasamento?”) Eu já falei mais sobre
homossexualidade na blogosfera porque existe uma controvérsia em torno do
assunto na cultura e na igreja em geral. Mas eu nunca me esquivei de falar
sobre divórcio. Eu levo a sério tudo o que a Confissão de Fé de Westminster diz
sobre casamento. O casamento deve ser entre um homem e uma mulher (CFW 24.1). É
dever dos cristãos casar apenas no Senhor (CFW 24.3). Apenas adultério e
deserção obstinada são bases para o divórcio (CFW 24.6).
Como conselho de
presbíteros, nós tratamos essas questões com a seriedade que elas merecem. Nós
pedimos a novos membros que se divorciaram que expliquem a natureza do divórcio
e (se aplicável) o recasamento. Isso já resultou em ocasiões de potenciais
novos membros abandonarem a nossa igreja. A maioria dos casos de disciplina que
encontramos como presbíteros têm sido sobre divórcio. A maioria das crises de
cuidado pastoral em que nos envolvemos têm se tratado de casamentos que
fracassaram ou estão fracassando. Nossa igreja, como muitas outras, levam a
sério todo tipo de pecado, incluindo o divórcio ilegítimo. Nós nem sempre
sabemos como lidar com cada situação, mas posso dizer com a consciência
completamente limpa que nunca fizemos vista grossa ao divórcio.
E,
indubitavelmente, um incêndio
Tendo dito tudo isso, é
indubitável que muitos evangélicos têm sido negligentes ao lidar com o divórcio
ilegítimo e o recasamento. Pastores não têm pregado sobre o assunto por medo de
ofender um grande número de seus membros. Os conselhos de presbíteros não têm
praticado a disciplina eclesiástica naqueles que pecam nessa área porque, bom,
eles quase nunca praticam a disciplina. Conselheiros, amigos e pequenos grupos
não se envolveram a tempo de fazer uma diferença em situações de pré-divórcio.
Advogados cristãos não pensaram sobre sua responsabilidade em encorajar a
reconciliação conjugal. Líderes de igreja não ajudaram seus membros a entender
o ensino de Deus sobre a santidade do casamento, e não ajudamos aqueles
erroneamente recasados a experimentar o perdão por seus erros passados.
Então sim, temos
cristãos com traves nos olhos entre nós. A igreja evangélica, em muitos
lugares, desistiu e cedeu à pressão do divórcio e do casamento. Mas a solução
para essa negligência não é mais negligência. A cura lenta e dolorosa é mais
exposição bíblica, mais cuidado pastoral ativo, mais uso fiel da disciplina,
mais aconselhamento impregnado pela Palavra e mais oração — pelo divórcio
ilegítimo, pelo comportamento homossexual e por todos os outros pecados que são
mais facilmente tolerados do que confrontados.
Extraido Site
Editora Fiel
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